quarta-feira, 27 de maio de 2020

RIBEIRÃO PRETO, SP: A TORRE DA CATEDRAL


"A torre da Catedral" - Ribeirão Preto, SP (Foto: arq. pessoal)

Assim como um farol para os navegantes, a torre da Catedral é o ponto de referência para aqueles que se aventuram pelo centro da cidade.

sábado, 23 de maio de 2020

A PRESENÇA SÍRIO-LIBANESA NA CIDADE DE GUARÁ, SP


Inauguração do Monumento (15/09/1963). Da esq. para a dir.: Jorge "Barud"; Chauki; ...; Sr. Azor; Jamil Jorge; Nehif Antônio; Kaissar Khouri; José Nazir; ...; Webe Abboud; Hussein; Sr. Olavo Borges; ...; ...; Sr. Teté; ...; Pe. Milton; Sahid Elias (Milim); ...; Sr. Apá Bechara; Dr. Urbano Junqueira; Sr. Jorge Tannous; Sr. Antonio Abboud; Sr. Zakhi Tannous - Foto: arq. de família 

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Fairuz - "Wa habibi"
https://www.youtube.com/watch?v=OI-tr1XntsE

     Materializada em papel ficou a presença daqueles que estiveram na Praça Nove de Julho, em Guará, na noite do sexagésimo primeiro aniversário do Município (15 de setembro de 1963). Na ocasião, os imigrantes sírio-libaneses e alguns de seus descendentes, juntamente com os representantes da administração pública e a comunidade guaraense, reuniam-se para a inauguração do Monumento oferecido por eles, os imigrantes sírio-libaneses, à cidade. 

     Conheci e convivi com muitos dos imigrantes que estão na foto. Ainda criança, sempre os via passar pela casa de minha avó paterna - uma das primeiras imigrantes da cidade - para uma xícara de café, ou para um simples "bom dia".

     Identifico na foto o meu tio Jorge Mourani, mascate, apelidado "Jorge Barud", que vivia em uma pensão. Nunca se casou. Seus últimos anos foram vividos em um quarto de fundos na casa de minha avó. Flautista (tocava "nay"), era ele quem animava as festas nas quais eram formadas rodas de dabke.

     Identifico também o Chauki, um "patrício" sempre sorridente, que percorria as cidades da região em uma perua rural Willys, vendendo e fazendo a distribuição de produtos de beleza. Com um forte sotaque árabe, ele trazia sempre um enorme sorriso no rosto. Nos finais de semana, comendo amendoim, sentava-se ao lado de um enorme rádio para ouvir a transmissão de partidas de futebol.

     O Sr. Kaiser Khouri, ao fundo na foto, que tantas viagens fazia do Brasil para o Líbano, e vice-versa, formava em sua casa grandes rodas de "patrícios" para os jogos de cartas. Os Srs. Salim, Azor, Zé Gebrin, e alguns de seus próprios filhos, que tornaram-se meus amigos (Fauzi, Adônis, Samir, Choucri, Walid e Wadih), eram seus companheiros e parceiros. Sua casa era, para mim, um pedaço do Oriente Médio. Nem sempre havia espaço à mesa para o "carteado". Os excedentes, não se fazendo de rogados, aguardavam na sala de entrada sua vez de participar do jogo de cartas, preenchendo seu tempo com os dados, em torno de um tabuleiro de gamão. O Sr. Salim, já de muita idade, sempre tenso com as cartas nas mãos, fazia do cigarro o remédio para controle de sua ansiedade. Já bastante debilitado, e proibido de fumar, um lápis em sua boca substituía o cigarro.

     O Sr. José Nazir, também na foto, foi um comerciante interessante. Solteirão, sempre com um cigarro de palha na boca, ou em cima da orelha, tinha um sotaque árabe muito acentuado. Eu achava tão engraçado seu jeito de falar que, anonimamente, fazia ligações telefônicas para sua loja simplesmente para ouvi-lo falar. Ele, inquieto, querendo descobrir quem o havia chamado e que permanecia calado, não resmungava, não maldizia: falava de si mesmo, contava sua história de vida para o aparelho telefônico... O "Lar de idosos" de Guará foi o seu último endereço.

     Na foto também identifico os srs. Hussein, Antoun e Webe Abboud, meu pai, meus tios Milim e Apá, os Srs. Zaki e Jorge Tannous, além de autoridades civis e religiosas da cidade.

     Lembro-me também de muitos outros "patrícios" que não estão na foto: o Sr. Joani Saad, proprietário de uma loja de roupas, caminhava com suavidade, sempre elegante, com o colarinho da camisa abotoado; o Kassim, também mascate; o meu querido amigo Toufic, comerciante, em cuja loja eu passava muitas de minhas horas; o Zezinho Felício e seu pai, o meu tio Felício... Muitos outros ainda me vêm agora à lembrança... a família Chaud inteira, tio Felipe, Srs. Budu, Noraldo, Dib, Toufic, Chaudinho... o Neil Bechara... E como me esquecer das mulheres de origem ou descendência sírio-libanesa? dona Alice, dona Cecília, dona Eufrosia, dona Ramza, dona Suheim, Nijma, Zahkia, Odete, Zita, Hanna... tia Sarah... minha avó Labibe... e tantas mais... tia Jamila... tia Emília... 

