sexta-feira, 9 de setembro de 2011

DEAR QUEEN: HERE WE GO !!


 ("Mull of Kintyre" - Paul McCartney - 1977)

Tem sido com muito entusiasmo e envolvimento que tenho me preparado, na qualidade de líder de um grupo de profissionais mais jovens, para participar do programa de Intercâmbio de Grupo de Estudos (IGE). O programa será desenvolvido no Reino Unido - mais especificamente na Inglaterra -, e terá a duração de um mês contado a partir do dia nove de setembro.

Nesse período seremos recebidos pelo Distrito 1030 do Reino Unido. Esse Distrito abrange uma área territorial no extremo Norte da Inglaterra, muito perto da Escócia, e compreende clubes da Grã Bretanha e Irlanda.

No período em que estivermos participando do Programa, a cidade inglesa de Newcastle-upon-Tyne será uma espécie de “comando central” de todas as nossas atividades. Pelo que sabemos, essa cidade prosperou e ficou conhecida por sua indústria de construção naval e de mineração de carvão. Hoje, a cidade é famosa pelas atrações de sua herança industrial e pelos projetos de reurbanização.

Pois partindo de RP no dia nove de setembro, chegaremos em Newcastle no dia dez. Já com toda programação elaborada pelos companheiros ingleses, cidade por cidade, período por período de cada dia, os locais que iremos visitar, a duração de  cada visita, os nomes, endereços e telefones dos r. que nos hospedarão, nosso Grupo partirá para iniciar o Programa já sabendo, inclusive, o que nos será servido no jantar do dia quatro de outubro em uma reunião - pois o cardápio já nos foi enviado para fazermos nossas opções! Tudo exatamente como temos guardado em nosso imaginário em relação aos ingleses: “all planned and perfect!”

 Pelo programa que recebemos, nosso Grupo será hóspede de seis R Clubs diferentes, em períodos diferentes, e em diferentes cidades da Inglaterra. São eles: R Club of Tyneside, RC of Stokesley, RC of Newton Aycliffe, RC of Seaburn, RC of Tynedale, RC of Berwick-upon-Tweed.

Do dia 16 ao dia 18 de setembro, inclusive, participaremos da Conferência Distrital comemorativa dos cem anos do Distrito 1030, a qual será realizada na cidade histórica de York. Nessa Conferência, teremos a responsabilidade de apresentar nosso Distrito, nossas atividades, e o nosso país. E é com muito orgulho e senso de responsabilidade que o faremos. Afinal, se por um lado temos a possibilidade de aprender muito do que é a Inglaterra e seu povo, por outro lado levamos em nossa bagagem um país alegre, rico culturalmente e por natureza, aberto para o convívio de todas as culturas e raças.

Dentro do programa há também a programação de uma estada de dois dias na cidade de Londres. Certamente com isso poderemos conhecer a dinâmica da capital inglesa com todas as suas características, tendo ao lado companheiros anfitriões envolvidos e comprometidos exemplarmente com os ideais do R. e de sua Fundação.

É, portanto, uma honra e uma responsabilidade muito grande essa de, juntamente com os Membros selecionados, representar nosso Distrito. Tenho a noção do que tudo isso representa, e do elevadíssimo grau de comprometimento e envolvimento que o programa requer.

Com o forte desejo de representarmos bem nosso Distrito – e, por conseguinte, nosso país -, eu e os Membros do IGE-Inglaterra partimos querendo observar, aprender, respeitar e compartilhar com muita gratidão tudo o que desde já nos está sendo oferecido para, quando regressarmos, podermos transmitir o resultado desse período aos nossos companheiros do Distrito 4540.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA: MINHAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA CIDADE DO MÉXICO - VI


("La Adelita" - louvando a participação da mulher na revolução mexicana)

Benito Juarez, Emiliano Zapata, Pancho Villa, Francisco Madero, Porfirio Diaz, e tantos outros nomes sempre foram para mim personagens de livros de História e das telas de cinema. Um belo dia, caminhando por uma estação de metrô, me dou conta de seu nome: “ZAPATA”. Há gente por todo lado, numa movimentação nervosa de cidade grande. Afasto-me um pouco da multidão, encosto-me em um canto qualquer, e me detenho a observar aquela agitação toda. Sem querer sou levado em pensamento à entrada do único cinema de Guará – o “Cine Guará” -, em meados dos anos 60 nas matinês de domingo, quando havia troca de gibis entre toda a meninada: Mandrake, Fantasma, Luluzinha, Capitão Marvel, Tio Patinhas, Zorro, Príncipe Valente e muitos outros. Pois foi no Cine Guará que pela primeira vez assisti “Viva Zapata”, filme de 1953 dirigido por Elia Kazan, que conta a história de Emiliano Zapata -  líder da revolução dos lavradores mexicanos contra a dominação dos grandes proprietários de terras que haviam tomado as terras dos camponeses.

