No meio da tarde de ontem entrei em uma loja de conveniências de um posto de gasolina. Não queria comprar nada; só queria ficar ali por alguns minutos, à toa. Mas... peguei um suco de laranja na geladeira e, no balcão, um pão de queijo que, cheirando à aconchego, havia acabado de sair do forno. Em seguida fui me sentar à uma das mesas da loja, de onde, enquanto comia, olhava pela janela de vidro o movimento dos automóveis lá fora, ao lado das bombas de gasolina, e a entrada e saída de clientes na loja.
À minha frente havia quatro pessoas: um senhor que usava um óculos de lentes grossas, uma adolescente japonesinha, uma senhora bem alta, e logo à minha frente um senhor de uns 60 anos, que levava sob o braço um pacote contendo latinhas de cerveja. Assim que me postei na fila o telefone celular deste senhor à minha frente soou, e ele passou a emitir sons ininteligíveis que deveriam ser palavras direcionadas à pessoa que o havia chamado. Ao final da ligação dirigiu-se a mim e queixou-se:
- Minha mulher não larga do meu pé! Ela agora passou a implicar com o meu prazer de tomar uma de cerveja antes do jantar.
- Puxa vida, disse-lhe eu, mas de vez em quando uma cervejinha antes do jantar não faz mal a ninguém. É até romântico, cria uma boa cumplicidade - completei. Ela não toma uma com você? Já a convidou?
Posando de malandro, ele passou a me explicar que não se tratava apenas de uma cerveja; mas que a mania dele era de tomar exatamente sete, na semana.
- Bom, disse-lhe eu, sete na semana significa uma por dia... Está tudo de bom tamanho. Não há exagero nisso.
Para que eu entendesse melhor a situação, ele me disse que costumava tomar sete latinhas de cerveja em uma sentada só: e pelo menos em três dias na semana!
Sem saber o que dizer, comentei que aí a dificuldade de se ter a companhia e a cumplicidade da mulher já ficava mais difícil; que podemos exagerar de vez em quando, que Deus compreende e perdoa, mas que é bom que pelo menos tentemos ser moderados.
Com ares de esperto, ou apenas para alongar a conversa, ele me contou que havia ido a uma médica e que ela havia lhe dito, metaforicamente, que as muitas notas promissórias que ele havia emitido estavam começando a chegar. E arrematou:
- Veja só, eu estou com quase 60 anos... e preciso ser feliz!
Dito isso ele foi chamado ao caixa, pagou pela sua compra, olhou para mim e, despedindo-se, arrematou dizendo:
- "O que é do gosto, regalo da vida!"
Chegada a minha vez, fui chamado ao caixa. Mas... antes... pensei rapidamente sobre a breve conversa que havia tido com aquele senhor e, num impulso, cedi ao rapaz que me seguia na fila a vez de ser atendido. Com passos decididos dirigi-me novamente ao balcão da padaria, onde pedi mais uma dúzia de pães de queijo: um para eu comer enquanto aguardava novamente minha vez na fila do caixa, e os outros onze para serem colocados num saquinho e levados para casa... E nem me importei mais com o tamanho da fila ou com o que, de início, poderia me parecer um exagero.