Ao ler o texto, fiquei ouvindo o canto de um bem-te-vi... e fiquei procurando por ele, tentando localizá-lo por sobre as cercas, galhos de árvore, muros e quintais... E enquanto a procura acontecia, a despeito da sala que me aprisionava e do barulho dos motores de automóveis que transitavam lá fora, fiquei pensando em árvores, matas, cursos d'água, rios, florestas e passarinhos... Parece que a procura por um bem-te-vi tem a capacidade de promover uma reaproximação, de ensejar uma possibilidade de reencontro do homem com a natureza - tal como acontece quando da leitura de algum texto que trate de passarinhos...
O Rubem Braga certamente vivia à procura de pássaros - tanto que, um dia, contou uma história a respeito de um menino que queria fazer negócio: "Papai me disse que o senhor tem muito passarinho... tem coleira?... virado?... muito velho?... canta?... o senhor vende... quanto?"
- Mas... e você, meu amigo... Você não enxerga o mundo a partir de uma palmeira, do alto dela, quando se lembra que "em sua terra há palmeiras onde canta o sabiá?"... E o sabiá, que você busca, vai voltar? Mesmo se expulsos, os sabiás voltam... voltam e voam... como voaram Cynara e Cybele na interpretação de "Sabiá", no III Festival Internacional da Canção (1968), no Rio de Janeiro: "Vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar, foi lá, é ainda lá, que eu hei de ouvir cantar uma sabiá..." ... e a gente aplaude... ainda hoje aplaude, aplaude...
- Eita Brasil de cantos, de pássaros e de possibilidades! Brasil de vastas extensões de verdes, Brasil de passarinhos e de gente que gosta de passarinhos... terra onde, ao ritmo da "sinfonia de pardais", reina "a majestade o sabiá"... onde, de pensar em pássaros e distâncias, doem as mesmas saudades sentidas pelo Vinícius, quando convocou pássaros de diferentes famílias para cuidarem da travessia do Atlântico e da entrega, ao destinatário, de sua declaração de amor: "Agora chamarei a amiga cotovia / E pedirei que peça ao rouxinol do dia / Que peça ao sabiá / Para levar-te presto este avigrama: 'Pátria minha, saudades de quem te ama (...)'".