sábado, 16 de junho de 2018

"ZINGARO" (ou "RETRATO EM BRANCO E PRETO")


CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ
"Zingaro"(Tom/Chico) - Chet Baker - do documentário "Let's Get Lost"
https://www.youtube.com/watch?v=1K7Ma6PxVxM

     Há alguns anos assisti a um documentário feito para a televisão francesa*. Nele, o Brasil, ambientado no Rio, é mostrado, desde em estado de extrema virgindade, até o limite da violência desumana. Narrado, traz depoimentos de Chico Buarque de Hollanda sobre as condições sociais e políticas no Brasil, as quais são mostradas pela sua trajetória musical. A abertura do documentário é encantadora: em preto e branco, o Rio é mostrado como uma terra virgem, ainda a ser descoberta... A alegria e a beleza do país estão ilustradas por uma mulher de cabelos longos e soltos, que dança e sorri, com naturalidade, nas areias da praia, e se molha, nas águas do mar, esbanjando liberdade e sensualidade... É a perfeita ilustração de um país nascido sob a marca da delicadeza... mas que se transformou.

     Assisti também, há pouco, a um documentário sobre Chet Baker**. Esse documentário me chamou a atenção***, em especial pela semelhança de uma cena com o documentário sobre o Brasil. Nela, um grupo de jovens  dança e canta nas areias de uma praia da Califórnia (EUA). A ideia que ela nos traz, é, também, de liberdade. No entanto, ao contrário da sensualidade feminina, o embalo desses jovens parece estimulado por substâncias de efeitos alucinógenos. Nesse vídeo, o que se mostra é a trajetória pessoal e artística de Chet Baker: do admirável Chet Baker!


Let's Get Lost [VHS]
https://www.amazon.com/Lets-Get-Lost-Chet-Baker/dp/630165076X


   Ao pensar a respeito dos dois documentários, percebi que a delicadeza da bossa nova, do início dos anos 60, ficou equiparada ao cool jazz desenvolvido pelo Chet Baker, nos Estados Unidos; e que a violência do Brasil de hoje, tem o seu paralelo, em imagens, nas consequências do vício estampado na face e no final da vida de Chet Baker****. 

     Em ambos os documentários, a música que ilustra as cenas iniciais, feitas na praia, é a mesma: "Zingaro".

     "Zingaro", que em português significa "cigano", foi composta por Tom Jobim em 1965*****. Recebeu esse nome porque o Tom Jobim, então vivendo nos Estados Unidos, e conforme contado no livro "Histórias de Canções"******, sentia-se como um cigano. "Zingaro" nasceu como música instrumental. Chico Buarque deu a ela uma letra e a gravou, em 1968, em seu álbum "Chico Buarque de Hollanda (vol.3)", com o título "Retrato em Branco e Preto": ..."Retrato em Branco e Preto"... a lindíssima "Retrato em Branco e Preto", que foi a primeira música resultante da parceria de Tom Jobim com Chico Buarque de Hollanda... e que desdobrou-se em tantas outras...

CLIQUE NA SETA PARA ASSISTIR
Chico ou o País da Delicadeza Perdida - introdução
Video Filmes, 1989 - Dir. Walter Salles
https://www.youtube.com/watch?v=vWw-Pkm1ltg

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*"Chico ou o País da Delicadeza Perdida" (Brasil/França. Videofilmes, 1989. Dir. Walter Salles e Nelson Motta) 
**Chet Baker (1929-1988) foi um trompetista e cantor de jazz norte-americano.
***"Let's get lost" é um documentário sobre a vida do trompetista Chet Baker (EUA, 1988. Dir. Bruce Weber) 
****Chet Baker foi encontrado morto, em uma calçada da cidade de Amsterdã, na Holanda.
*****Zingaro (cigano) foi lançada por Tom Jobim, em 1967, em seu álbum "A Certain Mr. Jobim".
******HOMEM, Wagner. "Chico Buarque - Histórias de canções" - São Paulo, Leya: 2009

Um comentário:

  1. O Rio, ou o mundo, sem sabotagem, não existe mais. Agora, o desafio é expandir a consciência. A tirania dos conceitos emoldurados e das sentenças irrevogáveis já não pode ser vencida pelo simples pulsar da respiração e do coração. Estamos intoxicados pelo parecer, em detrimento do ser. Para além da neuroplastocidade, há um caminho individual, que pode contaminar as nações. Creio. “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos”
    2 Coríntios 5.7

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