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(Mercedes Sosa - "Me gustan los estudiantes", de Violeta Parra)
Para o Gabriel
Nesse começo de ano, assim como no começo de todos os anos, assistimos de graça uma celebração de sonhos e ideais. A cidade vibra, renasce e esbanja vitalidade nos olhares e nas cabeças raspadas dos calouros das universidades. São jovens que comemoram a conquista de um objetivo, o ingresso na universidade, a aurora de um sonho. Cada um deles, com os pés descalços pisando no chão quente da rua, corpo banhado de farinha, tinta e ovo cru, estampa no rosto a pureza e o desejo de um futuro bom, com homens bons, com um país justo...
("Um calouro" - arq. pessoal - fev2012)
Gosto dos estudantes, dos jovens que aprenderam a escutar, a pensar e a raciocinar... Mas gosto deles principalmente nas ocasiões em que, sentindo-se enganados, falam forte e levantam a voz, indignados.
Violeta Parra, compositora e cantora chilena, em alguns trechos de “Me gustan los Estudiantes”, retratou muito bem o exemplo que nos dão os estudantes:
“Me gustan los Estudiantes porque levantan el pecho
Cuando les dicen harina sabiéndose que es afrecho.”
(“Gosto dos estudantes porque levantam o peito, porque ‘afrontam as ofertas de farinha’, quando se sabe que ‘o que está sendo oferecido é puro farelo’...”)
Mais adiante, ainda na mesma canção, ela nos dá um chacoalhão:
“[los Estudiantes] no hacen el sordomudo cuando se presente el hecho” (“os estudantes não se fazem de indiferentes diante dos fatos.”)
Impossível manter frieza e indiferença diante de versos tão densos:
“me gustan los Estudiantes porque son la levadura
del pan que saldrá del horno
con toda su sabrosura"
(“Gosto dos estudantes porque são o fermento
Do pão que sairá do forno
Com toda sua ‘doçura’”)
(Fonte: http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=158940)
Coloco p’rá tocar “Me gustan los Estudiantes” na voz da Mercedes Sosa, e penso nos estudantes que tenho visto. Não consigo ficar apático. Revejo meus próprios ideais, os ideais de um adulto sentado atrás de uma mesa de escritório... Percebo, humildemente, que posso aprender com esses jovens a resgatar sonhos atropelados... Sinto-me também no meio da rua, com os pés descalços, pedindo uma moedinha para celebrar com meus amigos um renascimento...
Mas permaneço aqui, parado, torcendo para que o entusiasmo desses jovens não passe despercebido pelos homens duros, inflexíveis, terrivelmente ocupados, engrenados, fartos em poder, rendidos em ideais.
Se olharmos bem para esse universo puro contido na cabeça de um jovem estudante, identificaremos muito da capacidade de nos encantarmos que, de alguma forma, apequenou-se no adulto que nos tornamos. Restam os ouvidos atentos para o pedido silencioso de que concedamos a ela – à nossa capacidade de nos encantarmos - ressurreição e liberdade.
“Me gustan los Estudiantes – jardin de nuestra alegria”... Cresço em esperanças, como adulto, quando vejo a solidariedade de um jovem estudante para com outro; seus abraços, seus sorrisos, sua alegria, sua receptividade... Observando-os de longe eu me rejuvenesço e me sinto mais próximo deles.
Envolto nessas divagações eu quero abraçá-los, aplaudi-los e parabenizá-los, rogando para que adulto nenhum desconfie, menospreze ou zombe da força dos seus ideais.
Precisamos que esses jovens não percam o encanto...
ResponderExcluirOi Flávia. Acho que temos uma parcela muito grande de responsabilidade para aprendermos a seguir juntos estimulando para que isso não aconteça. Obrigado, mais uma vez.
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