("Cândido Mariano da Silva Rondon", o Marechal Rondon - foto: www.famososquepartiram.com)
Nem bem comecei o dia e a Regina já me trouxe a notícia:
- Teve uma briga feia numa escola lá de Guará! Deu na televisão!
Como em geral falam muita coisa por aí, e como em geral brigas feias acontecem a toda hora, não dei muita atenção ao assunto. Até que pensei melhor no que ela havia me dito e perguntei onde a briga havia sido.
- "Foi numa escola; 50 meninos quase se mataram", respondeu-me ela.
Como há em Guará escolas com nome de parentes meus, e como lá também estão as escolas onde cursei o primário, o ginasial e o colegial, procurei maiores esclarecimentos sobre o assunto.
A informação que a Regina me trouxera deixou-me pensativo. Fiquei ressentido, achando que aquilo não poderia ter ocorrido em uma escola. Ainda mais em Guará, terra de gente tão pacífica e amorosa. Afinal, as escolas foram feitas para dar bons exemplos...
- "Não, não poderia ter sido em Guará, tampouco em uma escola!" - pensava eu.
Procurei um jornal e lá estava a notícia estampado em manchete:
"POLÍCIA INVESTIGA BRIGA GENERALIZADA EM ESCOLA PÚBLICA DE GUARÁ - Pelo menos 50 alunos se envolveram no tumulto" (1).
Na internet, além da notícia, o vídeo mostrava tudo: "Briga no Rondon", conclui eu.
- No Rondon, puxa...Estudei lá...
Não me foi confortável ver o nome do "Rondon" vinculado a uma pancadaria. Nos meus anos de "Rondon", se alguém brigava, tinha vergonha de fazê-lo dentro da escola. Fazia-o longe, depois do final de todas as aulas do dia. As partes envolvidas combinavam o "acerto de contas":
- "Me espera na descida!" - era assim que os aparos de arestas menos civilizados eram combinados...
...e "a descida" significava o ponto da rua onde tudo acontecia. Era ali, todos nós sabíamos onde...
Tudo tinha que ser longe da escola. Não poderíamos desonrar o bom exemplo do nosso patrono; tampouco macular a boa reputação e os bons exemplos que nos davam nossos professores. Afinal o Marechal Rondon, Cândido Mariano da Silva Rondon, militar e sertanista matogrossense que ainda dá nome àquela escola, não poderia estar vinculado a uma história de brigas. Nem o nome dele, como pessoa, e nem a própria escola. Ele havia cuidado da integração do Brasil, desbravado pacificamente a região centro-oeste e parte da norte, havia levado para lá linhas de telégrafo interlingando o litoral brasileiro ao pantanal e à selva amazônica. Ele era, portanto, uma boa referência que tínhamos... e foi também exemplo e referência, como indigenista, para muitos outros brasileiros - como os irmãos Villas-Boas e o Darcy Ribeiro.
Como, então, desmerecer o privilégio de ser um aluno do "Rondon"? Não, isso, nós meninos daquela escola, não podíamos fazer...
Pelos ensinamentos transmitidos pelos professores do "Rondon" muitos garotos e garotas cresceram e tornaram-se adultos vencedores.
Certamente há hoje na escola professores, funcionários e dirigentes que fazem nascer nos alunos bons ideais, que são para eles uma boa referência. Mas é bom lembrar que por aquela escola passaram seres humanos de exemplos e lembranças memoráreis: Professores Bellido, Joaquim, Sother, Sebastião, Antônio, Toufic; Professoras Assaka, Rosa, Gleide, Cidinha, Carminha, Sônia... Sr. Rodini, Sr. Tonico, Dna. Neguinha, Dna. Erondina... e tantos e tantas outras mais...
Seria bom que os jovens que ali estudam hoje soubessem que pelos bancos do "Rondon" passaram e formaram-se líderes, vencedores e vencedoras, pais de família e mães lutadoras, jovens de então que, assim como o próprio Rondon, foram à luta pelos seus ideais e venceram: hoje são médicos, promotores, juízes de direito, advogados, engenheiros, comerciantes, administradores públicos, políticos, agricultores, pais e mães bons, íntegros e responsáveis - como qualquer um que hoje ali estuda pode vir a ser!
Não é justo, portanto, que as gerações atuais esqueçam e maculem o bom nome que o "Rondon" sempre teve... nem tampouco é justo que desonrem a memória de todos que por ali passaram.
(1) Jornal "A Cidade", 02/abril/13
Olá Elias, bem colocado suas palavras sobre esta briga boba que envolveram alunos do "Rondon". Seria interessante que a diretoria da escola lessem aos alunos isto que voce escreveu. Um abraço.
ResponderExcluirAntonio Tannous (Londrina-PR)
Olá, Batrício! Obrigado pelo seu comentário. Grande abraço!!
ResponderExcluirSábias palavras, Elias, passamos todos pelo Rondon, tivemos nossas traquinagens mas sempre imperou o respeito, pela instituição, professores, diretores, e com a Cidade, em que nascemos. Lamentável o ocorrido.
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