"A lua de Ribeirão Preto" (arq. pessoal)
"Ó lua branca, por quem és?
tem dó de mim"
(Chiquinha Gonzaga)
Na noite de ontem, da sacada do apartamento onde moro, fotografei a lua.
CLIQUE NA SETA
https://www.youtube.com/watch?v=_UGDqMYjAT8
A foto ficou tão bonita que, com o título de "A lua de Ribeirão Preto", logo a encaminhei para um grupo de familiares no whatsapp. Poucos minutos se passaram e, logo em seguida, alguns membros do grupo, espontaneamente, começaram a postar fotos da lua vista dos respectivos locais onde se encontravam. Assim, a mesma lua de Ribeirão Preto foi contemplada e fotografada em São Paulo, capital, Guará (SP), Uberlândia (MG), Araguari (MG), Catalão (GO), e outras mais. Todas elas, e cada uma delas, iluminando muitos caminhos, e reforçando o carinho e a consideração que temos, no grupo, uns pelos outros.
Curiosamente, e coincidentemente, logo após ter recebido as fotos de meus familiares, recebi de meu amigo Celso, um brilhante escritor, para comentários via whatsapp, a seguinte poesia que ele havia terminado de escrever:
APREÇO AO LUAR
(Celso Lopes)
Quanto vale um luar,
que insinua o amor...
Se alguém quer comprar,
perdão, traga antes...
o sonho de todos os amantes...
Quanto vale um luar,
tremulando em paixão...
Se alguém quer levar,
que se atire bem fundo
e revele a alma do mundo.
Quanto vale um luar,
que há de sempre ficar...
ser meu barco de sonhos,
ser meu cais pra pousar.
Quanto vale um luar,
quando se olha do mar...
sentindo dentro do peito
uma chama se espalhar
Quanto vale um luar...
que nos cega o olhar,
e nos arrasta ao desejo
que soma amor e amar.
Quanto vale um luar...
Quanto vale um luar...
Sensibilizado com a sequência de postagens e a poesia recebida, e sentindo-me cercado por tantas visões da lua e por tantos luares de união, recebi a poesia como uma bela ilustração para todas as fotos da lua que haviam sido postadas no grupo. De imediato reencontrei, em meu pensamento, muitas das luas e dos luares que sempre me acompanharam ao longo da vida:
- as luas de Catulo da Paixão Cearense: uma delas que, branquejando folhas secas pelo chão, iluminou o sertão (1); a outra que, iluminando um casal de namorados, inspirou neles a necessidade da descoberta do valor contido em uma paixão (2)
- a lua de Freire Júnior que, surgindo cor de prata, inspirou um cantor a chamar por sua amada (3);
- o luar de Paulo Mirando que, visto como um sonho banhado em luz, levou sentimentos de liberdade e saudade a um presidiário (4);
- as diversas luas de Caetano Veloso: uma delas que, deslumbrante e verdejante, permanece solta na amplidão (5); outra que, enfeitando o anel de uma jovem, trouxe-lhe saudade (6); uma terceira lua que, por um momento, fez com que ele compactuasse com ela o seu canto (7); e uma quarta lua que, tímida, oculta na neblina, ainda assim pôde ser vista por ele (8);
- a lua de Dora Vasconcellos e Villa Lobos que, derramando doçura enquanto dormia na noite escura, levou um rapaz enamorado a convidar a sua amada para observá-la (9);
- a lua de Renato Rocha que, rodando, atravessa todas as suas fases: nova, crescente, cheia e minguante (10);
- a lua de Chiquinha Gonzaga que, dando abrigo ao amor, ouve o pedido que ela lhe faz para que retire o pranto de seus olhos (11);
- a lua de Cândido das Neves que, solidária com a tristeza, rondava a natureza e solidarizava-se com um cantor que havia perdido a sua amada (12);
- a lua de Nando Carneiro e Geraldo Carneiro que, prestes a esconder-se por trás de um edifício, poderia inspirar alguém, que muito sofria, a contar ao seu namorado o motivo de tal sofrimento (13);
- a lua do Tom, do formidável Tom Jobim, que navegava o azul do firmamento, e sob a qual um trovador fez uma canção para se esquecer de seu amor de aprendiz por uma tal Luíza (14).
Lembro-me ainda que a lua e o seu luar, um dia, serviram como elo de ligação entre um amigo meu e a sua namorada. O casal, tendo que passar alguns meses distantes um do outro, combinou que deveriam olhar em direção à lua, todas as noites, em um mesmo horário, para que assim, permanecessem unidos em pensamento.
É por todo esse valor que essa lua, branca, solitária e silente, cercada de astros no espaço sideral, precisa ser celebrada pelos que a contemplam daqui da Terra.
A se pensar em nosso apreço pelo lua, fico me perguntando se há algum preço que possa ser pago pelo luar: quanto vale? tem preço? Inspirando assim tanto canto, tanta poesia, e tanta aproximação entre pessoas, não creio que ele possa ser negociado. O luar parece vir dos olhos e do coração daqueles que observam e enxergam além. Mesmo nas noites mais escuras há um luar que, lá de cima, ilumina um colchão de nuvens suspenso no céu, promovendo uma certa paz para os amantes da lua... Por todo esse encanto e por toda essa chama de beleza, não há dinheiro algum que possa alcançar o valor de um luar.
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(1) "Luar do sertão" (Catulo da Paixão Cearense / João Pernambuco)
(2) "Ontem ao luar" (Catulo da Paixão Cearense)
(3) "Malandrinha" (Freire Júnior)
(4) "Luar de Vila Sônia" (Paulo Mirando)
(5) "Lua de São Jorge" (Caetano Veloso)
(6) "Lua e estrela" (Caetano Veloso)
(7) "Lua, lua, lua" - (Caetano Veloso)
(8) "Shy moon" (Caetano Veloso)
(9) "Melodia Sentimental" (Villa Lobos / Dora Vasconcelos)
(10) "A lua" (Renato Rocha)
(11) "Lua branca" (Chiquinha Gonzaga)
(12) "Última Estrofe" (Cândido das Neves)
(13) "Olha a lua" (Nando Carneiro e Geraldo Carneiro)
(14) "Luíza" (Tom Jobim)
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