     O monumento na Praça, construído de alvenaria comum em formato de paralelepípedo, com cerca de um metro e oitenta de altura, foi revestido de mármore negro e recebeu uma placa datada de 15  de setembro de 1963, com os seguintes dizeres: "À cidade, os libaneses".

O Monumento, reinaugurado em 10/maio/2008
Foto: arq. pessoal

     O monumento original, inaugurado na noite em que a foto foi tomada, desapareceu. No entanto, anos depois, resgatando a memória da cidade, a importância e a presença da comunidade sírio-libanesa em Guará, a administração pública municipal reinaugurou um novo monumento, idêntico ao original, no mesmo local da Praça Nove de Julho onde se encontrava o anterior, e onde permanece.

     Quando estou em Guará, vou até a esquina da Rua Deputado João de Faria com a Rua Campos Salles, bem no canto do quarteirão da Praça Nove de Julho. E ali estando, por alguns minutos reverencio o Monumento que vejo no começo dos jardins da Praça: lá estão, sem que ninguém os veja, os queridos "patrícios" que conheci e que permanecem guardados em minha própria história.       

Autoridades e comunidade no evento (lado direito do monumento)
Foto: arq. de família

domingo, 17 de maio de 2020

MIDNIGHT COWBOY


Midnight Cowboy
Cartaz publicitário - "Midnight Cowboy"

     Midnight Cowboy* (no Brasil  com o título "Perdidos na Noite") foi lançado em 1969. O filme, premiado com o Oscar no ano de 1970, mostra o sonho que tem Joe Buck, um texano do interior do Estado, de ser bem sucedido em uma cidade grande.

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Midnight Cowboy - Harry Nilsson - Everybody's talkin'
Fonte: youtube

     Em Nova Iorque, cidade na qual ele se instala, Joe Buck se depara com a solidão das pessoas, a inexistência de cumplicidade afetiva entre os seus moradores, e, especialmente, com a pobreza que lá também havia. É interessante notarmos que essas constatações e esses enfrentamentos não são localizados, mas universais. Nos Estados Unidos, assim como em todos os países de qualquer continente, há o submundo, há os invisíveis, há os fracassados. O mesmo país que, em 1969, mostrava na TV a conquista da lua, mostrava também, nas telas dos cinemas, um homem vestido de cowboy, deambulando pelas ruas de Nova Iorque, acreditando que poderia sobreviver como garoto de programa. Mas o tempo foi mostrando ao interiorano que a vida na cidade grande não era tão fácil e acolhedora quanto ele imaginava.

     Depois de rever o filme, fiquei com a impressão de que tanto para as cidades grandes e desumanas quanto para as cidades pequenas e aparentemente solidárias a situação é a mesma: se em "Everybody's talkin'", uma das canções da trilha sonora de Midnight Cowboy, o autor diz que "todos estavam dirigindo a palavra a ele, mas ele ouvia apenas os ecos de sua própria mente", percebo que essa forma de conversar é uma característica existente nas relações do nosso tempo. Ao que me parece, assim como fazia Joe Buck, e assim como faziam os que dirigiam a palavra a ele pelas ruas de Nova Iorque, em Midnight Cowboy, os pretensos diálogos de nosso tempo, travados pelas ruas, calçadas e linhas de comunicação, excluídos os estritamente comerciais, têm se prestado unicamente a traduzir os pedidos de atenção, ajuda e carinho que fazemos uns aos outros.


Everybody's Talkin'
(Fred Neil)

Everybody's talking at me
I don't hear a word they're saying
Only the echoes of my mind

People stopping staring
I can't see their faces
Only the shadows of their eyes

I'm going where the sun keeps shining
Thru' the pouring rain
Going where the weather suits my clothes

Backing off of the North East wind
Sailing on summer breeze
And skipping over the ocean like a stone

Everybody's talking at me
I can't hear a word they're saying
Only the echoes of my mind

I won't let you leave my love behind
No, I won't let you leave…
Won't… ah-haaaa!...
I won't let you leave my love behind
Todo Mundo Falando


Todo mundo falando comigo
Eu não ouço uma palavra que estão dizendo
Apenas os ecos da minha mente

Pessoas paradas olhando
Eu não consigo ver seus rostos
Somente as sombras dos seus olhos

Eu estou indo onde o sol continua brilhando
Através da chuva torrencial
Indo onde o tempo se adapte às minhas roupas

Recuando do vento Nordeste
Navegando na brisa de verão
E saltando sobre o oceano como uma pedra

Todo mundo falando comigo
Eu não ouço uma palavra que estão dizendo
Apenas os ecos da minha mente
Apenas os ecos da minha mente

Não vou deixar que você deixe o meu amor pra trás
Não, eu não vou deixar você sair ...
Não ... ah-haaaa! ...
Não vou deixar que você deixe o meu amor pra trás ...

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*"Midnight Cowboy" (Perdidos na Noite) - EUA, 1969. Dir.: John Schlesinger