(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Lady D'Arbanville - Cat Stevens - do álbum "Mona Bone Jakon, de 1970)
https://www.youtube.com/watch?v=fEnCuL0cD5o
Admiro nos escritores e compositores a capacidade que eles têm de viver em fantasia situações inimagináveis por seres comuns e mortais como eu.
Outro dia me vi refazendo as muitas viagens que costumava fazer ouvindo música. Nelas, "A Arte de Cat Stevens" era uma fita K7 que, no carro, ditava a minha velocidade: "Wild World", "Peace Train", "Sitting", "Morning has broken", "Where do the children play", "Silent Sunlight", e muitas outras músicas dele, além de ditarem a minha velocidade, também determinavam a minha disposição para ir, voltar e chegar onde quer que fosse.
Dentre as músicas dessa fita k7, "Lady D'Arbanville" era muito curiosa. Ela falava de abandono, de ausência de sinais de vida, de distanciamento, de morte, e de renascimento.
Você já imaginou, meu amigo, alguém cantando para uma pessoa deitada, estendida, empalidecida, imóvel, morta... o coração silencioso, a respiração inexistente, o corpo frio, os lábios gelados de neve? Pois era assim que eu me via ao ouvir "Lady D'Arbanville": cantando para alguém que havia morrido.
Você já imaginou, meu amigo, alguém cantando para uma pessoa deitada, estendida, empalidecida, imóvel, morta... o coração silencioso, a respiração inexistente, o corpo frio, os lábios gelados de neve? Pois era assim que eu me via ao ouvir "Lady D'Arbanville": cantando para alguém que havia morrido.
Ao tentar entender sua letra, fui encontrar as circunstâncias que levaram o Cat Stevens a compô-la.
Seus biógrafos contam que depois de um ano de relacionamento com uma jovem modelo norte americana a quem ele amava muito, ela passou a distanciar-se dele com muita frequência em virtude de seus compromissos profissionais. O sentimento de abandono que tomou conta do Cat Stevens, decorrente das viagens de sua então companheira, foi o suficiente para que ele ditasse o final do relacionamento, compondo a música claramente endereçada a ela, Patti D'Arbanville - a Lady D'Arbanville que dá nome à música.
Seus biógrafos contam que depois de um ano de relacionamento com uma jovem modelo norte americana a quem ele amava muito, ela passou a distanciar-se dele com muita frequência em virtude de seus compromissos profissionais. O sentimento de abandono que tomou conta do Cat Stevens, decorrente das viagens de sua então companheira, foi o suficiente para que ele ditasse o final do relacionamento, compondo a música claramente endereçada a ela, Patti D'Arbanville - a Lady D'Arbanville que dá nome à música.
(Cat Stevens e Patti D'Arbanville - fonte: http://martybarrett.com/katmandu-cat-stevens/)
Apesar de, na música, ele estar considerando findos seus laços com a "Lady D'Arbanville", e apesar de tantos indícios de morte contidos na letra, a música trazia também, em uma de suas frases, a esperança da ressurreição desse relacionamento em algum momento futuro:
"Eu vou te acordar amanhã e você será o meu complemento."
("Ill wake you tomorrow and you will be my fill")
Essa ressurreição não aconteceu. No entanto, guardei a impressão de que o renascimento imaginado pelo Cat Stevens em "Lady D'Arbanville" acabou sendo endereçado a ele mesmo: o Yusuf Islam que ele tornou-se veio a complementar o Cat Stevens que ele foi. Independente de nome ou fé religiosa, Yusuf e Cat não deixaram de ser a mesma pessoa, o mesmo criador genial de "Wild World", "How can I tell you", "The wind", "Oh very young", "If I laugh"... que eu gosto de ouvir.
Lady D'Arbanville
My Lady
d'Arbanville, why do you sleep so still?
I'll wake you
tomorrow
and you will be
my fill, yes, you will be my fill.
My Lady
d'Arbanville why does it grieve me so?
But your heart
seems so silent.
Why do you
breathe so low, why do you breathe so low,
My Lady
d'Arbanville why do you sleep so still?
I'll wake you
tomorrow
and you will be
my fill, yes, you will be my fill.
My Lady
d'Arbanville, you look so cold tonight.
Your lips feel
like winter,
your skin has
turned to white, your skin has turned to white.
My Lady
d'Arbanville, why do you sleep so still?
I'll wake you
tomorrow
and you will be
my fill, yes, you will be my fill.
La la la la la....
My Lady
d'Arbanville why does it grieve me so?
But your heart
seems so silent.
Why do you
breathe so low, why do you breathe so low,
I loved you my
lady, though in your grave you lie,
I'll always be
with you
This rose will
never die, this rose
will never die.
I loved you my
lady, though in your grave you lie,
I'll always be
with you
|
Senhora
D'Arbanville
Minha Senhora D'Arbanville, por que dorme tão
quieta?
Vou te acordar amanhã
E você será meu complemento, sim, você será meu
complemento.
Minha Senhora D'Arbanville, por que isso me entristece
tanto?
Mas seu coração parece tão silencioso.
Por que você respira tão baixo, por que você respira
tão baixo,
Minha senhora D'Arbanville, por que você dorme tão
quieta?
Vou te acordar amanhã
e você será meu complemento, sim, você será meu complemento.
Minha Senhora D'Arbanville, você parece tão fria
esta noite.
Sinto seus lábios como se fossem o inverno
sua pele ficou branca, sua pele ficou branca.
Minha Senhora D'Arbanville, por que você dorme tão
quieta?
Vou te acordar amanhã
e você será meu complemento, sim, você será meu complemento
La la la la la....
Minha Senhora D'Arbanville, por que isso me entristece
tanto?
Mas seu coração parece tão silencioso.
Por que você respira tão baixo, por que você respira
tão baixo,
Eu te amei, minha senhora, embora em seu túmulo você esteja deitada
Eu sempre estarei com você
Essa rosa nunca morrerá, essa rosa nunca morrerá
Eu te amei, minha senhora,
embora em seu túmulo você esteja deitada
Eu sempre estarei com você
|
Maravilha Elias, e muito informativo. Apesar do tom de tristeza para mim a música ficou mais bela ainda. Obrigado.
ResponderExcluirLegal, João. Fico contente que tenha gostado. Grande abraço.
ExcluirCaro Elias, sou profundo admirador de Cat Stevens. Não de Yousuf Islam, que apoiou a condenação à morte pelos aiatolás do autor de "Versos satânicos", Salman Rushdie. Fiquei anos sem tocar nenhum de seus discos, em silencioso protesto à sua radicalização religiosa. Até que, ainda como Yusuf Islam, ele abrandou seu coração, tirou o radicalismo e produziu o belíssimo "Yusuf Café Session", em que dá um depoimento esclarecedor, dizendo, inclusive, que não sabe onde estará Yusuf daqui mais uns anos. Fiquei de bem com ele. Grande crônica! Grande abraço!
ResponderExcluirCaro Saint-Clair... somos nós, analisando a vida pela vida daqueles que admiramos... aprendendo, sempre... lutando para sermos melhores... Eu também, volta e meia, faço pirraça, brigo com os artistas, cantores e escritores que gosto... Lembrei-me do Ruy Guerra, em "Fado Tropical", do Chico:
Excluir"(...) no fundo somos sentimentais... mesmo quando as mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, nossos corações fecham os olhos e, sinceramente, choram..."
... é mais ou menos assim, não é? Grande abraço, e obrigado pela atenção e carinho constantes. Feliz ano novo, com saúde e muitas alegrias.'.