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("Saudade do Brasil" - Tom Jobim - do álbum "Urubu", 1975)
"de olhos fechados posso ir onde quiser"
(sabedoria popular)
A cordilheira dos Andes é uma cadeia de montanhas existentes na costa ocidental da América do Sul. Ela marca a paisagem do Chile, da Argentina, do Peru, da Bolívia, do Equador e da Colômbia, estendendo-se desde a Patagônia até a Venezuela. Nunca a vi, nunca passei por ela.
Um acidente de avião que lá ocorreu em 1972 e do qual tive notícia pelos jornais da época - e depois, com mais detalhes, li o livro* -, trouxe os Andes para o meu imaginário. Nesse acidente alguns passageiros sobreviveram e ficaram 72 dias rodeados por horizontes brancos, perdidos na neve. Para se manterem vivos tiveram que se alimentar da carne dos demais passageiros que haviam morrido.
(Os sobreviventes, no momento em que foram localizados - Fonte: https://viaveneto.wordpress.com/2012/01/09/era-uma-casa-muito-engracada-no-uruguai/)
Não sei porque penso com frequência na foto que foi tirada quando os sobreviventes desse acidente foram encontrados. Fico com o coração apertado. Sozinhos, perdidos, quase entregues... manchas negras moventes no imenso lençol de neve. E ao pensar nessas coisas a imagem que me vem, diferente do que se poderia imaginar, é de um oceano de gelo sem tormentas; que a ninguém proporciona sofrimento, desamparo, desespero ou solidão - só branco, vapor de água e silêncio, sugerindo a possibilidade de renascimento e renovação - como um resgate.
Quando ouço "Saudade do Brasil", como faço agora, volto para casa. Volto para o Brasil. Volto para o Tom e volto para o Villa-Lobos. Volto para o abraço de pessoas queridas. Com o mesmo amor desesperado que cada sobrevivente daquele acidente aéreo retornou ao seu lar; com o mesma sensação de amparo que Exupéry sentia cada vez que pousava seu avião monomotor após um voo noturno.
Essa música faz com que eu me sinta no litoral do Chile, de costas para o mar, com os olhos postos na Cordilheira. E por detrás da Cordilheira
coberta de neve ouço vozes de anjos cantando. Para poder ouvi-los melhor
subo em uma das montanhas. Lá do alto, mirando o continente, caminho
para atravessar as terras frias do Chile e da Argentina. Aos poucos vou
adentrando o território brasileiro, verde, rico, fértil e abundante em
água - o país do meu chão e dos anjos cantores que me proporcionam
beleza, alegria, e esperança.
Meu amigo e minha amiga. A gente percebe nitidamente que o alemão Claus Ogerman** conseguiu estar no nosso país quando colocou arranjos em "Saudade do Brasil" - de autoria do Tom. Certamente foi no Brasil também que os músicos da Orquestra Sinfônica de Nova Iorque sentiram estar quando, no final de sua gravação, em outubro/75, aplaudiram de pé o seu autor***. Então agora é a sua vez. Ouça "Saudade do Brasil" sem nenhuma interferência externa. Ouça com o coração... Os anjos, ao ouvi-la, não cantam também para você? Ao ouvi-la, não sente querer reencontrar o Brasil? os rios? a mata? os pássaros? os indígenas? a inocência perdida? Para onde essa música te leva? Ouça deixe-se conduzir... e depois me conte por onde andou.
Meu amigo e minha amiga. A gente percebe nitidamente que o alemão Claus Ogerman** conseguiu estar no nosso país quando colocou arranjos em "Saudade do Brasil" - de autoria do Tom. Certamente foi no Brasil também que os músicos da Orquestra Sinfônica de Nova Iorque sentiram estar quando, no final de sua gravação, em outubro/75, aplaudiram de pé o seu autor***. Então agora é a sua vez. Ouça "Saudade do Brasil" sem nenhuma interferência externa. Ouça com o coração... Os anjos, ao ouvi-la, não cantam também para você? Ao ouvi-la, não sente querer reencontrar o Brasil? os rios? a mata? os pássaros? os indígenas? a inocência perdida? Para onde essa música te leva? Ouça deixe-se conduzir... e depois me conte por onde andou.
(Tom Jobim - fonte: http://www.precisadisso.com/2011/08/tom-jobim.html)
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*READ, Piers Paul. Os Sobreviventes. Ed. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1974
**Claus Ogerman - compositor e arranjador alemão, com cidadania estado-unidense
**Claus Ogerman - compositor e arranjador alemão, com cidadania estado-unidense
***Conforme consta no site do instituto Antonio Carlos Jobim - http://www.jobim.org/jobim/handle/2010/8369
Que lindo. Você encanta a gente com seus textos. São envolventes como as músicas que embalam a escrita. E concordo bem com você como Villa-Lobos influenciou Tom Jobim e entendo perfeitamente o prazer do retorno ao lar já que pude vivenciar isso. Abraços e saudades.
ResponderExcluirMeu amigo João. Obrigado pelas suas observações e pelos seus comentários. Grande abraço.
ExcluirEsse episódio também marcou minha vida. Deus sabe o motivo.
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