segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O QUINZE DE SETEMBRO E OS PILARES DA MINHA TERRA




                                                         QUO NON ASCENDAM ? 
                                                                       (Até onde chegarei?)
                                                         (inscrição no Brasão de Armas de Guará, SP)

 

 ("Brasão de Armas" - Guará, SP -
 fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%A3o_de_Guar%C3%A1 )


     15 de setembro é o dia de aniversário de fundação de Guará, minha terra natal. Desde que saí de lá para a universidade não sei como foi nem como tem sido comemorado esse dia. Lembro-me que havia um desfile escolar, jogos de futebol, gincana cultural. Às vezes as comemorações estendiam-se por alguns dias e a cidade embelezava-se toda para aniversariar...

     No ano de 1991, durante as festividades de aniversário da cidade, recebi da Prefeitura Municipal um convite para participar da cerimônia de descerramento de uma placa que atribuia o nome de um dos meus tios a uma escola. E lá estive eu.  
 



 
(Convite recebido - arq. pessoal)


     Olhando hoje o convite, fiquei me lembrando desse meu tio e das pessoas com quem conversei naquela noite durante a cerimônia.

     Meu tio era um intelectual e sonhador. Gostava muito de Guará; falava de Guará com paixão. Queria que o município oferecesse oportunidades de desenvolvimento e de cultura para toda a sua população. Vivia  inserindo e inspirando raciocínio crítico, educação, música, literatura, administração pública e participação política em todas as pessoas com quem conversava. Estar com ele era receber estímulos de conhecimento. Penso que foi justamente por ele ter sido assim que o Município decidiu atribuir a uma instituição educacional o seu nome: Náufal Antônio Mourani. Ele passaria a ser então, formalmente, uma referência para a população de Guará. 

     Durante a cerimônia, ao meu lado, o Sr. N. – um dos guaraenses mais respeitados -  dizia repetidas vezes que o Município fazia justiça a um grande pensador; que seu exemplo de bom guaraense precisava ser lembrado por todas as gerações. A professora C. cumprimentou-me dizendo que sentia muito orgulho de ter conhecido pessoalmente o Dr. Náufal, e que podia falar com propriedade a seu respeito para seus alunos; o Dr. J. aproximou-se de mim para me dizer que havia abraçado a advocacia em virtude dos ensinamentos recebidos do Dr. Náufal. Mas veio do B. o depoimento mais emocionado que ouvi: contou-me ele que, ainda jovem, lamentando sua condição econômica, foi alertado pelo Dr. Náufal que, em nossa cidade, vivíamos todos modestamente, mas que a verdadeira pobreza não era a material, mas sim a ignorância, a ausência de pensamento crítico e a omissão – e completou sua história dizendo-me que foi do Dr. Náufal que conseguiu recursos para que pudesse tornar-se professor universitário.

 (Escola Municipal Dr. Náufal Antônio Mourani - entrada - fonte: foto escaneada de "Guará - terra do sol", livro organizado por Leila Miria de Oliveira, Ed. Noovha America, 2006)

     Na última vez que estive em Guará passei em frente à escola. Não vi ali o seu nome, nem tampouco o do Dr. Náufal. No prédio funcionava um “Centro Comunitário”. Contentei-me em ver que a Administração Municipal, pela solidariedade, tem se preocupado com a população de Guará!

 ("Centro Comunitário" - foto: arq. pessoal, 2012)

     Mas, mesmo contente com o "Centro Comunitário", não consegui deixar de pensar: além de estar nas lembranças de quem o conheceu, por onde anda o nome do Dr. Náufal? Onde está instalada a escola? Quais cursos oferece? Quantos alunos tem? Quem são os professores? 

