segunda-feira, 23 de setembro de 2024

DO ANDAR DE CIMA

 

https://www.craiyon.com/image/uXKT4fnZQqeOB1QzsKGczw

Enviei a uma amiga alguns textos redigidos por mim. Em retorno recebi comentários escritos e áudios gravados: uma companhia generosa para o andar de cima, de onde os problemas do mundo abaixo não nos incomodam. Olhando lá de cima, o barulho, as rivalidades, o ódio, nada disso parece fazer sentido... as ruas, as calçadas, as pessoas nas casas, nas lojas, nas cidades... a vida segue em paz. E à noite, de lá de cima, mirando as estrelas, um espetáculo gratuito se desenvolve. Coloco-me como espectador atento, silencioso, pacificado... Para lá eu vou quando consigo me inserir nos textos poéticos que leio... Para lá eu ia, para ficar pensando... para o andar de cima, para o telhado da velha casa amarela que mora em mim: para lá fui reconduzido ao ler as mensagens que me foram enviadas pela minha amiga...

James Taylor - "Up on the roof" - (Goffin/Carole king)
 https://www.youtube.com/watch?v=sMt2Vh7otQ0

Up On the Roof (G Giffin/Carole King)

 

When this old world starts a getting me down

And people are just too much for me to face

I'll climb way up to the top of the stairs

And all my cares just drift right into space

 

On the roof, it's peaceful as can be

And there the world below don't bother me, no, no

 

So when I come home feeling tired and beat

I'll go up where the air is fresh and sweet

I'll get far away from the hustling crowd

And all the rat-race noise down in the street

 

On the roof, that's the only place I know

Look at the city, baby

Where you just have to wish to make it so

Let's go up on the roof

 

And at night the stars they put on a show for free

And, darling, you can share it all with me

That's what I said

Keep on telling you

 

That right smack dab in the middle of town

I found a paradise that's troubleproof

And if this old world starts a getting you down

There's room enough for two

De cima do telhado

 

Quando esse velho mundo começa a me derrubar

E fica difícil encarar as pessoas

Eu subo até o topo da escada

E todos os meus incômodos vão para o espaço

 

No telhado tudo está em paz

E de lá, o mundo abaixo não me incomoda

 

Então, quando eu chego em casa cansado e abatido

Eu subo para onde o ar é fresco e doce

Eu vou para longe da multidão agitada

E de toda barulheira na rua

 

No telhado, o único lugar que conheço

Olhe para a cidade, meu bem

Onde você só precisa desejar para conquistar

Vamos subir no telhado

 

E à noite as estrelas promovem um show de graça

E, querida, você pode compartilhar tudo isso comigo

Foi isso o que eu disse

E continuo te dizendo

 

Bem ali no meio da cidade

Encontrei um paraíso que é imune a problemas

E se esse velho mundo começa a te derrubar

Há espaço suficiente para dois


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

ATÉ QUE A NOITE SEJA ETERNA...

 

Jim Croce - "Hey tomorrow"
https://www.youtube.com/watch?v=Gusg3ND4Lnk


    ... comemorando, cantando, celebrando... promovendo manifestações pacíficas, reivindicando... caminhando, olhando vitrines, fazendo compras: o povo nas ruas! Faixas, bandeiras, jogos de capoeira... pamonha, curau, caldo de cana oferecido por trabalhadores informais... anúncios de ofertas em portas de lojas... pedintes... música, carros de som, luzes... um violonista com uma gaita... o saxofonista de todos os dias rodeado por ouvintes... pequenos diálogos entre estranhos.

    - "E eu... parte do todo..."

    As ruas, os automóveis, o incômodo barulho de motores de motocicletas... No caminho de tanta gente as árvores fazem sombra para que eu, para que todos os passantes, e também para que os cães, todos nós, nos descansemos dos cansaços de caminhadas indecisas...

    - "Há em toda essa dinâmica um rastro, muitos estímulos, e um horizonte..."

    Ao olhar para fora, da janela do meu escritório, e ao ver que o movimento diário se repete, fico buscando entender o que não há como ser entendido, mas inevitavelmente pensado...

    A pulsação de estímulos é intensa... de vida que abraça, que chama, que convida para manifestações de amabilidades e cumplicidade de uns para com outros, mesmo que seja por uma troca involuntária de olhares...

    A noite dá pouso e descanso ao dia. No escuro, com a cabeça no travesseiro, fecho os olhos e fico me perguntando:  

    - Para onde foram os que transitaram pelo meu caminho? Em quantos corações e em quantas lembranças permaneceu um pouco de mim? Quem se despertará na madrugada e se lembrará de ter me visto pelas calçadas? alguém irá pensar: "passou por mim um sujeito que parecia bom..."? Se, porventura, minha imagem reaparecer no sonho ou no pensamento de alguma pessoa, serei luz? ou levarei escuridão?

