Minha intenção é publicar aqui as coisas que leio, vejo, penso ou observo, e que me fazem sentir que acrescentam. Afinal, as coisas só se tornam inteiramente bonitas quando podem ser compartilhadas e se mostram repletas de significados comuns.
Nenhum outro artista que tivesse vindo encerrar a 18ª Feira do Livro, de Ribeirão Preto, teria levado tanto charme, encanto e talento, ao palco do Teatro Pedro II, como fez a Verônica Ferriani. A Verônica esteve, simplesmente, impecável.
Verônica Ferriani, no encerramento da 18ª Feira do Livro
27/05/18, Teatro Pedro II, Ribeirão Preto, SP (foto: Carlinhos)
Acompanhada de uma banda maravilhosa, ela passeou com beleza e muita delicadeza por "What will be, will be", "'S wonderful", "Chega de saudade"... Certamente agradou a todos os que têm bom gosto. Fez um maravilhoso "pout-pourri" de boleros, outro de sambas... Levou a plateia à Espanha, com nada mais, nada menos do que "Granada"... Meus parabéns a ela. Adorei. Se por acaso a virem, digam a ela que "La vie en Rose" foi ótima; que "Fly me to the moon" foi perfeita... que o repertório foi fantástico, de altíssimo nível e bom gosto. Showzaço! Elegante, bonita, charmosa, simpática... ela encantou! Parabéns à organização da Feira do Livro por ter trazido a Verônica para nos proporcionar uma noite musical memorável. Gostei muito!
"Ponta de Areia" (Milton Nascimento) - Milton Nascimento e Nana Caymmi
https://www.youtube.com/watch?v=Bj86K1SLMDk
Gosto dos prédios das antigas estações de trem. Eles são referências inspiradoras. Eles guardam histórias que têm sido esquecidas. Destruí-los é jogar fora os alicerces do que hoje somos....
Prédio da Prefeitura Municipal de Araguari, MG
("Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da antiga Estação da Estrada de Ferro Goiás")
foto: arq. pessoal - 2010
Outro dia fui a Araguari, cidade mineira, que, no passado, foi entroncamento de três importantes ferrovias: a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (CMEF), a Estrada de Ferro Goiás (EFG), e a Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM). Ao ver o prédio da antiga estação da EFGoiás, no alto da cidade, lembrei-me do caso dos "Irmãos Naves"*, um dos maiores erros judiciários ocorridos no Brasil, das cenas do filme a respeito desse caso que foram rodadas em uma plataforma de estação de trem; lembrei-me também, e em especial, do Marechal Rondon: foi em Araguari que, em 1900, o então jovem oficial do Exército, Cândido Mariano da Silva Rondon, vindo de trem, do Rio de Janeiro, desembarcou, com a missão de comandar a implantação da linha telegráfica no Estado de Mato Grosso. Foi dali, portanto, de Araguari, que Rondon iniciou a marcha através de Goiás, rumo a um Brasil até então praticamente virgem, com a árdua tarefa de interligar, pelo telégrafo, a costa do País à região Centro-Oeste**.
Sempre que vou a Araguari e passo em frente à antiga estação da EFGoiás, penso nas histórias que li a respeito do Marechal Rondon. Ao olhar aquele prédio de estação, fico com a sensação fantasiosa de que o Brasil está começando a ser reconstruído; agora, não mais pelo telégrafo, mas pelos exemplos do Rondon e pela disposição, nesse sentido, de todo o povo brasileiro - a começar pelo povo de Araguari. Como se não bastasse a restauração do prédio, o carinho que a cidade vem dedicando a ele é exemplar. De volta à cidade, em uma ocasião festiva, o prédio esbanjava beleza... e eu fiquei ali, naquela noite, por mais de hora, parado diante dele, simplesmente contemplando o seu contorno enfeitado de luzes...
"O prédio da antiga Estação da Estrada de Ferro Goiás"
Foto: arq. pessoal (2010)
O prédio da estação ferroviária da antiga Estrada de Ferro Goiás, em Araguari, é uma fonte de inspiração. Restaurado, ele preserva, em sua beleza e em suas estruturas, histórias do nosso País e de nossos pioneiros - que têm sido esquecidos...
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*"O caso dos Irmãos Naves" (Brasil, 1967. Dir.: Luis Sérgio Person) - filme a respeito de um grave erro judiciário ocorrido na cidade de Araguari/MG, baseado no livro de João Alamy Filho ("O Caso dos Irmãos Naves: o erro judiciário de Araguari. São Paulo, Círculo do Livro) **Para saber mais sobre o Rondon, ótimo livro a ser lido: "Rondon: o marechal da floresta" / por Todd A. Diacon: tradução Laura Teixeira Motta; coordenação Élio Gaspari e Lília M. Schwarcz - São Paulo: Companhia das Letras, 2006 (Coleção "Perfis Brasileiros")