terça-feira, 30 de agosto de 2016

CHICO NO SENADO


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
("Cordão" - Chico Buarque)


"Ninguém vai me acorrentar
enquanto eu puder cantar,
enquanto eu puder sorrir"
(Chico Buarque)


     A presidente Dilma foi ontem ao Senado apresentar sua defesa no processo de impeachment. Nas galerias, ao lado do ex-presidente Lula, assistindo a sessão, estava o Chico Buarque.

     O Chico simbolizou muito durante os "anos de chumbo". E não só durante os "anos de chumbo". Até hoje ele é o que é. Com sua genialidade criativa, e sob uma censura bravíssima, o Brasil pensante aprendeu a admirá-lo, cantou e segue cantando suas músicas - e lendo seus livros.

     Sua presença no Senado agradou a alguns e desagradou a outros - em especial por ter partido da presidente Dilma o convite para a sua ida - conforme noticiaram os jornais.



Chico Buarque diz que veio ao Senado 'para conhecer o Alvorada porque nunca mais terá oportunidade'
(Chico Buarque - http://almanakedaweb.blogspot.com.br/2016/08/lula-e-seu-mundo-de-faz-de-conta-se.html)

     Não me importo se o Chico é ou não favorável à cassação do mandato da Dilma. Não me importo se o Chico é ou não petista, lulista, dilmista, peessedebista, anarquista, ou o que quer que seja. Sei que ele tem o direito de fazer suas opções políticas e externar suas convicções quando e se quiser - assim como tenho eu, assim como temos cada um de nós.

     Mesmo sabendo que toda manifestação é gesto político, para mim o Chico tem seu lugar de honra assegurado dentre as nossas mais notáveis celebridades. Independente de opção política eu gosto de ler o que ele escreve e de ouvir o que ele diz. Concordo algumas vezes e discordo em outras com seus posicionamentos. E sigo cantando as músicas que ele compôs e que foram determinantes na minha formação - e na formação de muita gente.

     Ontem, ao sair do Senado, um batalhão de repórteres fez de tudo para arrancar dele declarações políticas bombásticas, palavras de ordem, críticas, elogios, qualquer coisa. Eu também queria ouvi-lo. Mas minha vontade era que ele declarasse, simplesmente, que acredita que precisamos ser livres para podermos fazer nossas próprias escolhas. E que todos nós temos obrigação de sermos felizes. Que, por fim, ao pedirem maiores explicações, que ele concluísse dizendo que está gravando um novo disco, para o qual já selecionou dezenas de composições inéditas. E que está ficando ótimo!

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O LEGADO DOS JOGOS OLÍMPICOS "RIO 2016"


(CLIQUE NA SETA PARA ASSISTIR)
(Abertura dos Jogos Olímpicos - Rio 2016)
(https://www.youtube.com/watch?v=j6SFYHEd2u0)


"Nenhum vento sopra a favor
de quem não sabe para onde ir"
(Sêneca)


     Durante os meses que antecederam os Jogos Olímpicos no Rio eu só conseguia ver com maus olhos a decisão de sua realização aqui no Brasil. Mas também, convenhamos. Sendo bombardeado por tanta notícia ruim, não era para menos. Estávamos recebendo um tsunami de pessimismo gerado por problemas políticos e econômicos, e por uma crise de autoestima. Era voz geral que o Brasil não tinha condição de garantir segurança para as delegações estrangeiras; que as obras não ficariam prontas; que o mosquito da Aedes aegypti iria fazer muito estrago; que, enfim, seria uma vergonha equiparável aos 7 a 1 que levamos da Alemanha na Copa - maior até!

     Mas aí veio a cerimônia de abertura que mexeu comigo, que me encheu de orgulho, que mudou meu estado de espírito, e que me fez ficar plantado em frente à televisão torcendo pelos atletas brasileiros.

     Rafaela Silva, Diego Hypólito, Thiago Braz, Isaquías Queiroz, Robson Conceição, mais pela perseverança e determinação do que por apoio recebido, foram muito além do que qualquer um poderia imaginar. E vieram ainda medalhas nas velas, a coroação do país com o futebol, e o arremate certeiro com o ouro no vôlei. No total sete medalhas de ouro, seis de prata, seis de bronze.

