sábado, 23 de novembro de 2013

DAY AFTER DAY (COM OU SEM GRIPE)


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Badfinger - "Day after day", de Pete Ham - álbum "Straight Up", de 1971) 

Fui a uma reunião formal ontem à noite. Ao meu lado sentou-se um senhor que estava gripado, com a voz rouca, e espirrando muito... e eu não tinha como sair dali. 

- "Pronto", pensei... "Fodeu! vou pegar essa gripe"!

E passei a reunião toda testando minha garganta com a sensação de estar sendo invadido pelo vírus. Eu sei lá, mas achava que, tossindo, poderia estar combatendo e me livrando de todo aquele mal - pelo menos queria acreditar nisso.

Quando precisei falar algo, nem me ative para o seu conteúdo. Eu estava certo de que meu posicionamento naquele momento seria o menos importante, pois o que interessava mesmo era colocar para fora aquele tremendo mal que poderia estar querendo se instalar no meu corpo... e atrapalhar meus planos.

Ao vir embora prá casa, já de madrugada, coloquei prá tocar no carro uma coletânea de músicas. E vim cantando. Tomei o cuidado de deixar arreganhadas as janelas para ir me livrando do vírus que ia expelindo garganta à fora enquanto me esgoelava lá dentro... 

Em um determinado momento, no trajeto, entrou "Day after day" na sequência de músicas... Aumentei o volume e continuei cantando... mais forte e mais alto ainda, feito um adolescente... 

Antes de guardar o carro passei em frente de casa - um prédio de dez andares - umas três vezes. Tudo isso para poder ouvir repetidas vezes essa mesma música... Os moradores do meu prédio e dos prédios vizinhos que me perdoem pelo volume do som, mas confesso minha culpa - e espero que me compreendam.

E tudo isso porque no sábado vou estar com um grupo de amigos. Certamente vamos ouvir, cantar e tocar muita música boa. E "Day after day" é uma das que estará no repertório... 

Porisso solicito ao Tião e aos meus amigos que eventualmente venham a ler essa publicação que digam ao João, à Cláudia e ao Nanão, que ensaiem 'essa'... e que deem a letra em inglês 'pro' Zé Américo...".) 

Bom... Mas aí cheguei em casa. E a preocupação aumentou! 

- "Se não ficar gripado por causa da gripe daquele senhor, vou ficar gripado por causa do vento frio que me veio pela janela aberta do carro...", pensei.

- "Porque não segui as recomendações da minha mãe que sempre me orienta para que eu não tome gelado, não pise com os pés descalços no chão, e não fique exposto ao vento frio?"

- "Caraio!"

Antes de me deitar falei com a minha mulher a respeito da minha preocupação. Ela, sabiamente e clinicamente me acalmou:  

- "Fica frio, você não vai ficar gripado... tudo isso é só a sua expectativa para poder estar bem para encontrar seus amigos e poder cantar com eles"

Bom, as preocupações diminuíram... mas ainda precisam sumir. Preocupações tolas à parte, o importante mesmo é que no próximo final de semana, com gripe ou sem gripe, com vento ou sem vento, calçado ou de pés no chão, afinado ou desafinado, em algum lugar nesse mundo um grupo de amigos vai estar reunido, cantando e tocando um repertório com muita música boa... "Day after day", do grupo inglês "Badfinger", inclusive... 

- "E vai ser bom 'prá caraio'!"

(Nanão, Zé Américo, eu, João - 2012 - foto: arq. pessoal)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

DIA DA BANDEIRA



(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Hino à Bandeira Música de Francisco Braga; letra de Olavo Bilac - Violão: Marco Aurélio Monteiro - fonte: http://www.youtube.com/watch?v=s_Qd3qjQp08)



     Nas manhãs de sábado nos juntávamos em frente ao portão de entrada. Diretor, alunos, professores, funcionários, todos ali, de pé, aguardando em silêncio. Sem microfones ou caixas de som o diretor abria a cerimônia. Fazia seus cumprimentos, dizia algumas palavras relativas à nossa vida escolar, e convidava um de nós -  alunos - para proceder ao hasteamento da bandeira. 

     Na sequência cantávamos o Hino Nacional...
  
     Naquela hora, observando os gestos, a postura e o semblante dos meus  mestres de ginásio à minha frente, pensava nos valores que tanto eles quanto o hino e a bandeira nacionais me inspiravam...   


