Em outubro iremos às urnas para escolher governadores de Estado, deputados federais e estaduais, e senadores - além do presidente da república. Tendo em vista essa proximidade de datas entre Copa e eleições, são inevitáveis as ligações que fazemos entre o fracasso vexaminoso da seleção na Copa e as suas consequências na eleição presidencial. E daí nos perguntamos se o vexame será ou não determinante no resultado das urnas; se uma derrota da presidente Dilma na eleição terá ou não sido causado pela humilhação histórica da seleção na Copa; ou ainda se o futebol em nada interfere na eleição e nenhuma relação direta há entre uma coisa e outra.
Revendo a História, parece que essa associação entre futebol e eleição passou a existir a partir da Copa de 1970. Tricampeões no México - e para que disso o governo pudesse tirar algum proveito político -, a imagem do então presidente Médici ficou diretamente vinculada ao futebol vitorioso. Lembro-me bem desse período de falsos brilhantes, do "Brasil-grande", do patriotismo excessivo, do "ame-o ou deixe-o"...
o radinho no ouvido na tribuna de honra nos estádios de futebol foi uma imagem cultivada por Médici
(Fonte: http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/primeiras-paginas/eleitores-de-farda-8906456)
Foi assim que nesse ufanismo, por coincidência ou não, nas eleições de 1970 (só para deputado e senador) o partido que apoiava o regime saiu historicamente vitorioso.
Daí prá frente ficou a ideia geral da existência de uma forte manipulação do futebol em favor de eleições.
Porém, ao analisarmos as eleições presidenciais brasileiras com voto direto, essa ideia não se confirma. Se, eventualmente, o uso da paixão pelo futebol contaminou a disputa eleitoral, isso não foi determinante. Veja só:
(1) Em 1998 FHC era o presidente. Nesse ano fomos derrotados por 3 a 0, pela França, na final da Copa em julho/98. Apesar disso, em outubro/98, FHC foi reeleito no primeiro turno da eleição.
(2) Em junho/2002 a seleção brasileira sagrou-se pentacampeã na Copa da Coreia do Sul/Japão. Contudo, em outubro/02 foi eleito o candidato de oposição ao governo.
(3) Em julho/2006 não ganhamos na Copa da Alemanha; o presidente, porém, foi reeleito em outubro daquele ano.
(4) E em outubro/2010, por fim, a candidata apoiada pelo partido do governo foi eleita - apesar de termos perdido na Copa da África do Sul em julho do mesmo ano.
(5) E ainda, se formos analisar um passado bem mais distante, em junho/1958, na Suécia, fomos campeões pela primeira. Apesar disso, o candidato apoiado pelo governo não foi eleito na eleição seguinte (outubro/1960).
Das análises que podemos fazer de Copas e eleições passadas, tudo indica que o desempenho da seleção brasileira não influencia no resultado das eleições. E, especificamente nesta Copa em que perdemos feio para Alemanha e Holanda (mais pela nossa incompetência e arrogância), a lição não pode ser diferente: o estudo, a dedicação, o planejamento, o treinamento e o trabalho produzem melhores resultados do que a crença em milagres.
Nas palavras que recebi de um amigo mexicano logo após comentarmos o jogo contra a Alemanha, revi o país pelo povo, independente de jogos, de seleção de jogadores, e de cartolas do futebol:
"(...) sin
embargo he estado gozando al máximo las cápsulas de tu país que es
bellísimo con gente extraordinaria. Vives en un lugar magnífico,
rodeado de gente de una gran calidad humana ¡¡ aunque en todos lados no
falta un hijo de pu.... ¡¡ que quiere desestabilizar todo. Mis
felicitaciones por esta copa salió mejor organizado que lo esperado; el
ambiente ha sido inigualable y los Brasileños demostraron al mundo que
son grandes anfitriones" (Ricardo G. M.)
Agora, só mesmo juntando cacos e procurando aprender com as derrotas. Afinal, as eleições estão chegando e o Brasil é muito maior que o futebol: a cada dia, nós construímos e reconstruímos o nosso país. Com carinho, seriedade, planejamento e determinação, façamos a nossa parte. Assim, bons resultados ocorrerão com naturalidade - e vexames políticos ou esportivos serão coisas do passado.