(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
(Baden Powell - "Introdução ao Poema dos Olhos da Amada")
Minha amiga Ruth apresentou-me há alguns anos a um violonista - o Vicente. Eu já o conhecia, mas nem ele e nem ela sabiam disso. Por muitos anos eu o via tocar em um restaurante de um shopping center da cidade. Eu ficava parado do lado de fora olhando, ouvindo e aplaudindo. Entre uma música e outra ele às vezes me notava ali, e agradecia com um sorriso amistoso e modesto.
(" Vicente ao violão" - foto: arq. pessoal, jul/07)
Depois o restaurante fechou e eu não tive mais notícia dele. Fui revê-lo em um bar onde ele tocava, cantava e acompanhava quem quer que se dispusesse a se apresentar: bossa-nova para o início da noite, mpb para mais tarde, boleros e tangos para as altas horas. E havia nesse bar, que era na verdade uma casa, um quintal com um "farolito" em torno do qual se dispunham as mesas. Estive lá muitas vezes. Nos finais de semana, quando por lá não aparecia, pelo menos passava em frente prá ter certeza de que estava em atividade. Um dia tive notícia de que o violonista não tocava mais ali. Disseram-me que ele havia ido para outro lugar, mas não souberam precisar onde.
Anos depois, em um encontro de amigos - e a convite da Ruth que o havia localizado - o Vicente apareceu para passar uma tarde conosco. Assim ficamos mais próximos, e pude mostrar a ele meu gosto musical. Naquele dia ele nos disse que havia parado de tocar "na noite"; que estava dando aulas de violão e canto.
Anos depois, em um encontro de amigos - e a convite da Ruth que o havia localizado - o Vicente apareceu para passar uma tarde conosco. Assim ficamos mais próximos, e pude mostrar a ele meu gosto musical. Naquele dia ele nos disse que havia parado de tocar "na noite"; que estava dando aulas de violão e canto.
A Ruth, há pouco tempo, contou-me que soube que o Vicente estava tocando em uma cantina italiana, onde se ouve música, toma-se vinho e janta-se bem. Eu e a Denise pegamos o endereço e fomos logo para lá: uma casa térrea também com quintal e plantas, e o Vicente ao fundo, apertado, quase escondido atrás de um pilar. Ao me ver entrar cumprimentou-me com o mesmo sorriso amistoso e modesto, e foi logo dizendo ao microfone - "dessa você me falou que gosta". E presenteou-me com a "Introdução ao Poema dos Olhos da Amada" em violão solo.
De fato, gosto muito. O "Poema dos Olhos da Amada" é belíssimo. Costumo ouvir com muita frequência, no violão do Baden, a "Introdução" a esse poema. Ouvi-lo naquela noite e naquele lugar foi como fechar os olhos e pensar na minha pátria estando distante dela. Pedi para o Vicente repetir. Repetiu. No final da noite, ao me ver levantar para ir embora, despediu-se oferecendo-me a mesma música, pela terceira vez.
De fato, gosto muito. O "Poema dos Olhos da Amada" é belíssimo. Costumo ouvir com muita frequência, no violão do Baden, a "Introdução" a esse poema. Ouvi-lo naquela noite e naquele lugar foi como fechar os olhos e pensar na minha pátria estando distante dela. Pedi para o Vicente repetir. Repetiu. No final da noite, ao me ver levantar para ir embora, despediu-se oferecendo-me a mesma música, pela terceira vez.
Tenho ído com frequência naquela cantina para ouvir o Vicente. Lá sou sempre recebido com o mesmo presente: a "Introdução ao Poema dos Olhos da Amada".
(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR
O POEMA NA VOZ DO VINÍCIUS DE MORAES)
("Poema dos Olhos da Amada" - Vinícius de Moraes/Paulo Soledade)
____________________________________Poema Dos Olhos Da Amada
Oh, minha amada / Que os olhos teus / São cais noturnos / Cheios de adeus
São docas mansas / Trilhando luzes / Que brilham longe / Longe nos breus
Oh, minha amada / Que olhos os teus / Quanto mistério / Nos olhos teus
Quantos saveiros / Quantos navios / Quantos naufrágios / Nos olhos teus
Oh, minha amada / Que olhos os teus/ Se Deus houvera / Fizera-os Deus
Pois não os fizera / Quem não soubera / Que há muitas eras / Nos olhos teus
Ah, minha amada / De olhos ateus / Cria a esperança / Nos olhos meus
De verem um dia / O olhar mendigo / Da poesia / Nos olhos teus
São docas mansas / Trilhando luzes / Que brilham longe / Longe nos breus
Oh, minha amada / Que olhos os teus / Quanto mistério / Nos olhos teus
Quantos saveiros / Quantos navios / Quantos naufrágios / Nos olhos teus
Oh, minha amada / Que olhos os teus/ Se Deus houvera / Fizera-os Deus
Pois não os fizera / Quem não soubera / Que há muitas eras / Nos olhos teus
Ah, minha amada / De olhos ateus / Cria a esperança / Nos olhos meus
De verem um dia / O olhar mendigo / Da poesia / Nos olhos teus
("Psiu, ei amada... olha prá cá! Mostra o quanto seus olhos são bonitos, vivos e cheios de esperança..." - foto: arq. pessoal)
Que bonita homenagem ao Vicente você fez em vida (pela presença e pela afirmação no seu gosto pela música dele) como pelo presente texto (que já é anterior) e também à nossa querida amiga Denise.
ResponderExcluirParabéns, Elias!
Muito obrigado. O Vicente, de fato, era especial. A Denise é, e sempre será, especialíssima.
ExcluirAdoro.
ResponderExcluirEu também. Seja bem vindo ao blog. Apareça.
Excluir