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Duo Tercina - "Rosa" (Pixinguinha)
Minha avó gostava de plantas. Logo na entrada de sua casa, em um canteiro que havia ao lado dos degraus que davam acesso ao alpendre, ela cultivava espadas-de-são-jorge.
Subindo os degraus, duas samambaias enormes ornamentavam o alpendre: uma delas no seu canto superior direito; a outra, suspensa ao lado de uma imagem de Santa Rita de Cássia moldada em gesso, que passava as noites iluminada pela fragilidade de um foco de luz.
Subindo os degraus, duas samambaias enormes ornamentavam o alpendre: uma delas no seu canto superior direito; a outra, suspensa ao lado de uma imagem de Santa Rita de Cássia moldada em gesso, que passava as noites iluminada pela fragilidade de um foco de luz.
No quintal, plantas de diversas espécies se espalhavam: orquídeas, antúrios e lírios, bem como manjericão, hortelã, e muitas hortaliças que serviam de tempero para os pratos da culinária libanesa que ela tão bem preparava.
Na família, entre primos, tios e tias, todos afirmavam que eu era o neto predileto. E eu, de verdade, me sentia daquela forma.
"Minha avó, comigo" - Foto: arq. de família (06/08/1967)
Quando o mais velho de seus filhos se foi, as plantas da casa de minha avó ficaram esquecidas... O quintal, o alpendre, a sala, os quartos, tudo se entristeceu.
Mas como nem mesmo a tristeza consegue ser eterna, um dia levei à casa de minha avó, pela primeira vez, para apresentar a ela, minha então namorada. De olhos atentos para aquelas plantas esquecidas, minha namorada foi ao quintal, instintivamente, e deu a elas um pouco de atenção e carinho... carinho suficiente não só para que as plantas, tempos depois, readquirissem vida e beleza, mas também para que a minha avó recuperasse um pouco de sua alegria de viver.
De uma daquelas plantas renascidas no quintal, um dia minha avó colheu uma muda com a qual presenteou minha irmã. Minha irmã, por sua vez, a plantou no jardim de sua casa... e ela floresceu.
No último final de semana, chamou-me a atenção um vasinho com ramos e flores se estendendo pela tela de proteção da sacada do apartamento onde moro.
Mas como nem mesmo a tristeza consegue ser eterna, um dia levei à casa de minha avó, pela primeira vez, para apresentar a ela, minha então namorada. De olhos atentos para aquelas plantas esquecidas, minha namorada foi ao quintal, instintivamente, e deu a elas um pouco de atenção e carinho... carinho suficiente não só para que as plantas, tempos depois, readquirissem vida e beleza, mas também para que a minha avó recuperasse um pouco de sua alegria de viver.
De uma daquelas plantas renascidas no quintal, um dia minha avó colheu uma muda com a qual presenteou minha irmã. Minha irmã, por sua vez, a plantou no jardim de sua casa... e ela floresceu.
No último final de semana, chamou-me a atenção um vasinho com ramos e flores se estendendo pela tela de proteção da sacada do apartamento onde moro.
Foto: arq. pessoal (10/2019)
Procurando por informações a respeito da procedência daquela planta, vim a saber que seu broto havia sido colhido no canteiro do jardim da casa de minha irmã; que, assim como minha avó a havia presenteado há mais de 30 anos, minha irmã também presenteara minha esposa (a antiga namorada), com uma muda daquela mesma planta.
Foto: arq. pessoal (10/2019)
Nunca dediquei tempo suficiente para refletir a respeito das sensações que ultrapassam os sentidos. No entanto, sempre acreditei que uma presença pode ser sentida por outros meios, que não somente os sensoriais. Um objeto, uma palavra, os versos de uma poesia, ou uma planta que desabrocha em um jardim, podem trazer pessoas queridas à nossa presença: aquela planta, em minha casa, é a minha avó olhando por mim.
"A minha avó" - Foto: arq. pessoal (1975)