Minha intenção é publicar aqui as coisas que leio, vejo, penso ou observo, e que me fazem sentir que acrescentam. Afinal, as coisas só se tornam inteiramente bonitas quando podem ser compartilhadas e se mostram repletas de significados comuns.
Em comemoração aos quinze anos da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto - USP, a USP Filarmônica apresentou-se ontem no Teatro Pedro II. Sob regência e direção artística do Prof. Dr. Rubens Russomanno Ricciardi, no programa sinfônico estavam obras de alguns compositores e poetas pretos e pardos brasileiros dos séculos XVIII e XIX.
Dentre estes compositores e poetas, foram lembrados: Manuel Dias de Oliveira (1734/35-1813), José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), o padre mestre Domingos Caldas Barbosa, ou Loreno Seltinuntino (1740-1800), José Maria Xavier (1819-1887), Anacleto Augusto de Medeiros (1866-1907) e Alfredo da Rocha Vianna Filho - o Pixinguinha - (1897-1973). Além dos poetas e compositores, também foram resgatadas e apresentadas modinhas e canções populares, fruto de pesquisa com levantamento folclórico e arranjos de Heitor Villa-Lobos, com orquestração de Olivier Toni (1926-2017) e Rubens Russomanno Ricciardi.
Que belo resgate! Quero parabenizar e agradecer à USP Filarmônica pela apresentação encantadora, e em especial aos solistas: Yuka de Almeida Prado (soprano), Anita Prado (mezzo-soprano), Rafael Stein (tenor), Alexandre Mazzer (barítono), Carla Rincón (spalla convidada), João Paulo Henrique da Silva (clarineta), Samuel Pompeu (saxofone), Gustavo Silveira Costa (violão) e Matheus Luis de Andrade (percussão).
Apresentações musicais tais como a da noite de ontem, que tive o privilégio de assistir (e com entrada franca, em um teatro monumental!), são um convite e uma inspiração para imersões poéticas nas riquezas adormecidas em nosso país - que florescem aqui em Ribeirão Preto.
Teca Calazans - "Rasga Coração"
(compositor: Anacleto de Medeiros; versos: Catulo da Paixão Cearense)
"Resistindo"*... Ah, esse disco... Sobre o aparador da sala de estar, deu tantas voltas em minha vitrola... Sofás, poltronas, lustres, portas e janelas... piano, violão e eu, só eu. Por vontade própria, era essa a plateia... O disco era meu, o Quarteto em Cy era meu... Qualquer movimento, qualquer interferência externa incomodava os passeios que, da minha sala eu fazia... pela Bahia, pelos barracos espetados na beira de barrancos, por Atenas... acompanhando o trajeto dos boias frias que via sair para o trabalho em carrocerias de caminhões, rumo ao rancho... das goiabadas... Quieto, ouvindo meninos dormir... que Deus lhes ensine a lição, dos que sofrem violência e perseguição... morreu Filipe dos Santos, mandaram esquartejar: outros porém nascerão... Resistindo, poetando em Capricho e Memória... "Amar o perdido, deixa 'comovido o meu' coração..." Canta Cyva, canta Cynara, canta Dorinha, canta Sônia... canta meu querido Quarteto em Cy: canta mais!
Quarteto em Cy - "Rancho da Goiabada" (Aldir Blanc/João Bosco)
https://www.youtube.com/watch?v=pJUpkw1DPiU
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*"Resistindo" - Resistindo - ao vivo" é um álbum do grupo musical Quarteto em Cy, (1977, Phonogram/Philips). Nesse disco foram gravadas as seguintes músicas: Eu vim da Bahia/Filhos de Gandhi; Viola violar; Capricho/Memória; Samambaias; favela/Arquitetura de pobre/O ronco da cuída; Resistindo; O Rancho da Goiabada; Dorme, meu menino dorme; Funeral de um lavrador; Mulheres de Atenas; Canta, canta mais.