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Sinfonia nº 7 em Lá Maior - Op. 92 - II. Allegretto - Beethoven -
https://www.youtube.com/watch?v=vCHREyE5GzQ
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José Castello, em "O poeta da paixão"*, conta que Paulo Mendes Campos, um dia, puxou assunto com o Vinícius de Moraes.
- Pois é, Vinícius, você anda por todos os bares, e se dá bem com todo mundo. Qual é o teu segredo?
E o Vinícius, sem se atordoar ou mostrar-se envaidecido, assim respondeu:
- É por que eu sou um sujeito que tem a harmonia das esferas. (...).
Depois de ter assistido esse depoimento do Vinícius em um programa antigo da TV Cultura (Ensaio, 1974), e depois de tê-lo lido anos mais tarde no livro do José Castello (1994), fiquei tentando entendê-lo melhor, fazendo minhas análises e comparações.
De fato, as esferas são harmônicas. Não possuem lados. Elas são lisas, não possuem arestas. Por não possuírem arestas não ferem, não arranham, não se desincompatibilizam. Contudo, justamente por não possuírem arestas ou ângulos retos, rolam de um lado para outro ao sabor de qualquer impulso.
O cubo, por sua vez, apesar de sua superfície lisa, tem diferentes lados, ângulos retos que formam quinas, que são enormes arestas. Essas arestas podem causar arranhões e ferimentos em quem o toca. Ele - o cubo - não está sujeito a mudanças fáceis e constantes de posição. É necessário que seja superado por uma força forte o suficiente para que altere o seu posicionamento. Porém, aceita as mudanças de lado e consegue repousar... até que uma outra força forte o suficiente provoque uma nova mudança.
Assim os homens.
Os esferas estão em harmonia aparente com todos; contudo, não sustentam posição, não se mostram; os cubos podem ferir, podem arranhar, porém sustentam posicionamentos até que outros, convincentes, o façam mudar de posição até um novo repouso.
Os esferas, por não conterem arestas, não conseguem se encaixar. Estão sempre a rolar de um lado para outro, harmonizando-se com um aqui, com outro acolá. Mas, pela sua forma, estão impossibilitados de encaixe. O esfera harmônica rola em torno de si, não fere... porém, não constrói.
Os cubos, por sua vez, e por possuírem as arestas naturais e ângulos retos, conseguem se encaixar perfeitamente em outros cubos, justamente por esses outros cubos também possuírem arestas e ângulos retos. De tal forma que, justapostos a outros cubos - apesar das arestas, e independente do lado em que o encaixe ocorra - formam uma superfície só, uma parede, uma muralha altamente resistente... inclusive aberta a novos encaixes...
E o próprio poeta, no programa de TV e no livro do José Castello, assim conclui seu raciocínio:
- Isso [ter a harmonia das esferas] não é uma qualidade, é também um sinal de fraqueza de que não devo me orgulhar muito.
Quanto a mim, vou aprendendo com o tempo que não preciso ter a harmonia das esferas para estar bem comigo mesmo e com todos; que posso ser cubo... e que somente minhas arestas naturais fazem de mim o que sou.
E o próprio poeta, no programa de TV e no livro do José Castello, assim conclui seu raciocínio:
- Isso [ter a harmonia das esferas] não é uma qualidade, é também um sinal de fraqueza de que não devo me orgulhar muito.
Quanto a mim, vou aprendendo com o tempo que não preciso ter a harmonia das esferas para estar bem comigo mesmo e com todos; que posso ser cubo... e que somente minhas arestas naturais fazem de mim o que sou.
(Vinícius de Moraes mostrando a língua para o pessimismo. Fonte: http://ac2brasilia.blogspot.com.br/2014_01_26_archive.html). Creio que essa foto foi um momento "cubo" do Vinícius.