Cumpro as obrigações do dia e fico olhando a rua
pela janela. Cinco da tarde. Impossível ouvir no rádio qualquer coisa aproveitável.
Quanta porcaria! Não me submeto a isso. Desço as escadas. Procuro uma esquina
para me encostar em um poste e ficar parado, na esperança de encontrar meus amigos.
(Banda Terra Seca - meus amigos João, Nanão, Zé Rubens - foto: arq. pessoal)
- “Cadê
o Nanão, o Marquinho; cadê o Zé Américo, cadê o João, o Julim Batata; cadê o Júnior,
cadê o Quim, cadê o Paulinho; cadê o Tigrão, o Mamãn...?”
- “Besteira,
por aqui não passarão...” - eu mesmo me respondo calado.
Entro no carro e me misturo na confusão do
trânsito de sexta-feira. O mundo inteiro, ansiosamente, faz barulho lá fora.
Aqui dentro, batendo asas no para-brisa, um pequeno inseto me faz companhia.
Atravesso as avenidas, paro no farol; um menino me
oferece doces, um senhor me pede uma moeda. Acelero o carro e sigo na direção
do movimento...
Coloco prá tocar um CD que ganhei do Zé Américo,
com capa personalizada, dedicatória e assinatura: setembro de 2002. A primeira música,
“Let’s get together”, Youngbloods. Nela estamos todos...
Ouvindo “Let’s get together” faço uma ligação pelo
celular. Lá longe ouço a voz do Renatão atendendo a chamada.
- “Alô, alô...
alô... alô... Bosta! quem é?”
Não digo
nada... Rio.
Passadas algumas frações de
minuto ele desiste de falar. Aumento o volume. Ele fica em silêncio, atento; não desliga; ouve a música e
começa a cantar. Entro no mesmo tom, me ajeito no banco do carro, levanto os
vidros de todas as janelas, ligo o ar condicionado, e canto junto...
"C'mon people now
Smile on your brother
Ev'rybody get together
Try and love one another right now"
A música
termina e ouço lá longe uma exclamação de surpresa e contentamento:
- “Caraaaaio... que tesão de música!”
Depois desligo o celular sem falar nada. Ele sabe
que sou eu. Somos dois amigos “dinossauros” nesse emaranhado de carros e
prédios... e estações de rádio vagabundas!
(fonte: http://www.allmusic.com/album/the-youngbloods-mw0000075743)
cadê o Edson e seu corcel amarelo , sem teogonia , sem mar , sem BH.cadê meu amigo Elias agora tão distante entre carros e zumbidos nesta sexta-feira sem cesta sem feira.ainda bem que restou o julim batata e olha que não é pouca coisa não.cadê o piano prá comprar e o violão pra consertar perto da estação....
ResponderExcluirPois é, Edson, muita coisa boa acaba passando (as ruins também, felizmente) e a gente nem se dá conta... passam as coisas e passamos nós. Fico contente que tenha visitado o blog, lido o texto, e postado a mensagem acima relativa às coisas que o texto despertou em você. Grande abraço.
ExcluirBom saber que se tem um amigo! E que você tem a quem telefonar, Elias. Esse mundo corrido, esse movimento contínuo e quantas vezes, a gente só quer ouvir uma boa música, bater um papo com um amigo... Escutar e se sentir ouvido! Abraço, Elias. Flávia
ResponderExcluirObrigado, Flávia, pelas observações que você postou. Obrigado pelas visitas que faz ao blog e por compartilhar conosco as impressões que os textos fazem nascer em você.
ExcluirElias, você é que é um DINOUSSAURO. Benditas são suas tardes inspiradoras!
ResponderExcluirMeu amigo Charlie... Fiquei contente em saber que você visitou o blog e leu o texto. Obrigado pela mensagem. Grande abraço. E feliz aniversário atrasado.
ExcluirObrigado por lembrar de meu níver. É sempre em tempo. Pois é, tenho entrado em seu blog regularmente. Mas, não escrevo - não respondo sempre. Quanto a você, continue, pls!
ExcluirQuerido amigo Elias, obrigado pela referência. Somos todos dinossauros quando se trata das músicas boas que formaram nossa trilha sonora de vida. E sobre a saudade daqueles com os quais vivenciamos essa trilha sonora, também tenho muitas saudades, principalmente dos que já partiram. E olha que foram muitos os que partiram, e nesse caso também podemos considerar que somos dinossauros. Apesar do sentimento angustiante que as lembranças podem trazer, é ao mesmo tempo um alento agradável relembrar os momentos marcantes de nossas vidas. Abraços.
ResponderExcluirAcho que no fim das contas só temos que agradecer por termos a felicidade de sermos movidos a música; que muitas delas nos remetem a amigos que estão conosco ou que já partiram, mas que dentro de nós, tanto uns quanto outros, seguem cheios de vida. Grande abraço, e obrigado pelas suas observações.
ExcluirTarde de sexta, tempo prometendo chuva, na "linha do trem", entre a estação e a rua deputado joao de faria, dois amigos aguardam chegar no trem das 4 vindo de rib preto, compacto de Don'T let me down. Estamos no dia 21 de maio de 1969. Olham um para o outro e dizem: chegou. Ainda hoje ouço o apito do trem.
ResponderExcluirQuerido amigo. Com dois anos de atraso venho responder seu comentário. Você, também um grande dinossauro, guardou muitas histórias. Contudo, por você já não mais podemos conhecê-las. Te agradeço pelo depoimento, e te digo que fiquei muito feliz... Obrigado.
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