Seguindo pelas estações, mais a frente, observo as imagens que ilustram seus nomes. Chego à Estación Juarez. Homenagem a Benito Juarez, estadista liberal mexicano que resistiu à ocupação francesa, derrubou o imperador Maximiliano, e restabeleceu a república: é lembrado como o maior e mais amado líder mexicano.

        Movido por essas histórias e esses meus pensamentos, dedico minha tarde a visitar o Museu Nacional de História, no Bosque de Chapultepec, do outro lado do Museu de Antropologia. Chego ali depois de passar pelo Monumento aos Meninos Heróis.

("Monumento aos Meninos Herois" - arq. pessoal)

É início de uma tarde de quarta-feira e o local está movimentadíssimo. O Palácio Nacional – que é o prédio onde está o Museu - foi construído no topo de um morro de onde se pode ver, além do Monumento aos Meninos Heróis, uma boa parte da Cidade do México.

(Vista da cidade, a partir do Palácio Nacional - arq. pessoal)

Esse Palácio foi inicialmente uma mansão de repouso, em seguida adaptado para sede militar, e depois residência oficial de vários presidentes republicanos - inclusive do imperador Maximiliano. Por fim, tornou-se o Museu Nacional de História em 1944. 

 


(vista da entrada do Palácio - arq. pessoal)


         Chegando ali minha ansiedade era muito grande para conhecer tudo. Iniciei meu passeio pelas salas onde estão as carruagens de Maximiliano e Benito Juarez - este, que exerceu grande parte de seu governo republicano dentro dessa carruagem.

(Carruagem de Benito Juarez - arq. pessoal)
       
        Passado o hall de entrada com as carruagens, o acesso à parte superior do Palácio é por uma escadaria com murais que ilustram a História do México.




 (Escadaria de acesso ao piso superior, com murais da História do México)

Das escadarias pode-se ver nas paredes também, além de outros, dois murais de Antonio González Orozco ilustrando a entrada triunfal de Benito Juarez no Palácio Nacional acompanhado de seu gabinete.



(Mural superior: entrada de Benito Juarez; Mural inferior: combatendo as forças francesas)


        Internamente, as salas são majestosas: sala de leituras do imperador Maximiliano, sala de jogos dos governantes que ali moraram, sala de reuniões de sobremesa e “fumódromo”, sala de jantar, sala de retratos, salão de chá e muitas outras salas. No piso superior, belíssimos são os vitrais que mostram as elegantes figuras de cinco deusas que encarnam na mitologia os atributos femininos. 



 (Vitrais com deusas da fertilidade - arq. pessoal)

        Na parte mais alta do Palácio está o Jardim de Alcazar, local predileto do imperador Maximiliano quando ali viveu.

(Jardim do Palácio - Alcazar - arq. pessoal)

        É, enfim, um lugar maravilhoso. Da sacada do Palácio, o que se vê é de grande beleza.

(Vista a partir de uma sacada do Palácio - arq. pessoal)

 Ao passar por aquele edifício, a imagem que me veio foi a do momento em que o então humilde povo mexicano, sustentando a república, depara-se com a imponência do Palácio e aprisiona o imperador Maximiliano. Ao mesmo tempo, a imponência do Palácio com a visão de uma capital pela frente contrasta-se com a porta de entrada do Cine Guará: adentrá-lo significava correr o mundo pela tela de um cinema. Foi ali que, em “Viva Zapata”, pela primeira vez, vi esse Palácio – hoje o Museu Nacional de História.

        Saí do Museu já no final da tarde carregado de personagens e histórias. Caminhando vagarosamente pelo enorme e movimentado Bosque de Chapultepec, comprei um saquinho de pipoca e, comendo, segui pensando na grandeza das coisas construídas pelo homem, suas histórias, seus feitos, sua ambição de poder... Mas pensei também na grandeza maior ainda existente nos homens que, sem construir edifícios materiais, erguem templos às virtudes e dedicam-se às causas que beneficiam e dignificam um povo todo - e que, porisso, merecem ser eternizados.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

EM NOME DO PAI E DO FILHO

(Piero - "Mi Viejo" - 1969)

De junho para cá meu carro apresentou problemas. Impossibilitado de escapar dessa realidade fui à oficina do “Seu” Pedro - um senhor calvo, uns sessenta anos, baixinho e sorridente - “meu” mecânico há muitos anos.

