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"A vida só se dá prá quem se deu"
Na crônica "Encontro"*, escrita pelo Vinícius, ele fala de sua primeira apresentação com o Toquinho e a Marília Medalha juntos. Ele conta que foi no dia sete de setembro de 1970 no Teatro Castro Alves em Salvador, na presença de dois mil estudantes; que, a seu ver, o momento não parecia muito apropriado para um show de música popular brasileira.
Em suas palavras, na crônica "Encontro":
Em suas palavras, na crônica "Encontro":
"À época, tampouco, era muito propícia. A onda da música beat dava apenas os seus primeiros sinais de refluxo, e para a maioria dos contestadores críticos e dos corifeus da contracultura, nós todos, os 'velhos' da bossa-nova, 'já éramos'."
"Felicidade", composta por ele em parceria com o Tom, "Marcha da quarta-feira de cinzas", com o Carlinhos Lyra, "Consolação", com o Baden, dentre outras, faziam parte do repertório daquele show. Ao contrário do que o Vinícius esperava, a plateia os recebeu bem - inclusive cantando junto com eles conforme as músicas iam sendo apresentadas.
O que me pareceu mais interessante, ao ler a crônica, foi saber que em meio a tanta música já consagrada o ponto alto do show foi "Como dizia o poeta" - um sambinha, então, novo, composto pelo Vinícius e pelo Toquinho, em parceria. De fato, o sambinha era (e ainda é) muito bom. Diz o Vinícius que todo o público o cantou de pé.
Até hoje eu fico imaginando o quanto deve ter sido bonito aquele "encontro". Gosto de apresentações musicais em teatros, em espaços menores. Tenho a sensação de que se cria uma grande cumplicidade entre o artista e a plateia. Gostaria de ter estado em Salvador naquele dia; de ter presenciado aquele show.
Daquela noite no Teatro Castro Alves nasceu o disco "Vinícius, Marília Medalha e Toquinho: Como dizia o poeta" (1971). Nele foram gravadas "Tarde em Itapuã", "Tomara", "Mais um adeus" e "Samba de Gesse" - dentre outras.
Ainda estudante, e embalado pelas músicas do disco, fui parar em Salvador. Mas cheguei lá com uns seis anos de atraso em relação à data daquele show! Levava comigo a ilusão de encontrar o Vinícius cantando, bebendo e conversando na praia de Itapuã**. Lembrei-me disso hoje ao receber de minha filha, via whatsapp, a foto do monumento ao Vina, na Praça Vinicius de Moraes, em Itapuã.
Daquela noite no Teatro Castro Alves nasceu o disco "Vinícius, Marília Medalha e Toquinho: Como dizia o poeta" (1971). Nele foram gravadas "Tarde em Itapuã", "Tomara", "Mais um adeus" e "Samba de Gesse" - dentre outras.
Ainda estudante, e embalado pelas músicas do disco, fui parar em Salvador. Mas cheguei lá com uns seis anos de atraso em relação à data daquele show! Levava comigo a ilusão de encontrar o Vinícius cantando, bebendo e conversando na praia de Itapuã**. Lembrei-me disso hoje ao receber de minha filha, via whatsapp, a foto do monumento ao Vina, na Praça Vinicius de Moraes, em Itapuã.
(Monumento a Vinícius - Praça Vinícius de Moraes, Salvador/BA - foto: arq. pessoal)
Escrevendo sobre "Como dizia o poeta", o Vinícius conta nessa mesma crônica que a ideia de compô-la surgiu de um poeminha "ginasial" de Francisco Otaviano*** com o título de "Ilusões da Vida":
ILUSÕES DA VIDA
Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
E, a partir da resposta carinhosa do público naquele show em Salvador, Vinícius conta que sentiu restituída a confiança na música popular - e passou a compor com o Toquinho.
Com o maior carinho guardo em casa, em vinil, o disco "Vinícius, Marília Medalha e Toquinho: Como dizia o poeta". Ele é, para mim, um dos meus mais preciosos guardados - pois foi ele que alimentou minha ilusão infantil de bater um papo com o Vinícius nas areias da praia de Itapuã.
Com o maior carinho guardo em casa, em vinil, o disco "Vinícius, Marília Medalha e Toquinho: Como dizia o poeta". Ele é, para mim, um dos meus mais preciosos guardados - pois foi ele que alimentou minha ilusão infantil de bater um papo com o Vinícius nas areias da praia de Itapuã.
*Crônica que está no livro "Samba Falado". MORAES, Vinícius de. Samba Falado. [organização Jost Miguel, Sérgio Cohn, Simone Campos. Rio de Janeiro: Beco o Azougue, 2008.
**Naquela viagem e naquelas alucinações, acabei mesmo foi encontrando, altas horas da madrugada, em um bar no farol da Barra, meus amigos Paulo, Mofio, Gilmar, Fernando e Moreirinha, que estavam na cidade à passeio.
***Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825-1889) - poeta, jornalista, advogado, político e diplomata fluminense. Foi um dos patronos da Academia Brasileira de Letras.
Parabéns Elias, isso que é letra. 👍👏👏👏
ResponderExcluirObrigado, Nelson. De fato, uma letra genial. Grande abraço.
ExcluirRetrato da vida. Também tenho o mesmo disco em vinil que adoro. Amo Vinícius e mais ainda o violão maravilhoso do Toquinho. Um dia ainda irei tocar como ele. Abraços
ResponderExcluirVocê sempre teve bom gosto, João. E para mim o prazer é o mesmo em ouvir tanto o violão do Toquinho quanto o seu. Abração.
ExcluirMaravilhaaaaa. Como sempre amigo querido. Repleto de poesia,de música de verdade e de sonhos realizados no fundo do coração. Parabéns.
ResponderExcluirMuito obrigado. É muito bom saber que agradou a você. Apareça sempre.
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