    - "Ah... o amanhã..."

    No silêncio do meu quarto tento dormir... Os que passaram por mim vão se distanciando sem terem sido abandonados: permaneceram, ficaram guardados... para reaparecerem em algum sonho, em alguma lembrança, em alguma noite... até que, do sono, a noite seja eterna.

Hey Tomorrow (Jim Croce)

 

Hey, tomorrow!

Where are you goin'?

Do you have some room for me?

 

'Cause night is fallin'

And the dawn is callin'

I'll have a new day, if she'll have me

 

Hey tomorrow!

I can't show you nothin'

You've seen it all pass by your door

 

So many times I said I been changin'

Then slipped into patterns of

What's happened before

 

[Chorus]

'Cause I've been wasted

And I've over-tasted

All the things that life gave to me

And I've been trusted

Abused and busted

And I've been taken by those close to me

 

Hey tomorrow!

You've gotta believe that

I'm through wastin' what's left of me

 

Ei, Amanhã

 

Ei, amanhã!

Onde você está indo?

Você tem algum lugar para mim?

 

Porque a noite está caindo

E o amanhecer está chamando

Eu terei um novo dia, se ela me acolher

 

Ei, amanhã!

Eu não posso mostrar-lhe nada

Você já viu de tudo passar por sua porta

 

Tantas vezes eu disse queestava mudando

Em seguida, voltei aos padrões

Do que já havia acontecido antes

 

[Refrão]

Porque eu ando exausto

E me excedi

Em todas as coisas que a vida me ofereceu

E fui bem-visto

Maltratado e desgastado

E fui tomado por aqueles perto de mim

 

Ei, amanhã!

Você tem que acreditar que

Estou desperdiçando o que resta de mim

 


terça-feira, 3 de setembro de 2024

DO SENA AO SAPUCAÍ: A EPOPEIA DE UM NAVEGANTE

 

Abertura dos Jogos Olímpicos, 2024 - Rio Sena
Foto: publicada na página Olympics, do facebook, postada em 23/01/24

para o Rui

Na abertura das Olimpíadas de Paris, o rio Sena foi a "avenida" pela qual desfilaram as delegações dos diversos países participantes. As ruas, as avenidas e os grandes rios foram, ao longo do tempo, e continuam sendo, os locais onde acontecem grandes desfiles cívicos, religiosos, comemorativos... e também muitas manifestações políticas.

Por caminhos batidos por animais, procurando trajetos mais curtos, desviando dos incômodos do calor do sol, dos acidentes do relevo, os homens vão se locomovendo, fazendo nascer ruas que, inicialmente estreitas e sinuosas, dentro de um povoado, são o embrião das grandes avenidas das cidades. De forma análoga, dos pequenos cursos de água, córregos, riachos, regatos, ribeirões, os rios. Assim, por ruas e avenidas, riachos e rios, vamos nos deslocando no espaço público.

"Fado Tropical" - Chico/Ruy Guerra
https://www.youtube.com/watch?v=NfjaFMah7sE

Depois de ter assistido à abertura das Olimpíadas, e depois de ter lido alguns comentários a esse respeito, fiquei imaginando muitas impossibilidades que poderiam até fazer algum observador sensato duvidar da minha sanidade... O curso dos rios, o traçado das ruas… sonhando estar em um pequeno barco, acompanhando o fluxo das águas… do Sena ao Thames, cruzando o Canal da Mancha no mesmo barco; seguindo ao sabor dos ventos até o Danúbio, da Floresta Negra até o Mar Morto… depois até o Reno, navegando dos Alpes até o Mar do Norte… por fim encontrando o Tejo… que, em trajetória inversa à cantada no "Fado Tropical" (Chico/Ruy Guerra), “numa pororoca, depois de cruzar o Atlântico, deságua no Rio Amazonas…”. Do Rio Amazonas, descendo pelo Tapajós, Araguaia, São Francisco, por rios riachos e corredeiras... pelo Paranaíba, pelo Rio Grande... num barquinho muito valente, em "dias de luz, festa de sol”, encontro-me no Rio Pardo... E sigo remando, remando... até que o Pardo, de alguma forma, encontre o Sapucaí. Daí, plantada às suas margens, a cidadezinha… a Cachoeira do Yamaguchi… o pequeno rancho… onde, por tantas vezes, deitado preguiçosamente no chão, olhava o céu… até adormecer de cansaço… sonhando navegar, um dia, pelas águas do Rio Sena…

O Rancho do Yamaguchi, às margens do Sapucaí
Foto: acervo pessoal (década de 70)