(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
(Baden Powell, dele, "Retrato brasileiro")
(Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=elgTCFlbEgQ)
(Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=elgTCFlbEgQ)
Em "A noite do meu bem"**, além de outras histórias ligadas ao samba-canção, o Ruy Castro conta como nasceram e de que forma sobreviviam os bares, as boates e casas de espetáculos que marcaram época no Rio de Janeiro.
Um bar, uma boate ou uma casa de espetáculos, é, antes de tudo, um local onde ocorrem encontros e desencontros, formam-se amizades, iniciam-se histórias de amor. E não só no Rio, mas em cada uma das cidades do nosso querido Brasil.
Em Guará não foi diferente. Quando criança, costumava ir ao "Bar do Seu Alberto", na esquina da rua da minha casa com a rua principal. Ali via meu pai e seus amigos, e comprava pacotes de bala de goma para comer nas matinês de domingo no cinema - e recebia sempre a simpatia do próprio "Seu Alberto".
Ainda menino, era o "Bar do Zé Berto" que movimentava a cidade.
O "Bar do Zé Berto" ficava bem em frente à casa de minha avó, no primeiro quarteirão depois da estrada de ferro. Era frequentado por ilustres guaraenses que ali se encontravam para tomar cerveja e, especialmente, para discutir política. A casa e o bar do Zé Berto eram no mesmo imóvel. Em algum momento na década de 70 o "Bar do Zé Berto" mudou para o quarteirão seguinte, no sentido da praça, mantendo o mesmo perfil e os mesmos frequentadores. Eu mesmo passei muitas de minhas tardes na casa - e depois no bar - do Zé Berto, amigo que era de seus três filhos.
(Zé Berto - foto postada no facebook por Ivete Berto)
O "Bar do Zé Berto" ficava bem em frente à casa de minha avó, no primeiro quarteirão depois da estrada de ferro. Era frequentado por ilustres guaraenses que ali se encontravam para tomar cerveja e, especialmente, para discutir política. A casa e o bar do Zé Berto eram no mesmo imóvel. Em algum momento na década de 70 o "Bar do Zé Berto" mudou para o quarteirão seguinte, no sentido da praça, mantendo o mesmo perfil e os mesmos frequentadores. Eu mesmo passei muitas de minhas tardes na casa - e depois no bar - do Zé Berto, amigo que era de seus três filhos.
(Calçada em frente ao "Bar do Zé Berto" - foto postada por Dr. Marco Antônio no facebook)
Havia também, na esquina da rua principal com a "rua do Welsinho" (Rua Washington Luiz), o "Bar do Massahiro". Aos domingos, já adolescente, era para lá que eu ia nos finais das noites de domingo para encontrar os amigos, comentar o filme em cartaz no cinema, e comer bauru. Durante as tardes dos dias de semana a possibilidade de jogar xadrez com algum amigo era o que me levava ao "Massahiro". Havia no bar muitos tabuleiros. Combinávamos uma partida ou um campeonato, ajeitávamos as mesas, pegávamos um picolé de abacaxi e deixávamos a tarde rolar solta entre torres, cavalos, bispos e peões que protegiam nossos reis e nossas rainhas.
(Massahiro Sakuray - foto postada por ele no facebook)
Do outro lado da rua, bem em frente ao "Massahiro", também na esquina, ficava o "Bar do Herlindo". Muito pouco frequentei ali; alguns outros amigos, porém, preferiam o "Herlindo" ao "Massahiro": ali a atração principal era o dominó.
Com o tempo, descobri o "João Odani". Ficava doido para chegar os finais de tarde para poder ir ao "Bar do João Odani". Ali comia peixe frito e bolinho de mandioca, encontrava os amigos e conversava sobre qualquer assunto que a inspiração escolhesse. Localizado no final da rua da minha casa, lembro-me que, com mesinhas na calçada, sempre havia alguém que estacionava o carro em frente ao bar, deixava as portas bem abertas, e ligava o aparelho K7 para acompanhar os longos papos e as muitas cervejas que tomávamos ali enquanto sonhávamos o futuro.
