sexta-feira, 22 de junho de 2018

A RÚSSIA, EM CARTÕES-POSTAIS



RÚSSIA. MOSCOU. PRAÇA VERMELHA. Catedral São Basílio e Monumento a Kizma e Pozharsky
Moscou, Praça Vermelha. Catedral de São Basílio
Cartão que me foi enviado por Dasha , colecionadora residente em Kazan, Rússia


     Com o início dos jogos da Copa do Mundo, a Rússia passou a ser o alvo das atenções do mundo todo; não somente pelas partidas que lá estão sendo realizadas, mas principalmente pela Copa representar a utopia da convivência harmônica entre os povos das diferentes nações. Assim, usos, costumes, história, tudo o que possa trazer a Rússia para perto de nós é veiculado pelos meios de comunicação, como forma de convite para que possamos conhecer o país anfitrião.


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(ASSISTIR DEPOIS DA LEITURA)

"Moscow nights"
https://www.youtube.com/watch?v=QHGEZXdECvg


     Se me perguntassem o que me vem à mente quando o nome do país, "Rússia", é pronunciado, eu logo responderia, e sem pensar duas vezes: neve, Dr. Jivago, Revolução de 1917, Gulag, Soljenitsin, encouraçado Potemkin, Rasputin, Nicolau II, cossacos, czares, Dostoievsky, Tolstói, vodka, igreja de sangue.

     Nos últimos três anos, e cada vez com maior intensidade, a Rússia, por acaso do destino, passou a aproximar-se de mim. Explico: decidido a diminuir minha ignorância em relação ao nosso planeta, cadastrei-me em um grupo, espalhado pelo mundo, de colecionadores de cartões-postais*. Meu objetivo era de, por intermédio deles, dos cartões-postais, sentir-me estimulado a ler, estudar e conhecer as características de outros países, seus prédios históricos, seus valores, seu povo e tudo o que os identifica. E tem sido muitos os cartões-postais que venho recebendo de diversos países espalhados pelo mundo todo.


Cartões-Postais - foto: arq. pessoal

     Mas, foram os colecionadores da Rússia que passaram a ser os mais frequentes remetentes de cartões-postais para o meu endereço.

    Assim, por intermédio de cartões-postais, sem nunca ter ido à Rússia, tenho percorrido o país – em especial as cidades de Moscou e São Petersburgo.

     Pela cidade de São Petersburgo passei a ter um carinho muito especial. Isso porque são maravilhosos os cartões-postais que tenho recebido de lá. Na cidade, às margens do Rio Neva, está o Palácio de Inverno** - a residência oficial dos antigos czares, onde hoje está instalado o Museu Hermitage. Gosto também de receber cartões-postais dessa cidade porque, nesse mesmo rio (o Neva) está ancorado o Cruzador Aurora: o navio que, com uma salva de tiros em direção ao Palácio de Inverno, deu o sinal para o início da Revolução Bolchevique de 1917, quando, então, a cidade chamava-se Petrogrado. Hoje, esse navio é museu e patrimônio histórico de São Petersburgo.


O CRUZADOR AURORA - patrimônio histórico de St. Petersburg. Lançado ao mar em 1900. Deu o sinal para o início da revolução bolchevique/1917 com salva de tiros contra o palácio de inverno em Petrogrado. Atracado no Rio Neva.
"O Cruzador Aurora" - cartão postal que me foi enviado por Natalya, colecionadora residente em São Petersburgo

     Mas há uma cidade, na região dos Montes Urais, chamada EKATERIMBURGO, que estou gostando de estar conhecendo por intermédio de postais. Acho que isso tem acontecido por causa do semblante de Nicolau II, o último czar, que, para mim, em fotos e pinturas, parece um senhor sereno e introspectivo. Claro, essa percepção é muito pessoal... mas fico comparando a maneira como ele foi fotografado e pintado, com o  destino que sua vida teve...


Retrato do último czar da Rússia, Nicolau II, pintado por Ilya Galkin.
Retrato de Nicolau II, pintado por Ilya Galkin
fonte: https://rainhastragicas.com/2015/06/23/bomba-os-romanov-podem-voltar-para-a-russia/

     Por intermédio dos cartões-postais que recebi, fiquei sabendo que Nicolau II, juntamente com sua esposa e seus cinco filhos, foram levados e executados na cidade de Ekaterimburgo. No local onde essa execução aconteceu, uma igreja foi edificada: a chamada “Igreja de Sangue”. Essa igreja, inaugurada no ano 2000, foi erguida em memória de Nicolau II e de sua família: os Romanov***.