     As referências são sempre fundamentais para a nossa formação e para os que virão depois de nós. Como enche de encanto e orgulho, para Diamantina (MG), o nome Juscelino Kubitschek!; Getúlio Vargas para São Borja (RS)!; Arthur Bernardes para Viçosa (MG)!; Antônio Diederichsen e Zeferino Vaz para Ribeirão Preto (SP)!; Cândido Portinari para Brodowski (SP)!; Zequinha de Abreu para Santa Rita do Passa Quatro (SP)!...!! E o que significa trafegar pelas ruas e rodovias Tiradentes, Prudente de Moraes, D. Pedro I, Ayrthon Senna? Não são nomes quaisquer! São todos referências! O que todos representam ? o que nos inspiram ?

     Pois como guaraense também sou tomado de encanto e orgulho pelas minhas referências quando, estando lá, vejo estampado nas paredes o nome das escolas Nehif Antônio, Arthur Afonso Bini, Urbano Junqueira, Helena Telles Furtado! Quantos exemplos bons tenho ao rever em placas, paredes e muros nomes como Hassan Jorge Mourani, Dr. Francisco de Paula Leão, Américo Migliori, Dr. Jair de Paula Ribeiro, Rubens Siqueira Martins, Massuo Nakano - nomes atribuídos a escolas, ruas, bairros, e edifícios públicos de minha terra!

     A simples lembrança dos nomes de cidadãos-referências, em suas respectivas comunidades, aliado  ao conhecimento de seus feitos e exemplos, já são suficientes para nos orgulharmos, renovarmos nossas esperanças e energias para exercermos a cidadania com maior entusiasmo. 

     Penso que todas as comunidades e cada um de nós, individualmente, precisa de exemplos e de referências. Numa época em que tudo é descartável, em que pouco importa o valor das coisas, em que o preço e o imediatismo de resultados é o que conta, mais do que nunca é necessário espalharmos e propagarmos os bons exemplos e referências que temos  para podermos erguer nossas cabeças, cuidarmos da nossa autoestima e da nossa edificação interior. Afinal, quem se lembrará dos edificadores de nossas comunidades se os seus nomes e seus feitos ficarem escondidos ou forem apagados da memória, dos muros e das placas, pela poeira do tempo...? 
 

                                           (Dr. Náufal Antônio Mourani - foto: arq. de família)
 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SETE DE SETEMBRO



("Aquarela Brasileira", de Silas de Oliveira - por Martinho da Vila)

                                                                umas palavrinhas simples sobre o Brasil,
                                                                o meu país.




CANTO DE AMOR E GLÓRIA PELA MINHA PÁTRIA,
PATRIAZINHA TÃO QUERIDA...
QUE RECEBE E SEMPRE RECEBEU
COM SOL, OPORTUNIDADES E BRAÇOS ABERTOS

TODOS OS QUE AQUI CHEGAM E SEMPRE CHEGARAM...

MINHA PÁTRIA QUE NOS FAZ RENASCER A CADA DIA
E QUE POR SI SÓ SE RESSUSCITA
PELO QUE OFERECE E SIGNIFICA PARA O MUNDO TODO...

... MAS QUE TAMBÉM PEDE
PARA QUE OLHEMOS MELHOR POR ELA,
E QUE DELA NOS ORGULHEMOS
COM O CORAÇÃO
SINCERAMENTE
PULSANDO FORTE
DE EMOÇÃO.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

VIAGEM AO MUNDO DA LUA


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR
OUÇA COM ATENÇÃO ANTES DE LER O TEXTO)
 
           ("Lunik 9", de Gilberto Gil, 1967)


“Poetas, seresteiros, namorados, correi!
É chegada a hora de escrever e cantar.
Talvez as derradeiras noites de luar"
(Gilberto Gil)  


     Eu tinha pouco mais de dez anos quando o homem pisou na lua pela primeira vez. Apesar da grande distância no tempo, lembro-me bem daquela noite: passei longas horas no portão de casa olhando para o céu... esperando... Estava com os nomes dos três astronautas norte-americanos, tripulantes da "Apollo Onze", gravados na mente. Mas eu não estava tranquilo. Tinha medo. Medo da escuridão que poderia resultar daquela ousadia; medo de um desarranjo generalizado no nosso planeta; medo do fim do mundo.