Orçamento apresentado e sem muita argumentação da minha parte, aprovei o serviço na certeza de que o carro ficaria “tinindo” - conforme ele costuma dizer.

        Dois dias depois o carro estava pronto, mas com a recomendação de que eu ficasse de olho no reservatório de água: se o volume diminuísse, seria necessário realizar outro serviço. Não deu outra: era só parar para abastecer que o frentista me alertava: “precisa completar a água”.

        Levei o carro de volta ao Seu Pedro e ele, com a firmeza de general, me falou: “Eu não disse? Temos que fazer a retífica da peça, trocar a vedação, perepepê, perepepê...”.

Conformado com a história, e já prevendo um novo gasto, deixei novamente o carro com ele. Voltei para buscá-lo dois dias depois com outros setecentos reais a menos no meu bolso.

“Tem garantia!”, disse-me ele.

“Paciência”, pensei, “carro é assim mesmo...”

        Conforme utilizava o carro eu sentia um cheiro de queimado cada vez mais forte vindo do motor. Fui cuidando do nível de água até que o medo do carro pegar fogo falou mais alto: Levei o carro novamente na oficina.

        Contudo não engoli dessa vez os argumentos do Seu Pedro, e contra argumentei com muita objetividade:

“Quero esse carro hoje, e sem enrolação. Não tenho mais “saco” de vir aqui toda semana”.

Ao perceber o blá blá blá que não tinha fim (e um aparelhinho de surdez no ouvido dele), vociferei mais alto ainda, com o dedo em riste, exigindo o serviço bem feito.

        Sem mais o que dizer e me vendo bravo daquele jeito, ele, envergonhado e incomodado pelo serviço que teria que ser refeito, pediu para um funcionário da oficina levar-me de volta ao meu escritório.

        Percebi que o rapazinho no carro comigo – Daniel -, que havia observado tudo, era filho do Seu Pedro e parecia estar chateado. Naquele momento pensei no meu filho e nas questões que envolvem o relacionamento entre pais e filhos. Coloquei-me no lugar do Seu Pedro e me lembrei de todas as outras vezes que ele me atendeu prontamente no conserto de carros. Imaginei o meu filho observando alguém falar alto comigo, exigindo que eu cumprisse o meu dever. Alguma coisa me dizia que eu havia exagerado no meu desabafo...

Dizem os livros que nessa fase da vida do Daniel – e do meu filho -, vinte anos de idade, o pai é tudo o que o filho não quer ser. Somei a isso o desconforto do Seu Pedro levando uma bronca minha sob os olhares do seu filho. Pensei também na vida familiar dos dois, Seu Pedro e Daniel. Vi em mente ambos sentados à mesa do jantar prestes a comentarem os acontecimentos do dia. Vi também o Seu Pedro cabisbaixo, sem jeito de “tocar no assunto”. Pensei na dificuldade que ele poderia ter para dialogar com seu filho, e em como poderia estar se sentindo pequeno.

Incomodado com esses pensamentos, e sem que eu notasse, senti meu coração expor suas razões: disse ao Daniel que gostava muito do pai dele – que de fato gosto -, que o admirava como bom profissional que sempre foi, que ele cuidava do meu carro havia muitos anos, e que problemas assim acontecem mesmo... Que, por fim, ele poderia admirar seu pai, sua dedicação, e seu trabalho.

        Chegando ao meu escritório meio angustiado com essa história, peguei o telefone e liguei sem motivo aparente para o meu filho. O simples fato de ouvi-lo sorrir e me chamar de “pai” ao responder meu telefonema serviu para eu me sentir um pouco menos desconfortável...

        Hoje o Seu Pedro me trouxe o carro. Não comentamos nada do nosso último “encontro”. Não cobrou nada. Na hora de ir embora olhou para mim e disse:

“Agora o carro está ‘tinindo’!

Ambos sorrimos um para o outro, e eu lhe respondi:

“’Tinindo’ nada. Parece que dessa vez ‘tinindo’ é pouco!”.