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(Baden Powell - "Rosa", de Pixinguinha e Otávio Souza)
Saí uma tarde pelas ruas de Porto Alegre e fui conhecer "a casa" do poeta Mario Quintana. Solitário, não se casou, não teve filhos. Viveu grande parte da vida em hotéis. Um deles - o Majestic - tornou-se
patrimônio histórico. Adaptado, transformou-se no "Centro Cultural
Mario Quintana". Ali, no quarto 217, o poeta viveu de 1968 a 1980.
("A Casa de Cultura Mario Quintana" - fonte: pt.wikipedia.org)
O prédio do Hotel Majestic, com
passarelas suspensas sobre a via pública, foi considerado muito ousado
para a cidade quando sua construção foi concluída nos anos 30. É muito interessante chegar ali: a sensação que me veio foi de estar entrando em uma grande galeria a ceu aberto, margeado por uma construção povoada por políticos e artistas que em outros tempos ali se hospedaram: Getúlio Vargas, João Goulart, Vicente Celestino...
Logo no hall de entrada há uma miniatura do poeta com um convite talhado em pedra:
"Olá, sejam bem-vindos. Visitem meu quarto no 2º andar de minha casa" - diz o convite.
(Lígia e eu na entrada do Centro Cultural MQ - fonte: arq. pessoal)
Logo no hall de entrada há uma miniatura do poeta com um convite talhado em pedra:
"Olá, sejam bem-vindos. Visitem meu quarto no 2º andar de minha casa" - diz o convite.
Subi pelo elevador e fui ao 217.
De uma antessala, por uma parede de vidro que o protege, passei os olhos
pelo quarto: um pequeno cômodo escuro mobiliado com cama de solteiro,
poltrona, abajures e escrivaninha. Pelas paredes e sobre os móveis estão
alguns posteres, livros e uma máquina de escrever. Tudo muito simples, tudo muito rico em afetividade... Senti vontade de entrar, de me sentar na poltrona, deslizar a mão sobre os
objetos, ficar quieto, ficar olhando, pensando...
("O quarto 217 do Majestic: o quarto do poeta" - foto: arq. pessoal)
"Não precisamos de muita coisa", disse-me em mensagem o quarto.
Contam (1) que, uma vez, o poeta assim se expressou a respeito de sua moradia:
"Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder minhas coisas".
Saí dali em silêncio, remontando frases do quarto descrito pelo próprio poeta em um dos seus livros (2):
"Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o ceu! Imensamente perto,
o ceu que me descansa como um seio.
Pois só o ceu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
A morte deveria ser assim:
um ceu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim..."
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(1) assisbrasil.org/joao/quintana.htm
(2) "Este quarto", do livro de poemas "Apontamentos de História Sobrenatural" (1976)
Parabéns pelo BLOG e por seus textos bem escritos. Gostei do quarto do poeta Mário Quintana, e espero fazer essa mesma visita ao hotel Majestic em breve.
ResponderExcluirLINDO ,ELIAS .PERFEITO CASAMENTO ENTRE TEXTO , POEMA E MÚSICA.
ResponderExcluirPARABÉNS AMIGO PELA ÂME DE POÈTE.
Obrigado, Adele. Fico contente em saber que gostou da postagem. Seja muito bem vinda ao blog. Um grande beijo.
ExcluirElias, você é sencivel, um verdadeiro poeta! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado por suas palavras. No entanto, não fosse a sensibilidade de quem lê, qualquer texto seria um mero amontoado de palavras.
ExcluirPrezado Elias, como é bom lermos suas postagens.Se utilizou de Baden que é um virtuoso nas cordas, do grande poeta Mario virtuoso da palavra e você tem se tornado a meu ver um virtuoso em reflexões culturais. Parabéns pela sua capacidade de levar aos amigos momentos deleitosos como esse.
ResponderExcluirObrigado Maria Ângela. De fato, por tudo o que fizeram, o Baden e o Quintana continuam sendo seres notáveis. Obrigado por suas palavras. Fico muito contente que tenha gostado.
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