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("As rosas não falam" - Cartola)
Hoje ouvi duas músicas entre si relacionadas: "As rosas não falam", do Cartola, e "Silencio", do porto-riquenho Rafael Hernández*. Ambas falam de flores.
Angenor de Oliveira, o Cartola, em "As rosas não falam", dizia que em seus momentos de tristeza procurava consolo na beleza. Sem ter com quem se queixar, e na esperança de que as flores o consolassem, naquelas horas ele visitava seu jardim e a elas dirigia seus lamentos:
- "Queixo-me às rosas; mas que bobagem... ." **
Em "Silencio", assim como o Cartola, o porta-riquenho Rafael Hernández também recorria à beleza das flores para consolar sua tristeza.
- "Silencio (...) no quiero que las flores sepan los tormentos que me da la vida."*** [silêncio, não quero que as flores saibam dos tormentos que a vida me dá]
(Marché aux fleurs - abril/15 - arq. pessoal)
O Cartola, especificamente buscava as rosas; o Rafael, as flores em geral: nardos, rosas e açucenas. Tanto o Cartola quanto o Rafael Hernández acreditavam ter uma certa cumplicidade com as plantas. Eles acreditavam que, com eles, as plantas interagiam.
Com as rosas o Cartola conversava. Diante de seu jardim o Rafael se calava.
Aos lamentos do Cartola, as rosas exalavam seu perfume - como se elas quisessem consolá-lo mostrando que há beleza até mesmo na tristeza e nas ausências:
- "As rosas não falam; simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti."**
O Rafael, ao contrário, diante das flores nada dizia. Ficava em silêncio. Ele temia que elas, se o vissem chorar, morreriam.
- "No quiero que sepan mis penas, porque si me ven llorando, morirán."*** [não quero que saibam das minhas aflições, porque se me veem chorando, morrerão]
Pensando nessa afeição do homem pelas flores, vou até a área externa do meu apartamento com ânsias de olhar a rua e encarar algo concreto. Mas já não sou mais concreto. Desvio o olhar para o canto da sacada. E, sem saber quais relações de cumplicidade existem entre mim e as plantas, sou enfeitiçado por uma orquídea que começa a despontar de meu único vaso... e sorrio para ela.
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(Ibrahim Ferrer e Omara Portuondo - "Silencio", de Rafael Hernandez)
AS ROSAS NÃO FALAM
(Cartola)
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
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SILENCIO
(Rafael Hernández)
Duermen en
mi jardin
las
blancas azucenas, los nardos y las rosas,
Mi alma
muy triste y pesarosa
a las
flores quiere ocultar su amargo dolor.
Yo no
quiero que las flores sepan
los
tormentos que me da la vida.
Si
supieran lo que estoy sufriendo
por mis
penas llorarían también.
Silencio,
que están durmiendo
los nardos
y las azucenas.
No quiero
que sepan mis penas
porque si
me ven llorando morirán.
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*RAFAEL HERNÁNEDEZ MARIN (1892/1965)- cantor, compositor e instrumentista porto-riquenho
**De "As rosas não falam"
***De "Silencio" (1932)