terça-feira, 2 de abril de 2024

O PALÁCIO MONROE

 

O Palácio Monroe
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_Monroe

    Para celebrar os cem anos de aquisição dos territórios da Nova França da América do Norte (Luisiana), os Estados Unidos promoveram a Exposição Universal de 1904 na cidade de Saint Louis (no estado do Missouri). Muitos países, dentre eles o Brasil, foram convidados a participar daquela que seria a 18ª Exposição Universal. Até então, as seguintes Exposições Universais, nos respectivos anos mencionados, haviam sido realizadas*: Londres (1851, 1862), Paris (1855, 1867, 1878, 1889, 1900), Porto (1865), Viena (1873), Filadélfia (1876), Sydney (1879), Melbourne (1880), Nova Orleans (1884), Barcelona (1888), Chicago (1893), Bruxelas (1897), e Buffalo (1901).

    Para sediar o pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Saint Louis, o engenheiro militar Francisco Marcelino de Sousa Aguiar projetou um palácio em estrutura metálica, o qual deveria ser montado no local da Exposição e, ao seu final, desmontado e remontado no Brasil. Na Exposição o Palácio foi um grande sucesso, chegando a vencer o principal prêmio de arquitetura.

Pavilhão do Brasil - Exposição Universal de Saint Louis - EUA
https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=6248

    Finda a Exposição, o Palácio foi desmontado - conforme previsto. Sua cúpula e as suas estruturas metálicas foram transportadas para serem remontadas na cidade do Rio de Janeiro, onde foi reinaugurado em 1906 para sediar a 3ª. Conferência Pan-Americana. Nessa ocasião, por sugestão de Joaquim Nabuco e do Barão do Rio Branco, o até então chamado Palácio de São Luiz foi renomeado "Palácio Monroe" - em homenagem ao presidente James Monroe, que governou os Estados Unidos de 1817 a 1825, e que, quando presidente, havia propagado a ideia de que fossem coibidas as interferências da Europa na América ("Doutrina Monroe" - "América para os americanos").

    Depois da 3ª. Conferência Pan-Americana, o Palácio Monroe sediou a Câmara dos Deputados de 1914 a 1922; o Senado Federal de 1925 a 1960, e o Tribunal Superior Eleitoral (1945 a 1946). Com a inauguração de Brasília, e consequentemente a transferência da sede do Senado para a Praça dos Três Poderes, o Palácio Monroe passou a ter a função de escritório de representação (do Senado). Alvo de críticas fundadas em ideias de progresso a partir daí, argumentava-se que o Palácio atrapalhava o trânsito, que ia contra as convenções estéticas da época, que impediria a construção de uma linha do metrô, e que acarretava muito gasto público. Assim, em 1975 o Senado devolveu o edifício ao governo federal, e, em 1976, o Palácio Monroe foi demolido. Atualmente, no local, há um chafariz e um estacionamento subterrâneo explorado por empresa privada.

Chafariz que ocupa local onde esteve o Palácio Monroe
https://oglobo.globo.com/cultura/filme-traz-visao-critica-sobre-demolicao-do-palacio-monroe-17742911

    O Palácio Monroe pode ser visto em fotos antigas (muitas delas pela Internet), na imagem do reverso da cédula de 200 réis emitida em 1919, e, por acaso, em uma breve cena tomada por helicóptero, no filme "Roberto Carlos em ritmo de aventura" (1968; Dir. Roberto Farias).

Palácio Monroe - Reverso da cédula de 200 mil reis (1919)
https://sterlingnumismatic.blogspot.com/2015/10/memorias-do-senado.html

    Aqui no Brasil, e em muitos outros países, edifícios ricos em valor artístico, histórico e arquitetônico foram e continuam a ser derrubados em nome da exploração imobiliária e do progresso. Parece até que a ideia de construção já vem diretamente ligada à da destruição - e não da preservação. Quando me deparo com ideias assim, fico pensando que esse pouco valor dado aos símbolos do nosso tempo traduz o descaso que se tem atribuído a tudo aquilo que construímos, e que constitui a nossa própria história... Particularmente carrego comigo uma certa cumplicidade com alguns edifícios que conheci, alguns onde vivi, e outros por onde passei; pois eles, resistindo ao tempo, conseguem guardar em si muito do menino que um dia fui. Sinto uma tremenda aflição quando, às vezes, penso que essas minhas preciosidades poderão, um dia, ser destruídas. Lima Barreto, ao comentar as transformações pelas quais passava a cidade do Rio de Janeiro no começo do século XX, disse que "(...) não se pode compreender uma cidade sem esses marcos de sua vida anterior, sem esses anais de pedra que contam a sua história"**... e eu, mergulhado nas ideias do grande escritor, vou refletindo e dizendo a mim mesmo: "não posso me compreender sem que possa revisitar, sempre que quiser, os "Palácios" de pedra que aprendi a gostar - e onde deixei um pouco de mim."

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*O Brasil organizou a Exposição Universal de 1922, no Rio, em comemoração aos 100 anos de independência do Brasil.

**Trecho da crônica "O convento", publicada na Gazeta da Tarde em 21/7/1911 - republicada em "Cronistas do Rio" - org. por Beatriz Resende - Autêntica Editora, 2017