Penso que, aqui no Brasil, a Astrud Gilberto foi muito menos valorizada do que merecia. Ela falava baixo, quase que sussurrando... casou-se com o João Gilberto, em 1959. O João Gilberto, até então, seguia na linha do Orlando Silva, cantando forte, alto e em bom tom. É certo que, nessa época, ele ouvia muitas gravações do Chet Baker, que tinha passado a cantar também - além de brilhar com o seu trompete. Ouvindo discos do Chet Baker, e cantando domesticamente baixinho, e ainda para agradar sua então esposa - talvez até em duo com ela - foi aí que se desenrolou a bossa nova. Até fico imaginando a Astrud, nessa época pre bossa nova, sussurrar para o João Gilberto, na cozinha da casa deles: "Mais baixo, João... cante mais baixo...". Não podemos dizer que a Astrud Gilberto foi só a gravação de Garota de Ipanema, em inglês, no disco do João Gilberto com o Stan Getz. De jeito nenhum! Lembra-se do Vinícius, na "Carta ao Tom" (a de 64) gravada no show da boate Zum-Zum?: "E a Astrudinha, hein, que negócio tão direito... vamos ver se dessa vez os intermediários deixam algum [$] para nós". Ela está muito mais inserida na criação e divulgação internacional da bossa nova do que a gente pode imaginar - sem tirar, obviamente, todos os méritos do nosso querido João Gilberto.