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("Uirapuru", de Jacobina e Murilo Latini - Pena Branca e Xavantinho)
Meu tio foi à pesca. Deixou a cidade, os carros, o movimento de pessoas, as notícias dos jornais, e foi.
No dia anterior separou anzóis, carretilhas, molinetes, linhas de diversos diâmetros e origens, varas e iscas artificiais. Por último preparou a ceva com os grãos de milho que haviam ficado de molho por sete dias e sete noites. Tendo ajeitado tudo foi se deitar contente. Nem dormiu direito.
No dia anterior separou anzóis, carretilhas, molinetes, linhas de diversos diâmetros e origens, varas e iscas artificiais. Por último preparou a ceva com os grãos de milho que haviam ficado de molho por sete dias e sete noites. Tendo ajeitado tudo foi se deitar contente. Nem dormiu direito.
Levantou cedinho, ainda escuro, tomou um café forte, comeu um pedaço de pão com manteiga e foi.
Foi p'rá poder ficar quieto, p'rá poder ouvir o curso das águas. Foi com ganas de trazer lambaris, piaparas, piaus e pacus. Levou consigo a alegria de pensar que à noitinha, retornando pelo caminho que margeia o rio, vai poder sentir cheiro de mato, ouvir o canto das cigarras, e olhar a lua nascendo no céu. "Se tiver chuviscado de mansinho no final da tarde", diz ele, "melhor ainda: refresca!"
("Meu tio" - foto postada no facebook por Ricardo Mourani)
Meu tio foi à pesca. Foi p'rá sentir uma saudade distante de coisas e de pessoas que o tempo levou; foi p'rá poder ouvir os pássaros e voltar p'rá casa com espírito de menino. Foi p'rá reanimar o coração e encher a cabeça de histórias. Foi p'rá sentir o prazer do retorno, sentar-se na cozinha com a companheira da vida toda, contar a ela as aventuras do dia e relembrar histórias antigas. Foi p'rá poder, antes de se deitar, sentar-se na cadeira de descanso da garagem a céu aberto, na escuridão, acender um cigarro e ficar olhando as estrelas... até adormecer... adormecer e sonhar... sonhar com as matas, com os peixes e com os passarinhos...