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Ao "Seu" Arthur
A cada vez que mudamos de endereço ganhamos novos vizinhos. E por capricho do acaso ou acaso na escolha, estamos sujeitos a ter perto da gente vizinhos com o mais variado perfil.
Desde que precisei sair de casa para estudar, e até hoje, tive diversos tipos de vizinhos: bons, ruins, indiferentes, belicosos, ausentes, próximos e distantes. Seria um privilégio poder ter sempre um vizinho capaz de inspirar sentimentos bons, ou que pudesse proporcionar estímulos de vida e sabedoria pelo simples fato de ser vizinho e desenvolver algo interessante que pudesse ser visto em sua rotina de vida.
Pois enquanto menino fui privilegiado pelo vizinho que tive. Morávamos - meus pais, minha irmã e eu - em uma casa que era (e ainda é) separada da casa do vizinho por um pequeno corredor. Ali vivia um maestro* com sua esposa. Da janela do quarto dos meus pais eu olhava sua sala de trabalho, por onde passavam estudantes que pouca ou nenhuma oportunidade de estudar música teriam em qualquer outra cidade - mas que, a custo nenhum, eram alunos do meu vizinho.
Estando em casa, muito do meu tempo eu passava na biblioteca do meu pai. Ali, entre figurinhas do Príncipe Valente e ilustrações dos grandes enigmas do universo trazidos pela enciclopédia "Trópico", eu ficava ouvindo solfejos e notas de clarineta, acordeon, piano, saxofone, trombone e violão.
No fundo de minha casa, da janela do meu quarto, eu podia ver o meu quintal e o quintal do meu vizinho. Debruçado nela eu acompanhava os ensaios noturnos semanais de sua orquestra, ...
... e de sua banda que enchia de alegria a cidade quando saía pelas ruas tocando marchas, hinos e dobrados.
* além de maestro foi empresário: dono de loja de móveis, vidraçaria e funerária.
Desde que precisei sair de casa para estudar, e até hoje, tive diversos tipos de vizinhos: bons, ruins, indiferentes, belicosos, ausentes, próximos e distantes. Seria um privilégio poder ter sempre um vizinho capaz de inspirar sentimentos bons, ou que pudesse proporcionar estímulos de vida e sabedoria pelo simples fato de ser vizinho e desenvolver algo interessante que pudesse ser visto em sua rotina de vida.
Pois enquanto menino fui privilegiado pelo vizinho que tive. Morávamos - meus pais, minha irmã e eu - em uma casa que era (e ainda é) separada da casa do vizinho por um pequeno corredor. Ali vivia um maestro* com sua esposa. Da janela do quarto dos meus pais eu olhava sua sala de trabalho, por onde passavam estudantes que pouca ou nenhuma oportunidade de estudar música teriam em qualquer outra cidade - mas que, a custo nenhum, eram alunos do meu vizinho.
Estando em casa, muito do meu tempo eu passava na biblioteca do meu pai. Ali, entre figurinhas do Príncipe Valente e ilustrações dos grandes enigmas do universo trazidos pela enciclopédia "Trópico", eu ficava ouvindo solfejos e notas de clarineta, acordeon, piano, saxofone, trombone e violão.
No fundo de minha casa, da janela do meu quarto, eu podia ver o meu quintal e o quintal do meu vizinho. Debruçado nela eu acompanhava os ensaios noturnos semanais de sua orquestra, ...
("Bini e sua Orquestra" -baile de gala- foto postada por João Palma no facebook. Fonte: Walter Simões)
... dos grupos musicais por ele montados para animar bailes de carnaval, ...
("O Grupo de Carnaval" - o meu vizinho é o 7º da esquerda para a direita - foto postada por João Palma no facebook)
... e de sua banda que enchia de alegria a cidade quando saía pelas ruas tocando marchas, hinos e dobrados.