Com o tempo, descobri o "João Odani". Ficava doido para chegar os finais de tarde para poder ir ao "Bar do João Odani". Ali comia peixe frito e bolinho de mandioca, encontrava os amigos e conversava sobre qualquer assunto que a inspiração escolhesse. Localizado no final da rua da minha casa, lembro-me que, com mesinhas na calçada, sempre havia alguém que estacionava o carro em frente ao bar, deixava as portas bem abertas, e ligava o aparelho K7 para acompanhar os longos papos e as muitas cervejas que tomávamos ali enquanto sonhávamos o futuro.
O João Odani fechava seu bar mais cedo do que gostaríamos que fechasse. Dali - e por muitos anos - saíamos pela rodovia Anhanguera até o "Posto Algodoeira". Nos finais de semana era para lá que nós todos da cidade íamos - jovens, pais e filhos. Bebíamos, colocávamos cadeiras na varanda do "Posto", e conversávamos sobre tudo. Muitas vezes era o meu primo Tim e os meus amigos Sérgio, Brunelli e Gualter que, com instrumentos de percussão e muita garganta, alegravam o "Posto". Era também no "Posto" que, com um misto-quente e uma coca-cola, arrematávamos as noites de baile no Clube.
(Varanda do "Posto Algodoeira" e Sr. Carlos Migliori, um dos então sócios proprietários - foto postada no facebook por Márcia Migliori)
Muitos outros bares existiram em Guará. No entanto, o tempo que os frequentei foi muito curto em relação aos mencionados. Dentre eles lembro-me do "Bar do Sérgio e do Luizinho", na entrada da cidade, ponto de encontro para noites de carnaval; o "Bar do Celsinho Perigoso", na esquina da praça Nove de Julho com a rua principal, onde eu costumava ir para ficar olhando o movimento da praça enquanto ouvia o "Procul Harum" e os "Bee Gees" na vitrola; o "Bar do Vicente", onde eram feitas as melhores coxinhas da cidade; o "Bar do João Jorge" (antigo "Bar Magnífico", ao lado do cinema), onde ocorreram poucas, porém memoráveis reuniões musicais no início dos anos 80; o "Bar do Júlio", na esquina do Clube, onde minhas conversas com o próprio Júlio sobre música adentravam a madrugada; o "Bar do Daniel", em uma das casas da antiga Mogiana, onde, ouvindo tudo o que havia do Paul McCartney, bebíamos até o dia amanhecer.
Lembro-me também, mas em um passado muito distante, do "Bar do Corsi", com seus antigos frequentadores, onde reinava uma mesa de sinuca; do "Bar do Jota" com seus picolés, bem na esquina da praça; e da escuridão da boate "Number One", onde o bom mesmo era conversar sussurrando.
A vida vai passando e a gente não se esquece dos lugares que nos proporcionaram algum tipo de alegria ou descoberta. Em muitos deles fazemos amigos e levamos papos que influenciam nossos rumos e nossos destinos.
Diante da simplicidade estrutural e da densidade afetiva que prevalecia nos encontros diários ocorridos nos botecos antigos da minha terra natal, os sofisticados bares, pubs e casas noturnas de hoje são gélidos palácios que inviabilizam uma simples conversa, onde a gente vai para simplesmente beber, beber e beber.... Ah, sim, e também para ser torturado por música da pior qualidade, a milhares de decibéis.
Assim que, desencantado com os bares que tenho visto, escolho ficar em casa, onde, lembrando dos meus antigos bares e amigos, abraço o meu violão, pego minhas listas de músicas, e vou monologando calado... tocando p'rá mim mesmo a minha - hoje - boemia doméstica!
Assim que, desencantado com os bares que tenho visto, escolho ficar em casa, onde, lembrando dos meus antigos bares e amigos, abraço o meu violão, pego minhas listas de músicas, e vou monologando calado... tocando p'rá mim mesmo a minha - hoje - boemia doméstica!
________________________________
*Bares de Guará, SP, minha terra natal
**Castro, Ruy. A noite do meu bem: a história e as histórias do samba-canção. 1ª Ed. - São Paulo:Companhia das Letras, 2015