Rafaela Silva
(http://blogs.oglobo.globo.com/radar-olimpico/post/spotify-cria-playlist-em-homenagem-ao-ouro-do-brasil-conquistado-por-rafaela-silva.html)

     No final, a cerimônia de encerramento foi uma obra de arte: embelezou e emocionou tanto quanto a de abertura.

     Com tudo isso, como é que eu ainda poderia ficar reclamando e desconfiando da capacidade do povo do meu país? Que coisa mais chata e destrutiva!

     - "Xô!"

     Pensei melhor e conclui que precisava parar de ser ranzinza: aplaudi a "Rio 2016" como qualquer brasileiro que, saudoso da pátria, em qualquer lugar do planeta, aplaudiria o hasteamento da bandeira nacional.

     A despeito de todos os problemas que o Brasil vem enfrentando, a despeito de todo dinheiro diretamente empregado na organização das Olimpíadas, tudo valeu à pena. O legado da "Rio 2016" vai muito além de uma contabilização financeira.

     Precisamos investir em saúde e educação. Sim, as instalações olímpicas serão transformadas em centros esportivos e escolas! Precisamos também de exemplos e estímulos para podermos sentir que somos capazes de evoluir. A prática de esportes, sem dúvida, é saúde e educação.

     O resultado das Olimpíadas no Rio não pode ser medido exclusivamente por valores econômicos. Os jogos olímpicos foram aquelas sementinhas plantadas por cada um dos atletas que dela participou. Continuamos construindo um país, e em relação a isso o esporte tem papel fundamental. Os ganhos são outros, são de valores que, tal como as sementinhas, requerem tempo para se tornarem árvores frondosas. Tempo suficiente para fazer aflorar a disciplina, a força de vontade e a confiança para vencer e superar adversidades.

     Os exemplo da capacidade das Comissões Organizadoras da "Rio 2016" e da determinação de nossos atletas servem de inspiração para a formação de uma nova cultura: uma cultura de gente determinada que luta para vencer. O Brasil pode; o esporte pode; em especial nossos jovens podem (e devem!) passar por cima de todo e qualquer discurso retrógrado, pessimista e derrotista que, ao longo dos anos, vem fazendo o Brasil empacar na subida - feito burro de carga.


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(Gonzaguinha - "E vamos à luta)

     Deixemos, pois, que os órgãos competentes cumpram suas funções institucionais, investiguem o que tiver que ser investigado e exijam satisfações de quem tiver que dá-las. Quanto a mim, só tenho que jogar a minha ranzinzice de lado, seguir o exemplo dos jovens que se comunicam, que vão à luta, que querem vencer, que propõem uma outra realidade. Que, de tênis, short e camiseta, conseguem se educar pelo esporte e rir na cara dos derrotistas embolorados.

("tudo o que se pretende requer esforço" - foto: arq. pessoal)

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

VIAGENS DE TREM


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(Toots Thielemans, dele, "Old friend")




"Lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar"
(Ferreira Gullar)



     - Olha o trem! gritava o meu tio, da porta de sua loja. 

     Mesmo que não houvesse, das janelas do trem, alguém que se atentasse para isso, dos degraus da escada que dava acesso à sua casa, minha avó, sorrindo, acenava em direção aos vagões.




("O trem obstruindo o trânsito na Rua Dep. João de Faria, em Guará/SP". Postada no facebook por Ademir Segundo)


     E eu, menino,...

... ficava calado na calçada, ao lado dela,
olhando a passagem do trem encher de vida o ritmo monótono da cidade. 
Sem saber onde queria chegar,
por lugares distantes viajava,
longe, muito longe de minha casa,
sobre trilhos de aço laminado,
enfrentando tempestades, matas, rios e montanhas, 
impaciente com a morosidade do tempo...

...do tempo que fez de mim o que hoje sou,
sem que eu pudesse me dar conta de sua passagem.


(Estação Mogiana - Guará, SP, 1974 - foto postada no facebook por Luiz Carlos Eufrosino)