("Hino à Bandeira" - Eliseu Visconti, 1940
fonte: http://farm7.staticflickr.com/6059/6242085172_fe10893d8b_z.jpg)


     Depois, éramos convidados a nos dirigir às salas de aula... 

     - "O que me ficou disso tudo?", eu me pergunto.

     Não sei... Sempre acreditei que minha pátria é minha família, e que ela se encontra onde se encontra o meu coração...

     Mas hoje de manhã, ainda deitado, ouvi pelo rádio um locutor saudar a bandeira pelo seu dia:

"Bandeira do Brasil (...) inspira-nos, sempre, com tua divisa Ordem e Progresso, fonte asseguradora da fraternidade e da evolução, ideais supremos da humanidade na marcha infinita através dos séculos. E recebe (...) o compromisso de fidelidade no serviço dos supremos interesses do grande País, de que és Símbolo Augusto, pleno de generosidade e de nobreza."

      E após pronunciar essas palavras, com tanta emoção, pôs para tocar o Hino à Bandeira*.

Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.
(REFRÃO)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

(REFRÃO)

Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.

(REFRÃO)

Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre, sagrada bandeira,
Pavilhão de Justiça e do Amor!       
 
     Ouvindo esse hino e essas palavras serem ditas, pensei no país que ainda precisa ser construído... Lembrei-me dos meus mestres de pé em frente à escola, braços distendidos no prolongamento das pernas, alguns com a mão direita aberta no lado esquerdo do peito, o olhar no horizonte...

     E ao me lembrar dessas coisas fiquei com a sensação de estar ouvindo alguém a me dizer: 

     - "Vamos lá, meu caro, levante, faça a sua parte. Você também pode ajudar a construir o nosso país...

domingo, 10 de novembro de 2013

DOIS CEDROS TOMBARAM: UM NO LÍBANO, OUTRO AQUI


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
(Wadih el Safi)
https://www.youtube.com/watch?v=_S3RVhPBp2M



Foi-se Wadih El Safi*.
Casou-se no Brasil, onde viveu de 1947 a 1950.
Sua voz marcou o Líbano.
Ficou na lembrança dos que o ouviram,
ficou na vitrola da casa da minha avó.

Foi-se um admirável imigrante libanês.
Viveu em Guará, teve esposa, filhos, muitos amigos.
Deixou exemplos e histórias.
Levou sua alegria.

Antonio Abboud** foi morar, para sempre, na eternidade.


(Antonio Abboud - "Levou sua alegria" - foto: arq. pessoal/2012)

(Abboud e eu, em evento na AAG - foto: arq. pessoal/2012)

* Wadih El Safi - cantor libanês - faleceu em 11/10/2013
** Antonio Abboud - guaraense, faleceu em 06/11/2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SEIS DE NOVEMBRO


(Eu e Eduardo - minha formatura, em julho de 1982 - arq. pessoal)*

Pois é... seis de novembro... dia de um sujeito muito alegre e cheio de vida. Aniversário do meu primo Eduardo: "Eta cara bão!

Hoje, em algum lugar, um grupo de amigos e parentes estará reunido para celebrar o seu dia. Estou certo de que haverá música, cerveja e alegria.

Estarei presente também, em pensamento, nos votos de muitas felicidades e no grande abraço que envio a ele.

- 'Duardo, meu primo, um grande abraço!... a você, aos parentes, e aos seus companheiros da animadíssima "Turma do Bebel"! 

(Turma do Bebel - grupo cheio de vida, com o Eduardo na percussão) 

* Não é por causa do uísque e do Campari (cujas garrafas estão em nossas mãos) que a foto insistiu em ficar como ficou... mas única e exclusivamente porque foi escaneada assim e não consegui girá-la em 90 graus.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

RENASCER EM MARRAKECH


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ
LEIA DEVAGAR... PENSE NO QUE FOR LENDO)
(Handel - Sarabande)

"A arte de viajar é uma arte de admirar, uma arte de amar. É ir em peregrinação, participando intensamente de coisas, de fatos, de vidas com as quais nos correspondemos desde sempre e para sempre. É estar constantemente emocionado - e nem sempre alegre, mas, ao contrário, muitas vezes triste, de um sofrimento sem fim, porque a solidariedade humana custa, a cada um de nós, algum profundo despedaçamento."
(Cecília Meireles, na crônica "Uma hora em San Gimignano") 

     Imagine-se renascendo, encarando tudo pela primeira vez. Mas, com uma grande diferença: tendo a capacidade de observar, de raciocinar e de se submeter a transformações. 

