quarta-feira, 21 de novembro de 2018

WILD IS THE WIND*


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Nina Simone - "Wild is the wind" - 1957 - de Tiomkin/Washington)
https://www.youtube.com/watch?v=LtVvcgjAaNg

     Dentre um incontável número de poderes mágicos, a música consegue retirar de nossas profundezas adormecidas fatos ou momentos que, um dia, nos foram importantes. Cada um tem, ao longo de sua própria existência, momentos assim, preciosos. É claro... uma música que, para um, ilustra uma recordação, é diferente daquela que o faz para outro - a não ser que a situação específica tenha sido vivenciada em conjunto - mas isso já é outra conversa.

     Lendo agora, nas redes sociais, postagens recentes de duas amigas que me foram muito próximas em fases de vida distintas, descobri que a voz e o canto da Nina Simone, em algum momento e por algum motivo, foram importantes para cada uma delas, separadamente.

New Release: Nina Simone, THE COLPIX SINGLES
Nina Simone
https://www.rhino.com/article/new-release-nina-simone-the-colpix-singles


     A Nina Simone (1933-2003), apesar de ter estudado piano clássico, transitou por diversos estilos musicais - blues, pop, folk, canções francesas, cânticos africanos... Há, inclusive, em seu repertório, uma bela gravação de "Feelings" - do brasileiro Morris Albert. Tendo definido a si mesma como "rebelde", Nina Simone, pela música, engajou-se nas lutas pela emancipação feminina e pelos direitos civis dos afro-americanos.

     No entanto, pelas postagens que vi, a Nina Simone de minhas amigas não é a ativista de "Mississippi Goddam" ou de "Why (the king of love is dead)". Para elas, a Nina é simplesmente a mulher fora de padrão... a intérprete de "I put a spell on you" e "Don't let me be misunderstood".   

     Desejando que essas minhas amigas estejam bem, e lembrando-me delas com o mesmo carinho e consideração que por elas sempre tive, busco algo forte e suave, da Nina Simone, para poder ouvir calado. Começo por sua gravação de "Wild is the wind". Coloco essa mesma música para tocar continuamente ao longo das horas que vão se passando. Não me canso de ouvi-la, de repeti-la, diversas vezes seguidas... 

     Tenho também momentos assim, inesquecíveis. Dou-me conta de que "Wild is the wind", na voz da Nina Simone, em outros tempos, embalou alguns dos que me foram muito especiais. Especiais de tal forma que, a cada vez que a ouço, vejo despertar o que ficou parado lá atrás, esquecido no tempo, aguardando pacientemente para despertar, com muita vitalidade, a partir de um cantinho escuro do meu baú de memórias... 




Wild Is the Wind

Love me love me love me
Say you do
Let me fly away
with you
For my love is like
the wind
And wild is the wind

Give me more
than one caress
Satisfy this
hungriness
Let the wind
blow through your heart
For wild is the wind

You...
touch me...
I hear the sound
of mandolins
You...
kiss me...
With your kiss
my life begins
You're spring to me
All things
to me

Don't you know you're
life itself
Like a leaf clings
to a tree
Oh my darling,
cling to me
For we're creatures
of the wind
And wild is the wind
So wild is the wind

Wild is the wind
Wild is the wind
O Vento É Selvagem

Me ame, me ame, me ame
Diga que me ama
Me deixe voar pra longe
Com você
Porque meu amor
É como o vento
E o vento é selvagem

Dê-me mais
Do que só uma carícia
Satisfaça essa
Avidez
Deixe o vento
Soprar em seu coração
Porque o vento é selvagem

Você...
Me toca...
E eu ouço sons
De bandolins
Você...
Me beija...
E com o seu beijo
Começo a viver
Você para mim é a primavera
É todas as coisas
Para mim

Você não sabe que você
É a vida em si?
Como uma folha se prende
À árvore
Oh, meu amor
Se prenda em mim
Porque somos criaturas
Do vento
E o vento é selvagem
O vento é selvagem

O vento é selvagem
O vento é selvagem

_________________________________
*Wild is the wind" (o vento é selvagem) - Música composta por Dimitri Tiomkin e Ned Washington. Da trilha sonora do filme, de 1957, com o mesmo nome, dirigido por George Cukor ("Fúria da Carne", no Brasil).

domingo, 4 de novembro de 2018

JANELAS ABERTAS


CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ
Gal Costa - "Janelas Abertas" (Tom e Vinícius)
https://www.youtube.com/watch?v=447QE2yVQg0


"Eu poderia ficar sempre assim,
como uma casa sombria,
uma casa vazia, sem luz nem calor.
Mas, quero as janelas abrir (...)"
(Vinícius de Moraes)


     Distante, muito distante, encerro-me em um pequeno quarto de hotel. Nada trouxe na bagagem, além do que me é estritamente necessário: a lembrança de dias felizes, a saudade de meus mortos queridos, o sentimento de gratidão pela vida, alguns conselhos, projetos que deixei de lado...

     Junto à parede interna do quarto há uma pequena cama de solteiro. Vestida do algodão branco do lençol que a cobre, e do travesseiro, não muito alto, acomodado em sua cabeceira, ela oferece o seu conforto para o repouso do meu corpo. Ao seu lado, um criado-mudo sustenta um delicado abajur para minimizar a escuridão da noite. O guarda-roupa, embutido na parede, tem o tamanho ideal para que não haja desperdício de espaço. Rente à janela, uma mesinha de madeira com uma cadeira é tudo do que preciso, para dar pouso aos meus cotovelos nas minhas horas de inspiração.

Файл:Camera da Letto Vincent van Gogh.jpg
Van Gogh - "Quarto em Arles" (1888)
https://ru.wikipedia.org/wiki/%D0%A4%D0%B0%D0%B9%D0%BB:Camera_da_Letto_Vincent_van_Gogh.jpg

     Essa simplicidade me faz feliz... e, momentaneamente, completa-me.

     Mas, para que o ar possa circular pelo quarto, por detrás da cortina uma janela deve ser aberta. Quando destravo seus trincos, o céu, o sol, as cores e as vozes da natureza ocupam o ambiente. E o pequeno quarto, feito uma nave, preenchido por tanta beleza, leva-me para longe, para bem longe... para muito além das suas paredes...

CLIQUE (2X) NA SETA
Laguna, SC 
Video: arq. pessoal (2014)