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(Mariza e Tito Paris - "Beijo de Saudade", de B.Leza)
(Mariza e Tito Paris - "Beijo de Saudade", de B.Leza)
Aquele que deixa sua terra natal depois de lá ter vivido a fase mais
doce e verde da vida carrega consigo as marcas desse lugar. Seja lá para
onde for, não há quem apague os encantos que ficam estocados no peito
de quem parte.
Há, no entanto, canais, elos – físicos ou não -, que ligam o local de
onde se partiu ao local onde se está. Seja uma estrada de rodagem,
estrada de ferro, um rio, um terminal rodoviário ou um aeroporto - mesmo
se não houver nada disso - o desejo de que o vínculo se mantenha faz
com que se procure identificar - ou criar - algum.
Há uma música que fala bastante sobre isso: "BEIJO DE SAUDADE". Foi gravada no disco "Terra", de 2006, da Mariza, onde ela a interpreta com Tito Paris*.
Essa música fala de alguém que, desejando de qualquer forma descobrir uma ligação entre Lisboa e Cabo Verde**, encontrou-a no Rio Tejo***. Pois são justamente as águas do Rio Tejo que o autor esforça-se por beijar. Ele, padecendo de saudades, deseja beijar as águas do Tejo para que elas, desaguando no mar, levem o seu beijo até sua terra natal.
Assim, no primeiro trecho da letra, o pedido ao Rio Tejo:
“Ondas sagradas do Tejo, deixa-me beijar as tuas águas. Deixa-me dar-te um beijo, um beijo de mágoa, um beijo de saudade. Para levar ao mar, e o mar, à minha terra.”
Nas estrofes seguintes, o mesmo pedido em crioulo cabo-verdiano, (língua não oficial de Cabo Verde) reforçando as raízes de quem de lá saiu, como que a dizer que foi embora, mas que guardou dentro de si tudo o que sua terra lhe ensinou.
Há um lirismo apaixonado nessa figura do beijo que se quer ver transportado pelas águas, fazendo mais doída e desesperada ainda a saudade quando nos damos conta da pequena probabilidade daquele beijo, jogado pelo Tejo na imensidão do Oceano, vir a aportar em Cabo Verde. Imagino quantos sentiram e sentem uma saudade assim. Penso naqueles que estiveram exilados do Brasil em um tempo de triste memória. Lembro-me também do Vinícius de Moraes na letra do fado “Saudades do Brasil em Portugal”, onde ele encontra no mar a ligação afetiva entre Brasil e Portugal para amenizar suas saudades:
“O sal das minhas lágrimas de amor criou o mar que existe entre nós dois a nos unir e separar...”
Há muitos anos um adolescente amigo meu deixou sua terra, sua cidadezinha de interior - que é também a minha – e foi para uma grande capital ganhar a vida jogando futebol. Ficou por lá. Muitos anos depois, contou-me: adolescente, sofrendo de vontade de voltar, tendo que ficar em função de seus compromissos, mas sentindo muita saudade de tudo o que havia deixado para trás, nas horas de desespero ia sozinho para a estação rodoviária daquela cidade grande... e lá ficava sentado por horas inteiras, olhando as pessoas, os ônibus que chegavam e que partiam, na esperança de ver passar alguém de sua terra, que seria a ligação ao seu mundo de menino, então distante, que havia ficado para trás...
RP, 05mai2011
(fonte: http://futebolalemao.ig.com.br/index.php/2010/10/04/imagens-do-dia-o-isolamento-de-podolski/)
RP, 05mai2011
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Obs.: A Mariza, que canta "Beijo de Saudade" com o Tito Paris, é Moçambicana. Porisso também tem motivos para querer beijar o Tejo...
***O RIO TEJO nasce na Espanha, corta metade desse país, cruza Portugal inteiro, e deságua no mar. Nesse percurso, passa por cidades espanholas como Toledo e Aranjuez antes de adentrar Portugal. Ali, passa por Santarém, Alcochete e outras mais antes de chegar a Lisboa, e desaguar no mar.
Elias!!! Sei muito bem o que é sentir esta saudade!!! Eu sempre dizia que eu tinha banzo...!!! Me fazia bem ouvir uma certa banda de sucesso nos anos 70!!! Beijos
ResponderExcluirCaro primo, que bom te encontrar aqui via Monica, que colocou seu texto no facebook.....como e bom ver que a familia transmite seus dons da escrita aos seus queridos filhos.....que beleza ler seu blog...parabens, que Deus ilumine suas maos para que elas enfeitem nossos olhos com palavras de fino trato que enternecem o coracao.Abraços
ResponderExcluirPuxa, mas que comentário bonito. Muito obrigado pelas suas palavras. Mas, ainda não consegui a identificação de ODONTOHUMANITAS... o perfil não abre... De qualquer forma, muito obrigado. Comente sempre que sentir vontade.
ResponderExcluirna verdade, odontohumanitas sou eu, Vinicius Mourani de Limeira!!!!Grande Abraço!!!
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