     Bom, todo essa minha conversa é para dizer que, com a Copa do Mundo acontecendo, e tendo conhecido a história dos Romanov****, tenho mantido a esperança de receber um cartão-postal, de algum colecionador residente em Ekaterimburgo, ou em qualquer outra cidade da Rússia, que traga uma foto da igreja que foi edificada em memória de Nicolau II e sua família. Quando isso acontecer, prometo mostrar a todos. 

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*Cadastro no site http://www.postcrossing.com
**Palácio de Inverno" - residência oficial dos czares,em São Petersburgo, onde hoje está o Museu Hermitage.
***Em 1981, tanto Nicolau II quanto sua esposa e filhos, foram canonizados pela igreja ortodoxa russa.
****Para conhecer a história dos Romanov, recomendo o seguinte filme: "Os Romanov: uma família imperial" (Rússia, 2000. Dir.: Gleb Panfilov)

sábado, 16 de junho de 2018

"ZINGARO" (ou "RETRATO EM BRANCO E PRETO")


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"Zingaro"(Tom/Chico) - Chet Baker - do documentário "Let's Get Lost"
https://www.youtube.com/watch?v=1K7Ma6PxVxM

     Há alguns anos assisti a um documentário feito para a televisão francesa*. Nele, o Brasil, ambientado no Rio, é mostrado, desde em estado de extrema virgindade, até o limite da violência desumana. Narrado, traz depoimentos de Chico Buarque de Hollanda sobre as condições sociais e políticas no Brasil, as quais são mostradas pela sua trajetória musical. A abertura do documentário é encantadora: em preto e branco, o Rio é mostrado como uma terra virgem, ainda a ser descoberta... A alegria e a beleza do país estão ilustradas por uma mulher de cabelos longos e soltos, que dança e sorri, com naturalidade, nas areias da praia, e se molha, nas águas do mar, esbanjando liberdade e sensualidade... É a perfeita ilustração de um país nascido sob a marca da delicadeza... mas que se transformou.

     Assisti também, há pouco, a um documentário sobre Chet Baker**. Esse documentário me chamou a atenção***, em especial pela semelhança de uma cena com o documentário sobre o Brasil. Nela, um grupo de jovens  dança e canta nas areias de uma praia da Califórnia (EUA). A ideia que ela nos traz, é, também, de liberdade. No entanto, ao contrário da sensualidade feminina, o embalo desses jovens parece estimulado por substâncias de efeitos alucinógenos. Nesse vídeo, o que se mostra é a trajetória pessoal e artística de Chet Baker: do admirável Chet Baker!


Let's Get Lost [VHS]
https://www.amazon.com/Lets-Get-Lost-Chet-Baker/dp/630165076X


   Ao pensar a respeito dos dois documentários, percebi que a delicadeza da bossa nova, do início dos anos 60, ficou equiparada ao cool jazz desenvolvido pelo Chet Baker, nos Estados Unidos; e que a violência do Brasil de hoje, tem o seu paralelo, em imagens, nas consequências do vício estampado na face e no final da vida de Chet Baker****. 

     Em ambos os documentários, a música que ilustra as cenas iniciais, feitas na praia, é a mesma: "Zingaro".

     "Zingaro", que em português significa "cigano", foi composta por Tom Jobim em 1965*****. Recebeu esse nome porque o Tom Jobim, então vivendo nos Estados Unidos, e conforme contado no livro "Histórias de Canções"******, sentia-se como um cigano. "Zingaro" nasceu como música instrumental. Chico Buarque deu a ela uma letra e a gravou, em 1968, em seu álbum "Chico Buarque de Hollanda (vol.3)", com o título "Retrato em Branco e Preto": ..."Retrato em Branco e Preto"... a lindíssima "Retrato em Branco e Preto", que foi a primeira música resultante da parceria de Tom Jobim com Chico Buarque de Hollanda... e que desdobrou-se em tantas outras...

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Chico ou o País da Delicadeza Perdida - introdução
Video Filmes, 1989 - Dir. Walter Salles
https://www.youtube.com/watch?v=vWw-Pkm1ltg

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*"Chico ou o País da Delicadeza Perdida" (Brasil/França. Videofilmes, 1989. Dir. Walter Salles e Nelson Motta) 
**Chet Baker (1929-1988) foi um trompetista e cantor de jazz norte-americano.
***"Let's get lost" é um documentário sobre a vida do trompetista Chet Baker (EUA, 1988. Dir. Bruce Weber) 
****Chet Baker foi encontrado morto, em uma calçada da cidade de Amsterdã, na Holanda.
*****Zingaro (cigano) foi lançada por Tom Jobim, em 1967, em seu álbum "A Certain Mr. Jobim".
******HOMEM, Wagner. "Chico Buarque - Histórias de canções" - São Paulo, Leya: 2009