("Oscar Niemeyer" - fonte: news.yahoo.com)
Cheguei no escritório hoje de manhã e fui direto à estante procurar
uma coletânea de crônicas do Oscar Niemeyer (1). Ainda trazia na cabeça a mensagem
enviada de Brasília pelo meu filho – Gabriel - ontem à noite, perguntando-me se eu ficara
sabendo da morte do Oscar:
- Pai, você viu que o Niemeyer morreu? – perguntou-me ele, via “torpedo”
no celular.
O Niemeyer - esclareço - sempre foi um nome que me acompanhou a
vida toda. Não que eu conhecesse bem e estudasse seu trabalho de traçar linhas que
se harmonizam com a natureza. Mas ele sempre foi para mim um personagem quase que
fictício, uma obra da imaginação, dos livros, das revistas, de referências enfim.
Sempre que leio ou ouço seu nome o que me vem são seus traços leves, as ideias de
humanismo, leveza e modernidade.
Fui conhecer melhor seu trabalho há poucos anos quando estive em
Brasília pela primeira vez - e me encantei pela cidade. Foi um encantamento comum -
meu e do meu filho, que descobriu a cidade comigo.
Depois, em viagem pela Inglaterra no ano passado, ao apresentar o
Brasil para rotarianos de lá, falava do Niemeyer com emoção e orgulho sempre
que em alguma reunião sua figura e suas obras eram projetadas em slide na tela:
- This
man is over 100 years old and is still teaching us how to live... (Esse
homem tem mais de 100 anos e ainda está nos ensinando a viver) – eu comentava.
Pois a primeira crônica que li hoje, ao abrir a coletânea, falava de
viagens e de nuvens (2). Nela o Niemeyer descrevia suas viagens de carro a Brasília.
Ele comentava que sua distração era ficar olhando as nuvens; que as nuvens no
espaço iam formando figuras, catedrais, guerreiros, monstros, mulheres; mas que
as figuras iam se deformando, desfazendo, fustigadas pela fúria dos ventos. E, no
final, ele comparava nossa existência com as nuvens que eram formadas:
“(...) senti como aquela metamorfose perversa se assemelhava ao nosso
próprio destino, obrigados a nascer, crescer, lutar, morrer e desaparecer, para
sempre (...).”
Ao falarmos de Niemeyer, inevitavelmente o associamos à
Arquitetura. Fica na gente a ideia de um homem fazendo traços, com o pensamento
voltado exclusivamente para algum projeto (arquitetônico). E ele mesmo, em “Arquitetura em Debate” da mesma coletânea
de crônicas, comenta sua atividade profissional:
“Na verdade, é debruçado na prancheta que passo os dias, trabalhando
das 9:00 até à hora do jantar(...).”
E no mesmo texto, concluindo seu raciocínio, continua:
“(...) mas sempre reservando um tempo para ficar sozinho a cuidar dos
meus projetos (...) ou a pensar na vida, no ser humano tão frágil e
desprotegido, neste mundo estranho e injusto que devemos modificar. Tudo isso,
mais importante do que a arquitetura.”
Pensando nessas coisas, e já me ajeitando para as lidas do meu trabalho,
reabri a caixa de mensagens do meu celular para reler minha reposta ao
“torpedo” do meu filho:
- Vi sim, filho [a notícia da
morte do Niemeyer]. Sua irmã me contou. Ele sempre foi uma referência para o Brasil no exterior. E
continuará sendo. Tudo tem seu tempo... Até o nosso tempo de existência. Fica o
que fizemos. Boa noite. Beijão. Daddy.
(1) Nyemeyer, Oscar. Crônicas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Revan, 2008
(2) "Nuvens"
RP, 06dez12
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