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"Penny Lane is in my ears and in my eyes"
Uma rua não é simplesmente um "leito carroçável" de veículos (aliás, que nome horroroso!) Uma rua é também composta por uma sequência de imóveis, com uma calçada por onde passam pessoas. Pode ter o perfil residencial ou comercial. Ou, ainda, pode ser a mistura desses dois perfis. Pode ser que nada tenha a acrescentar na vida de ninguém. Pode ser que por ela raros veículos trafeguem e poucas pessoas caminhem pela calçada. Pode ainda ser um tedioso ir e vir de automóveis e pedestres.
Mas uma rua pode também ser um universo onde tudo acontece.
Em Liverpool, na Inglaterra, Penny Lane é uma rua de bairro que, há muitas décadas, nada acrescentava na vida de ninguém. Pelo menos na vida daqueles que não haviam criado com ela algum tipo de cumplicidade, algum laço de afeto. Mas para os Beatles era ali que tudo acontecia.
(Fonte: http://silverkgallery.com.au/rock-n-roll-photography/the-beatles/saturday-morning-with-the-beatles/)
Eu também tive uma rua que encerrava em si todos os acontecimentos do mundo.
Se na Penny Lane dos Beatles* havia um barbeiro que mostrava fotos de cortes de cabelo que ele havia feito, na minha Penny Lane** também havia uma barbearia constantemente repleta de gente para conversar, olhar o movimento, ouvir rádio, ou simplesmente cortar os cabelos.
Se na Penny Lane dos Beatles havia um banqueiro com um carrão, na minha havia três agências bancárias onde todos que nelas trabalhavam ou entravam eram conhecidos meus; se na Penny Lane dos Beatles havia uma enfermeira vendendo papoulas em uma bandeja, na minha havia vários comerciantes ambulantes perambulando pela calçada e vendendo, desde "quebra-queixo" e vassouras, até buchas para banho.
(Barbearia do Lopes - Lopes e Pinheiro executando seu trabalho - foto postada pelo Ivertson no facebook)
Se na Penny Lane dos Beatles havia um banqueiro com um carrão, na minha havia três agências bancárias onde todos que nelas trabalhavam ou entravam eram conhecidos meus; se na Penny Lane dos Beatles havia uma enfermeira vendendo papoulas em uma bandeja, na minha havia vários comerciantes ambulantes perambulando pela calçada e vendendo, desde "quebra-queixo" e vassouras, até buchas para banho.
Além de mencionar um bombeiro com uma foto da rainha no bolso, os Beatles não vão além contando o que mais havia em Penny Lane. Mas na minha Penny Lane havia mais... Havia um cinema onde o mundo era projetado na tela todos os dias; duas farmácias na porta das quais eu ficava conversando sobre o futuro; um bar onde eu e meus amigos jogávamos xadrez, comíamos bauru, e chupávamos picolé de abacaxi; uma loja de tecidos onde seu proprietário comentava comigo as notícias do oriente médio; e uma quitanda onde se discutia futebol. Mas especialmente havia, na minha Penny Lane, duas outras lojas - uma de calçados e outra de roupas feitas - onde eu passava a maior parte do meu tempo observando, conversando, olhando os carros passar e, esporadicamente, comentando as ocorrências locais e as coisas da vida com um ou outro que se dispunha a isso.
(Meus amigos Fernando e Rando em uma das farmácias na minha Penny Lane - anos 70: foto por Luiz Fernando no facebook)
Quantos de nós carregamos pela vida inteira as lembranças de uma rua onde nossas primeiras descobertas aconteceram ou onde nossas doces lembranças ficaram? O Vinícius nos falou de reuniões que ocorriam na Rua Nascimento Silva, no Rio, em "Carta ao Tom"; o Tavito anotou lembranças em "Rua Ramalhete"; Luiz Carlos e Chiquinho, em "Do lado direito da Rua Direita", assim como Nelson de Barros e Frederico Valério, no fado "Na rua dos meus ciúmes", e Newton Carlos Teixeira e Jorge Vidal Faraj, em "A deusa da minha rua" falam de ruas que para eles ficaram guardadas por ter ocorrido, em cada uma delas, um fato isolado.
(Desfile de aniversário da cidade na minha Penny Lane - década de 60 - foto postada por Marilúcia Rodrigues no facebook)
A Penny Lane dos Beatles não deixou de existir para eles depois que eles se tornaram os ídolos e símbolos de uma geração. Não raramente ainda trafego pela minha Penny Lane. Mas a rua pela qual passo já não é mais a mesma. Assim como para os Beatles, a minha Penny Lane ficou guardada "nos meus ouvidos e nos meus olhos". A deles, embaixo de um céu azul de um subúrbio da cidade de Liverpool; a minha, também embaixo de um céu azul, porém constantemente ensolarado, e com a diferença de ser a rua mais importante e mais movimentada de uma típica cidadezinha do interior paulista, cortada por uma estrada de ferro, onde (também) tudo acontecia.
Penny Lane
Penny lane there is a
barber showing photographs
Of every head he's had
the pleasure to have known
And all the people that
come and go
Stop and say hello
On the corner is a banker
with a motor car
The little children laugh
at him behind his back
And the banker never
wears a mac in the pouring rain
Very strange
Penny lane is in my ears
and in my eyes
There beneath the blue
suburban skies
I sit and meanwhile back
In penny lane there is a
fireman with an hourglass
And in his pocket is a
portrait of the queen
He likes to keep his fire
engine clean
It's a clean machine
Penny lane is in my ears
and in my eyes
A four of fish and finger
pies
In summer, meanwhile back
Behind the shelter in the
middle of the roundabout
The pretty nurse is
selling poppies from a tray
And though she feels as
if she's in a play
She is anyway
Penny lane the barber
shaves another customer
We see the banker sitting
waiting for a trim
And then the fireman
rushes in from the pouring rain
Very strange
Penny lane is in my ears
and in my eyes
There beneath the blue
suburban skies
Penny lane is in my ears
and in my eyes
There beneath the blue
suburban skies
Penny lane
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Penny Lane
Em Penny Lane há um barbeiro mostrando fotos
De cada cabeça que ele teve o prazer de conhecer
E todas as pessoas que vão e vem
Param e dizem oi
Na esquina há um banqueiro com um carro
As criancinhas riem dele por suas costas
E o banqueiro nunca usa uma capa na chuva
Muito estranho
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Lá embaixo do céu azul do subúrbio
Eu sento e enquanto isso
Em Penny lane há um bombeiro com uma ampulheta
E no seu bolso há uma foto da rainha
Ele gosta de manter seu motor limpo
É uma má quina limpa
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Por uma torta de peixe com dedo
No verão, enquanto isso
Atrá s do abrigo no meio do carrossel
A bonita enfermeira vendendo papoula em uma
bandeja
E embora ela sinta como se estivesse em uma peça
Ela está mesmo
Penny Lane o barbeiro faz a barba de outro cliente
Nós vemos o banqueiro sentado esperando por um
trato
E então o bombeiro corre para dentro vindo da
chuva
Muito estranho
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Lá embaixo do céu azul do subúrbio
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Lá embaixo do céu azul do subúrbio
Penny Lane
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*Penny Lane - canção composta por Lennon e McCartney, e lançada pelos Beatles em fevereiro de 1967
**Rua Deputado João de Faria, em Guará, SP - a minha Penny Lane
Ahhh minha Penny Lane... vivi uma época tão legal nessa rua também!
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