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"Milonga del Angel" - Astor Piazzolla
Quantos homens e mulheres em idade avançada constituíram uma família, já criaram seus filhos, já deixaram de trabalhar e vivem sós. Quantos homens e mulheres, em idade avançada, continuam com boa saúde, podem curtir a vida e desfrutar dos pequenos prazeres que ela oferece - passear de vez em quando, jantar em um restaurante, tomar um café em uma esquina qualquer, caminhar por um shopping center, olhar vitrines... Pessoas cujos filhos já se ajeitaram na vida e que, em busca de seus próprios interesses, vivem distantes. Pessoas que, por determinação do destino, ou se separaram ou ficaram viúvas.
Fico pensando nas dificuldades que encontram para a realização das coisas práticas e necessárias - a alimentação, o almoço, o jantar, os cuidados com a roupa, o controle financeiro. Imagino que cada amanhecer tenha se tornado uma árdua tarefa consistente na procura de alguma maneira de preencher o tempo de um dia: fazer palavras cruzadas, ler um livro, rememorar coisas que se passaram, remexer em papeis, em gavetas; procurar algum amigo, encontrar algum assunto para conversar, dar um telefonema. Mas, a quem recorrer? Quem estaria disposto a ouvir? Quem estaria disposto a conversar?
Atravessar o dia, sob a luz do sol, parece não ser tão difícil. O movimento nas ruas, os veículos trafegando, tudo isso distrai e ocupa a imaginação. Mas, e a noite? A hora de ir para a cama, o silêncio, a escuridão? Qual a dimensão da angústia para se poder vencer as madrugadas, as insônias, os pensamentos em tudo o que vai ficando? Como adormecer com o incômodo pensamento naquilo que poderia ter sido feito da própria vida, mas não foi? Na quietude do quarto, estender o braço e ter o outro lado vazio, ninguém com quem conversar; deparar-se com sombras e com todo o vazio que a alma pode suportar. Estar só.
Outro dia assisti a um filme que aborda esse assunto. Baseado no livro "Nossas Noites"*, do escritor indiano Kent Haruf, o filme conta a história de Addie e Louis, ambos com mais de 70 anos de idade. Addie e Louis já foram casados, tiveram suas famílias e seus filhos. Vivem sós. São vizinhos há muitos anos, e se conhecem apenas pelos cumprimentos formais e distantes. No filme, Addie, na angústia de suas noites, supondo que Louis sentisse, como ela, a mesma falta de alguém com quem conversar, um dia vai à casa dele e sugere que eles, de vez em quando, poderiam dormir juntos em sua casa para poderem conversar; que, conversando, poderiam vencer a noite, afastar a escuridão e o silêncio.
Não - ela esclarece - Ela não estava sugerindo ou propondo sexo; ela procurava e oferecia companhia. Ela queria alguém com quem pudesse dialogar, alguém para quem pudesse contar histórias, e de quem pudesse ouvir histórias.
Fico pensando nas dificuldades que encontram para a realização das coisas práticas e necessárias - a alimentação, o almoço, o jantar, os cuidados com a roupa, o controle financeiro. Imagino que cada amanhecer tenha se tornado uma árdua tarefa consistente na procura de alguma maneira de preencher o tempo de um dia: fazer palavras cruzadas, ler um livro, rememorar coisas que se passaram, remexer em papeis, em gavetas; procurar algum amigo, encontrar algum assunto para conversar, dar um telefonema. Mas, a quem recorrer? Quem estaria disposto a ouvir? Quem estaria disposto a conversar?
Atravessar o dia, sob a luz do sol, parece não ser tão difícil. O movimento nas ruas, os veículos trafegando, tudo isso distrai e ocupa a imaginação. Mas, e a noite? A hora de ir para a cama, o silêncio, a escuridão? Qual a dimensão da angústia para se poder vencer as madrugadas, as insônias, os pensamentos em tudo o que vai ficando? Como adormecer com o incômodo pensamento naquilo que poderia ter sido feito da própria vida, mas não foi? Na quietude do quarto, estender o braço e ter o outro lado vazio, ninguém com quem conversar; deparar-se com sombras e com todo o vazio que a alma pode suportar. Estar só.
Outro dia assisti a um filme que aborda esse assunto. Baseado no livro "Nossas Noites"*, do escritor indiano Kent Haruf, o filme conta a história de Addie e Louis, ambos com mais de 70 anos de idade. Addie e Louis já foram casados, tiveram suas famílias e seus filhos. Vivem sós. São vizinhos há muitos anos, e se conhecem apenas pelos cumprimentos formais e distantes. No filme, Addie, na angústia de suas noites, supondo que Louis sentisse, como ela, a mesma falta de alguém com quem conversar, um dia vai à casa dele e sugere que eles, de vez em quando, poderiam dormir juntos em sua casa para poderem conversar; que, conversando, poderiam vencer a noite, afastar a escuridão e o silêncio.
Não - ela esclarece - Ela não estava sugerindo ou propondo sexo; ela procurava e oferecia companhia. Ela queria alguém com quem pudesse dialogar, alguém para quem pudesse contar histórias, e de quem pudesse ouvir histórias.
"Deux arbres" - http://www.transientlight.co.uk/photo/deux-arbres/
Pensando no filme e lembrando-me das muitas pessoas que conheço e que vivem nas mesmas condições de Addie e Louis, imaginei que seria muito bom se elas conseguissem fazer com que tudo se tornasse menos complicado. Que todos nós, enfim, pudéssemos fazer com tudo fosse menos complicado. Passei a me perguntar o porquê da natureza humana exigir que escondamos as dores e as carências que nos afligem; o porquê de querermos nos mostrar incólumes aos tormentos da vida quando eles são próprios da nossa existência, e próprios da vida daqueles que vivem sós, que precisam de alguém para simplesmente conversar, vencer a escuridão, abraçar durante a noite, e seguir em frente...
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*"Nossas Noites" - "Our souls at night" (EUA, 2017). Dir. Ritesh Batra. Drama.
Este talvez seja o destino da cruel vida humana, não é dando que se tem..... Simplesmente é vivendo que se refaz..... Aprender a ser sós.....é um caminho cheio de espinhos.....que nem sempre temos o hábito.....penduramos então nos nossos Outros.... Sem saber um dia viver na solidão ... Mas poder estar ali por perto...é compartilhar as solidão.
ResponderExcluirFabio
Caro Fábio, obrigado pelo comentário... "Simplesmente é vivendo que se refaz...". Seja sempre bem vindo ao blog.
ExcluirVocê tocou com Piazzolla e literalmente em alguém, quando no
ResponderExcluir" estender o braço e ter o outro lado vazio ".
Maravilha de texto num contexto inconteste!
Obrigado pela visita e pelo comentário, Salviano. Seja sempre bem vindo ao blog. Grande abraço.
ExcluirConversamos exatamente sobre isso hoje . Vamos assim saboreando o presente meu querido irmão .
ResponderExcluirEsse tema é hoje o nó crítico de nossa geração. São importantes as rodas de conversa a respeito. Obrigada por essa provocação . Um beijo .
Sou eu que agradeço pelo comentário. E vamos saboreando o presente. Beijão.
ExcluirEngraçado... Cada ser humano é único mesmo...Eu,depois dos filhos criados e ajeitados na vida,adoro estar sozinha...
ResponderExcluirÓtimo, Rejane. Afinal, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Obrigado pelo comentário. Grande abraço.
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