     Pois foi assim que se colocou o escritor Elias Canetti*, conforme conta em seu livro de crônicas de viagem intitulado "As vozes de Marrakech"**. 

     Sem conhecer a língua, os costumes, os valores, a cultura; e ainda sem ter lido previamente manuais, guias, roteiros de viagens ou reportagens, ele foi parar em Marrakech, no Marrocos. Foi para lá com o intuito de observar e conhecer o efeito de uma realidade sobre si mesmo. E lá se instalou por algum tempo. 

(Mapa de Marrocos, noroeste da África - localização de Marrakech - http://www.quadrodemedalhas.com/olimpiadas/marrocos-jogos-olimpicos.htm)

     Em Marrakech caminhou pelas ruas, praças, becos e mercados. Mesmo que sujeito à incomunicabilidade, ele conta seus passeios por Djema el-Fna - uma grande praça local. 


(Djema el-Fna - fonte: http://www.voyagesphotosmanu.com/jemaa_el_fna_nacht.html)


     Ali, dentre muitas outras coisas, ele foi atraído pelos grunhidos constantes que ouvia de um "excluído" em meio a uma praça movimentada e barulhenta; deteve-se demoradamente diante de uma mulher que falava do alto de uma janela para uma multidão indiferente às suas palavras; parou diante de um cego para observá-lo mastigar um bagaço de laranja; e ouviu algo parecido com uma benção sendo proferido por um mendigo, também cego, que colocara uma moeda na boca para adivinhar seu valor.

(Canetti em Marrakech, em 1954
fonte: http://hupomnemata.blogspot.com.br/2009/08/as-vozes-de-marrakech-de-elias-canetti.html)

     Em uma das crônicas conta que sentiu-se ridículo ao caminhar por um cemitério onde nada se elevava acima do solo - simplesmente porque não havia ali como devanear. E concluiu esse raciocínio comparando aquele cemitério com cemitérios em outras partes do mundo onde há muitas coisas vivas - plantas, pássaros etc  - que garantem a alegria dos que vivem - pois que dentre tantos mortos, "sente-se reanimado e fortalecido" [com as manifestações de vida], diz ele.

     Engraçado que, enquanto lia essa crônica, lembrei-me de uma seringueira de tronco enorme bem em frente ao cemitério de minha terra natal. Talvez ela, especificamente naquele local, por capricho da natureza, sirva para dar vida aos pensamentos de quem a observa...

(O tronco e as raízes da seringueira - fonte: arq. pessoal)

     E quem se deixa expor a tanta coisa nova, na condição de observador, sente também que tem necessidade de um tempo consigo mesmo - necessidade que, na crônica "O silêncio na casa e o vazio dos terraços", Canetti admite ter.

     Analisando as experiências do Canetti no Marrocos, fico pensando em como eu as teria vivido. Gosto de ficar atento aos contornos e à arquitetura de prédios; de criar uma certa cumplicidade com os lugares; de pensar nas pessoas que passam, nos seus tipos, e no que nos transmitem ao simplesmente passar. Tudo isso sem me preocupar com o tempo. Gosto também de fazer anotações para, depois, estando só comigo mesmo, poder lê-las. Por isso penso que passaria um bom período nas ruas e nos lugares movimentados, e outro período pensando e fazendo comparações desses lugares com os que conheço.

     Imagino o quanto observar e compreender pode reordenar prioridades em nossas vidas. "Viajar é sempre uma auto descoberta", diz Michel Laub na apresentação do livro do Canetti. Mas viajar quando há o encontro com "o outro" é um renascer - acrescento.

     Da leitura das crônicas do Canetti, percebi que sua atenção esteve o tempo todo voltada para as coisas simples e primárias: sons, pequenos gestos e manifestações humanas. 

     Com isso em mente, guardei do livro a mensagem da necessidade que temos em manter um certo distanciamento dos modelos culturais que adquirimos ao longo da vida para podermos compreender sem julgar. Acredito que somente desprovidos de tais modelos - que são verdadeiros bloqueios - estamos prontos para descobrir as pessoas e as diferentes visões de mundo que nos surgem. E é a partir daí que ocorrem as aberturas para a aceitação do "outro"... para a (re)avaliação de nossas próprias convicções, para as redescobertas, e, consequentemente, para o nosso próprio renascimento.

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* Elias Canetti (1905-1994) - escritor búlgaro, premio Nobel de Literatura em 1981.   
** Canetti, Elias. As vozes de Marrakech. São Paulo: Cosac Naify, 2006 (Ed. original Carl Hanser Verlag, 1968)