O Jornal “Folha de São Paulo” de sexta-feira, dia 13, no Caderno “Ilustrada”, trouxe um artigo que atraiu minha atenção. O texto é de Silas Marti, e a manchete é “Obras do Acaso”. A foto que ilustra o texto mostra uma porção de gente bocejando no mesmo lugar, nas mesmas condições de luz e tempo. São, conforme explica Silas, fotos tiradas em momentos diferentes, que mostram coincidências banais em situações também banais. Mostram, enfim, na rua, um pouquinho do comportamento humano.
O texto fez-me lembrar de um fotógrafo nova-iorquino com quem não troquei mais do que meia dúzia de palavras.
Em visita a Londres no ano passado, fui conhecer a Abbey Road: famosa rua que ilustra a capa de um dos discos dos Beatles, e que os mostra na faixa de segurança de pedestres atravessando de uma calçada para a outra.
(capa do álbum "Abbey Road", 1969 - fonte:http://rollingstone.uol.com.br/galeria/45-anos-depois-entenda-os-misterios-por-tras-da-capa-de-iabbey-roadi/#imagem0 )
(clique na seta para ouvir)
("Golden Slumbers", Paul McCartney)
("Golden Slumbers", Paul McCartney)
Lá chegando, após um curto trajeto de metrô e uma pequena caminhada, o que vi foi uma rua simples, como tantas outras daquela cidade. Simples porém movimentada na faixa de segurança. Repleta de pessoas sorridentes e emocionadas que cruzavam uma, duas, três vezes a rua, iam e vinham na mesma faixa onde John, Ringo, Paul e George foram fotografados para a eternidade.
Mas o que havia de comum ali, além da admiração por aquela banda inglesa? Estava "na cara", literalmente na cara: os sorrisos das pessoas!
Aproveitando a tendência dos fotógrafos, conforme o artigo que mencionei, o fotógrafo nova-iorquino me disse que ficava ali dias inteiros, observando e fotografando o sorriso das pessoas que cruzavam a rua.
(Faixa de segurança de pedestre em frente aos Estúdios Abbey Road - detalhe: o fotógrafo encostado no poste - arq. pessoal)
Ele estava, pelo seu trabalho, testemunhando o nosso tempo, o nosso comportamento... E disse-me também que havia fotografado o meu sorriso, que esperava que eu não me incomodasse com isso...
(Atravessando a Abbey Road - arq. pessoal)
Eu, claro, ao compreender o que o fotógrafo fazia
ali, perguntei a ele - em tom de brincadeira - se eu tinha alguma chance de
aparecer em algum trabalho seu junto com uma porção de outros sorrisos desconhecidos
e originários de outras partes do mundo...
Ao me responder ele também sorriu e me disse que a tarefa de escolher sorrisos seria muito difícil; que passavam por ali sorrisos brilhantes, sorrisos sexagenários, sorrisos adolescentes, sorrisos asiáticos... “Mas”, disse-me ele, “você tem alguma chance...”
Ao me responder ele também sorriu e me disse que a tarefa de escolher sorrisos seria muito difícil; que passavam por ali sorrisos brilhantes, sorrisos sexagenários, sorrisos adolescentes, sorrisos asiáticos... “Mas”, disse-me ele, “você tem alguma chance...”
(Atravessando Abbey Road - arq. pessoal)
Depois de comentar o assunto com a minha mulher, hoje, no café
da manhã, fiquei me perguntando:
- “Será que meu sorriso está dependurado em alguma parede de Nova Iorque ou Londres? Será que está encartado em alguma revista, em uma foto junto com uma porção de gente que cruzou a Abbey Road? Ou será que simplesmente foi deletado da máquina do fotógrafo?”
Sei lá... o que sei é que foi muito emocionante cruzar aquela rua, naquela faixa, naquele dia...
- “Será que meu sorriso está dependurado em alguma parede de Nova Iorque ou Londres? Será que está encartado em alguma revista, em uma foto junto com uma porção de gente que cruzou a Abbey Road? Ou será que simplesmente foi deletado da máquina do fotógrafo?”
Sei lá... o que sei é que foi muito emocionante cruzar aquela rua, naquela faixa, naquele dia...
Obs.: comprei numa lojinha temática (só Beatles) ali por perto alguns
marcadores de livro, decalques e pequenos souvenirs para os meus amigos... mas ainda estou esperando um encontro musical com
eles para poder comentar o assunto... e presenteá-los.
RP, 15jul2012