quarta-feira, 11 de setembro de 2024

ATÉ QUE A NOITE SEJA ETERNA...

 

Jim Croce - "Hey tomorrow"
https://www.youtube.com/watch?v=Gusg3ND4Lnk


    ... comemorando, cantando, celebrando... promovendo manifestações pacíficas, reivindicando... caminhando, olhando vitrines, fazendo compras: o povo nas ruas! Faixas, bandeiras, jogos de capoeira... pamonha, curau, caldo de cana oferecido por trabalhadores informais... anúncios de ofertas em portas de lojas... pedintes... música, carros de som, luzes... um violonista com uma gaita... o saxofonista de todos os dias rodeado por ouvintes... pequenos diálogos entre estranhos.

    - "E eu... parte do todo..."

    As ruas, os automóveis, o incômodo barulho de motores de motocicletas... No caminho de tanta gente as árvores fazem sombra para que eu, para que todos os passantes, e também para que os cães, todos nós, nos descansemos dos cansaços de caminhadas indecisas...

    - "Há em toda essa dinâmica um rastro, muitos estímulos, e um horizonte..."

    Ao olhar para fora, da janela do meu escritório, e ao ver que o movimento diário se repete, fico buscando entender o que não há como ser entendido, mas inevitavelmente pensado...

    A pulsação de estímulos é intensa... de vida que abraça, que chama, que convida para manifestações de amabilidades e cumplicidade de uns para com outros, mesmo que seja por uma troca involuntária de olhares...

    A noite dá pouso e descanso ao dia. No escuro, com a cabeça no travesseiro, fecho os olhos e fico me perguntando:  

    - Para onde foram os que transitaram pelo meu caminho? Em quantos corações e em quantas lembranças permaneceu um pouco de mim? Quem se despertará na madrugada e se lembrará de ter me visto pelas calçadas? alguém irá pensar: "passou por mim um sujeito que parecia bom..."? Se, porventura, minha imagem reaparecer no sonho ou no pensamento de alguma pessoa, serei luz? ou levarei escuridão?

    - "Ah... o amanhã..."

    No silêncio do meu quarto tento dormir... Os que passaram por mim vão se distanciando sem terem sido abandonados: permaneceram, ficaram guardados... para reaparecerem em algum sonho, em alguma lembrança, em alguma noite... até que, do sono, a noite seja eterna.

Hey Tomorrow (Jim Croce)

 

Hey, tomorrow!

Where are you goin'?

Do you have some room for me?

 

'Cause night is fallin'

And the dawn is callin'

I'll have a new day, if she'll have me

 

Hey tomorrow!

I can't show you nothin'

You've seen it all pass by your door

 

So many times I said I been changin'

Then slipped into patterns of

What's happened before

 

[Chorus]

'Cause I've been wasted

And I've over-tasted

All the things that life gave to me

And I've been trusted

Abused and busted

And I've been taken by those close to me

 

Hey tomorrow!

You've gotta believe that

I'm through wastin' what's left of me

 

Ei, Amanhã

 

Ei, amanhã!

Onde você está indo?

Você tem algum lugar para mim?

 

Porque a noite está caindo

E o amanhecer está chamando

Eu terei um novo dia, se ela me acolher

 

Ei, amanhã!

Eu não posso mostrar-lhe nada

Você já viu de tudo passar por sua porta

 

Tantas vezes eu disse queestava mudando

Em seguida, voltei aos padrões

Do que já havia acontecido antes

 

[Refrão]

Porque eu ando exausto

E me excedi

Em todas as coisas que a vida me ofereceu

E fui bem-visto

Maltratado e desgastado

E fui tomado por aqueles perto de mim

 

Ei, amanhã!

Você tem que acreditar que

Estou desperdiçando o que resta de mim

 


terça-feira, 3 de setembro de 2024

DO SENA AO SAPUCAÍ: A EPOPEIA DE UM NAVEGANTE

 

Abertura dos Jogos Olímpicos, 2024 - Rio Sena
Foto: publicada na página Olympics, do facebook, postada em 23/01/24

para o Rui

Na abertura das Olimpíadas de Paris, o rio Sena foi a "avenida" pela qual desfilaram as delegações dos diversos países participantes. As ruas, as avenidas e os grandes rios foram, ao longo do tempo, e continuam sendo, os locais onde acontecem grandes desfiles cívicos, religiosos, comemorativos... e também muitas manifestações políticas.

Por caminhos batidos por animais, procurando trajetos mais curtos, desviando dos incômodos do calor do sol, dos acidentes do relevo, os homens vão se locomovendo, fazendo nascer ruas que, inicialmente estreitas e sinuosas, dentro de um povoado, são o embrião das grandes avenidas das cidades. De forma análoga, dos pequenos cursos de água, córregos, riachos, regatos, ribeirões, os rios. Assim, por ruas e avenidas, riachos e rios, vamos nos deslocando no espaço público.

"Fado Tropical" - Chico/Ruy Guerra
https://www.youtube.com/watch?v=NfjaFMah7sE

Depois de ter assistido à abertura das Olimpíadas, e depois de ter lido alguns comentários a esse respeito, fiquei imaginando muitas impossibilidades que poderiam até fazer algum observador sensato duvidar da minha sanidade... O curso dos rios, o traçado das ruas… sonhando estar em um pequeno barco, acompanhando o fluxo das águas… do Sena ao Thames, cruzando o Canal da Mancha no mesmo barco; seguindo ao sabor dos ventos até o Danúbio, da Floresta Negra até o Mar Morto… depois até o Reno, navegando dos Alpes até o Mar do Norte… por fim encontrando o Tejo… que, em trajetória inversa à cantada no "Fado Tropical" (Chico/Ruy Guerra), “numa pororoca, depois de cruzar o Atlântico, deságua no Rio Amazonas…”. Do Rio Amazonas, descendo pelo Tapajós, Araguaia, São Francisco, por rios riachos e corredeiras... pelo Paranaíba, pelo Rio Grande... num barquinho muito valente, em "dias de luz, festa de sol”, encontro-me no Rio Pardo... E sigo remando, remando... até que o Pardo, de alguma forma, encontre o Sapucaí. Daí, plantada às suas margens, a cidadezinha… a Cachoeira do Yamaguchi… o pequeno rancho… onde, por tantas vezes, deitado preguiçosamente no chão, olhava o céu… até adormecer de cansaço… sonhando navegar, um dia, pelas águas do Rio Sena…

O Rancho do Yamaguchi, às margens do Sapucaí
Foto: acervo pessoal (década de 70)