     Nessa época eu passava muitas tardes datilografando textos e ouvindo discos no escritório do meu tio Náufal. “Lunik 9”, do disco “Louvação” do Gilberto Gil (1967), era uma das músicas mais frequentes. Composta ainda sob o impacto do pouso da primeira sonda soviética na lua em 1959, e pela possibilidade do homem pisar em solo lunar nos anos seguintes, foi "Lunik 9" a responsável por inúmeras imagens atormentadoras que fantasiei.

     Era tempo da "guerra fria"; disputava-se, inclusive, a posse do desconhecido mundo lunar. Enquanto isso o Gilberto Gil ponderava. Dividido, aplaudia a ciência e hesitava entre a exploração, o encantamento, a incerteza e o medo.

     Temendo pela possibilidade de desaparecimento definitivo do luar, Gil, em “Lunik 9”, conclamava os poetas, seresteiros e namorados a cultuarem as noites enluaradas:

"Poetas, seresteiros, namorados, correi!
É chegada a hora de escrever e cantar;
Talvez as derradeiras noites de luar."


     Sem saber onde o início da conquista do espaço ia dar, o Gil refletia e também me fazia refletir:

"Talvez não tenha mais luar
Prá clarear minha canção.
O que será do verso sem luar?
O que será do mar, da flor, do violão?"

     Na conclusão, com a lucidez do homem em sua pequenez diante da imensidão do espaço infinito, o Gil concluía:

"Tenho pensado tanto, mas nem sei..."
     Esse nem sei do Gil doía, era torturante: retratava a ignorância humana diante dos mistérios do universo... 

     E ali no portão de casa, enquanto eu olhava para a lua, ficava pensando na última frase da letra da música:

"Talvez as derradeiras noites de luar..."

     Sofrendo assim com a mensagem de “Lunik 9” e a perspectiva de fim do mundo na minha cabeça, entrei em casa. Diante da TV meu pai, minha mãe, e minha irmã acompanhavam as chamadas para a transmissão do pouso da "Apollo 11" em solo lunar. A minha ansiedade em saber das consequências do pouso era grande. A TV não ajudava muito; no som e na imagem vindos da tela predominavam os ruídos e "chuviscos" em preto e branco.

(CLIQUE NA SETA PARA ASSISTIR)
 (Video da chegada do homen na lua - 21/07/69 - fonte: youtube)

     Em algum momento entendemos que um astronauta (Armstrong) havia pisado na lua.


(Neil Armstrong - fonte: aerospaceguide.net)

     “Este é um pequeno passo para o homem; um salto gigantesco para a humanidade”: essas palavras ditas pelo Neil Armstrong, naquele momento, ecoam até hoje.

     Comovido, ouvi da rua alguém falando alto - e me preparei para o pior, para o início da destruição, para o fim do luar, para o “apagão” do mundo. Parecia que meus temores estavam indo da fantasia para a realidade: fui à janela e, puxando um pouco a cortina, olhei para fora. Não vi ninguém. Vi a noite calma, a calçada deserta, e a árvore guardiã diante de casa: o mundo, sob a perspectiva de um menino de cidade pequena em uma janela, estava em paz.

     Além da Edição Especial da revista “Realidade”, que trouxe uma foto do astronauta em solo lunar, guardei na mente o nome, a façanha e a aventura dos três heróis: Armstrong, Collins e Aldrin. Eles certamente carregaram aquele momento pelo resto de suas vidas. Mas eu carreguei também, por muitos anos, a consequência de sua expedição à lua: inspirado neles, nos três heróis, alimentei a ilusão do astronauta que um dia eu poderia ser... – até que tirei a cabeça do mundo da lua e vim pousar na realidade.

(Edição da Revista "Realidade" - fonte: emule.com)