("A Banda - antigos integrantes" - fonte: Ivete Berto, postada no facebook)
Hoje meu vizinho do norte é o espaço aéreo da rua onde moro; o do sul, um senhor de olhar vazio que murmura um "bom dia" protocolar sempre que me vê no elevador; o do leste, duas senhoras misteriosas e carrancudas que têm cara de mal-estar e nunca sorriem; a oeste, o apartamento está fechado há anos e nunca vi ninguém ali. No andar de cima meu vizinho é um militar aposentado que, de forma arrogante, mal me cumprimenta; no de baixo, um casal que nunca vejo e que por terem um filho recém nascido, reclamam de todo e qualquer som emitido no condomínio depois das dez da noite - conforme me contou o zelador. Do apartamento de qualquer um desses vizinhos nunca ouvi uma música sequer.
Com esse peso em todos os pontos cardeais, quero ainda um dia promover uma grande festa em minha casa. Meus convidados serão esses meus vizinhos. Quero poder contar a eles do vizinho que tive. Tenho o desejo e a ilusão de que esses meus vizinhos atuais, ao me ouvirem contar a história de meu vizinho antigo, irão se levantar de suas cadeiras e me abraçar com sorrisos largos, pedindo que eu coloque um disco do Glenn Miller para podermos dançar ao som de sua música, beber, rir alto, e celebrar a vida. E nós assim, em uma tremenda celebração de boa vizinhança, dançaremos em memória do vizinho genial que um dia eu tive. Um vizinho que, além de ter tido a paciência de ter me ensinado as primeiras notas e acordes de violão,...
('Meus primeiros acordes" - 1966 - foto: arq. pessoal)
... tornou-se doce lembrança... E, merecidamente, nome de escola na minha inesquecível cidade de Guará: a "Escola Técnica de Artes Maestro Arthur Affonso Bini".
(Escola Técnica de Artes Arthur Affonso Bini - Fonte: http://www.megainterior.com.br/portal/?pg=noticia&id=593 - por Laurel Lopes)
* além de maestro foi empresário: dono de loja de móveis, vidraçaria e funerária.
Belas reminiscências em belo texto. Muito parecido com minha história pessoal mas, com apenas um detalhe: nunca fui seu aluno. Tive muito contato com ele e pude perceber sua genialidade musical. Parabéns uma vez mais. Grande abraço.
ResponderExcluirPois é, fui privilegiado por ter tido com ele minhas primeiras aulas de música. No entanto, faltou-me um mínimo de aptidão. Mas você, mesmo não tendo sido aluno do maestro, tem o talento musical que nós, seus amigos, muito admiramos. Obrigado pelo comentário, João. Grande abraço.
ExcluirBoas lembranças,privilégio para nós que vivemos isso em nossa infância e juventude.
ResponderExcluirEu adorava os ensaios de carnaval.
A rua ficava toda animada e nos ainda crianças brincávamos ouvindo ao ensaio do maestro.
Parabéns Elias.
Isso mesmo, Eliana, exatamente assim como você descreveu. Obrigado pelo comentário. Grande abraço. Elias.
ExcluirOlá, Elas. Merecida homenagem a esse que foi um dos maiores artistas da cidade. Quanto privilégio ter sido vizinho dele. A leitura de sua bela crônica me permitiu viajar ao passado e relembrar os vizinhos que tive, alguns excelentes amigos, outros apenas interessantes, e outros desses que você descreveu, indiferentes. Infelizmente, nos tempos atuais, especialmente nas grandes cidades, vizinhos passaram a ser quase que apenas cohabitantes anônimos. Quando muito presentes, ganhamos um gelado "bom dia". Isso se tiverem o azar de ter que compartilhar uma pequena viagem de elevador. Pouco material para nossos netos poderem escrever uma boa crônica. Parabéns, amigo. Seu ipê amarelo está cada dia mais florido, e querendo virar livro.
ResponderExcluirDe fato, Lucas, o maestro foi uma figura diferenciada, um vizinho muito querido e admirado. Obrigado pelo comentário. Nós ainda vamos juntar suas fotos com os textos... Grande abraço.
ExcluirFui a muitos bailes com a participação da orquestra guaraense, dirigida pelo maestro Arthur Bini, um cidadão muito educado, brincalhão e bom comandante dos músicos guaraenses.
ResponderExcluirPois é, o universo musical do Maestro Arthur Bini ficou na história. Obrigado pela visita e pelo comentário, Zé Maurício. Volte sempre.
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