Sábado, oito da noite. Acomodado no sofá da sala de estar fico olhando lá longe, através do vidro da porta. Observo as luzes acesas nos apartamentos dos prédios vizinhos e fico pensando em cada uma das pessoas que não vejo, mas que estão em cômodos iluminados por aquelas luzes. Haverá ali uma família que se reúne em torno de uma mesa para o jantar; haverá um casal de idosos assistindo um programa qualquer na televisão; haverá um jovem que se veste para um encontro especial; haverá um senhor que se banha cantando uma ária em voz alta; haverá uma mocinha que digita mensagens de amor em um microcomputador; haverá uma mãe preocupada com seu filho...
("É noite de sábado" - foto: arq. pessoal)
É noite de sábado e a cidade carrega consigo o pulsar de vida de seus habitantes.
Na sala recebo um abraço do meu filho que sai apressado para encontrar-se com seus amigos.
Lá em cima, por sobre nossas cabeças, por sobre os carros e prédios, a lua desfila na escuridão do céu, no claro desejo de chamar a atenção...
Em uma outra cidade - pequena -, na calçada de um bar e sob a luz do luar, em torno de uma mesa, reúne-se um grupo de amigos inspirados por um violão. O grupo cresce na proporção direta do aumento do número de garrafas de cerveja consumidas que vão sendo colocadas no chão... Aqueles que ali estão relembram seus amigos comuns e histórias passadas, relacionando cada amigo e cada história com um antigo lançamento musical que já não toca mais nas estações de rádio.
- "Talvez até eu mesmo seja personagem de alguma dessas histórias", penso eu aqui, distante, na ilusão de fazer parte do grupo sem estar ali presente.
E esse grupo, naquele bar, fazendo brindes a amigos ausentes, interpreta gravações esquecidas no tempo: "I started a joke", dos Bee Gees; "As tears go by", dos Rolling Stones; "The guitar man", do Bread; "Theres a kind of hush", dos Hermann's Hermmits; "In my life", dos Beatles; "The boxer", Simon & Garfunkel...
E eu aqui, movido por essas fantasias, me levanto do sofá, revejo cada membro desse grupo imaginário sentado em torno dessa mesa de bar também imaginária... e em homenagem a eles e a essa doce fantasia, ligo meu aparelho de CD e coloco prá tocar "Nights in White Satin" (1967), na interpretação do grupo britânico (já desfeito) "The Moody Blues"...
... e, ouvindo essa música, vou até a sacada do apartamento e fico olhando o luar...
P.S.: Dez e meia da noite. O telefone toca. Lá de longe, da cidade pequena, ouço a voz do meu amigo de sempre, o Daniel.
Ele me conta com euforia que estava em sua casa, que recebeu a visita do nosso amigo comum I. e, tomando cerveja juntos no quintal, relembraram algumas histórias minhas e algumas músicas de que gosto. E, com a mesma alegria de sempre, chama-me para estar lá no próximo sábado, para, junto com vários amigos comuns, celebrarmos a vida, nossos aniversários, a vida nova de sua filha, e o nascimento de seu primeiro neto - que chegará no final deste mês...
(Eu e o meu amigo de sempre - o Daniel - foto: arq. pessoal)