quarta-feira, 30 de outubro de 2013

EVA CASSIDY


 
Eva Cassidy
fonte: http://zenekucko.blogspot.com.br/2008/04/eva-cassidy-live-at-pearls-annapolis-md.html

     Em geral a gente começa a gostar de um cantor em função de alguma música sua ter a magia de nos remeter a algum momento importante de nossas vidas. Quanto a mim, já há algum tempo, tenho sentido dificuldade em encontrar essa identidade nos novos artistas. Ando meio travado e ranzinza em matéria de descobertas. 

     No entanto minha mulher outro dia comentou em casa que um escritor mencionou em um de seus livros uma cantora norte-americana - Eva Cassidy -, e perguntou-me se eu a conhecia. 

     - "Nunca ouvi falar", respondi.

     Mas o nome ficou em minha cabeça e eu logo fui pesquisar. Encontrei uma cantora delicada, com grande expressão vocal, um jeito meio tímido, e que frequentemente acompanha-se ao violão.

(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Eva Cassidy - "Time after time" - de Cindy Lauper/Hyman)


     A primeira gravação dela que ouvi nessas pesquisas foi "Early morning rain" - música dos anos 60 eternizada pelo trio "Peter Paul and Mary". Gostei de imediato! Procurei encontrar alguma outra gravação sua e logo encontrei "Kathy's song" - maravilhosamente gravada pela dupla "Simon and Garfunkel"... e pela Eva Cassidy.

     - "Poxa, como não gostar?", perguntei a mim mesmo, desafiando a minha própria rabugice.

     A verdade é que não foi necessário mais nada. Pedi ao meu filho que providenciasse para mim, com urgência, uma coletânea da Eva Cassidy. E essa coletânea passou a ser uma constante nas seleções musicais que tenho ouvido enquanto estou no trânsito. 

     Descobri também, nessas pesquisas, que seus trabalhos se encerraram em 1993. Vítima de câncer, Eva faleceu aos 33 anos.

     Apesar disso, pelo menos para mim ela nasceu há pouco tempo. E ainda tenho muito que descobrir do trabalho que ela deixou... 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

VINÍCIUS DE MORAES, CEM ANOS

 
Se estivesse vivo, o Vinícius de Moraes estaria completando cem anos amanhã, 19 de outubro. A respeito dele muito já foi dito, escrito, lido, cantado, estudado... Eu não poderia acrescentar mais nada. 

Por isso, não me animei em fazer qualquer postagem aqui no blog à respeito dele. Ficaram comigo os meus pensamentos em relação à data. Aliás, ficariam... 

Ainda agora, começo de noite, vindo da rua e entrando no meu escritório para pegar minha bolsa e começar o final de semana, ouvi - não sei vindo de onde - os acordes da "Valsa de Eurídice".

Como não sou insensível a esses sinais, antes de sair peguei na estante um dos livros do Vinícius, abri-o em uma página qualquer, e li para mim mesmo em voz alta o primeiro poema que encontrei: "A Terra". Seria minha singela homenagem a ele... 

II - A TERRA*


Um dia, estando nós em verdes prados 
Eu e a Amada, a vagar, gozando a brisa 
Ei-la que me detém nos meus agrados 
E abaixa-se, e olha a terra, e a analisa 

Com face cauta e olhos dissimulados 
E, mais, me esquece; e, mais, se interioriza 
Como se os beijos meus fossem mal dados 
E a minha mão não fosse mais precisa. 

Irritado, me afasto; mas a Amada 
À minha zanga, meiga, me entretém 
Com essa astúcia que o sexo lhe deu. 

Mas eu que não sou bobo, digo nada... 
Ah, é assim... (só penso) Muito bem: 
Antes que a terra a coma, como eu.  

Caraca...! Mas esse Vinícius era danado mesmo! 

Pensando bem, é um ótimo começo para o final de semana... Como é bom ficar relendo suas coisas... 

Mas não resisto: mesmo tarde - e antes de ir embora -, abro o computador e venho homenageá-lo aqui nos seus cem anos. 

E no embalo dos versos acima, aqui vai um papo descontraído do Chico com o Toquinho. Eles comentam o que o Vinícius disse que queria de diferente em si mesmo se pudesse voltar à vida depois de sua morte...



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* De "Os Quatro Elementos" - escrito em Montevidéu em 1960

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O PROFESSOR


Professores do CENE Mal. Rondon  -entrega de diplomas anos 70
foto: postada por Marilúcia R. Caixe no facebook

"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo."
(Carlos Drummond de Andrade)


Ele entra, olha...
Alguns o percebem, outros riem;
outros, ainda, cochilam...

Ele cumprimenta, fala, pede... 
Alguns ouvem, alguns retribuem os cumprimentos com o olhar;
poucos atendem...

E com muita paciência,
sem perdê-la e sem perceber,
mesmo com a indiferença,
mesmo com as adversidades da vida, 

sua postura, sua educação, sua maturidade, sua maneira de olhar,
seu jeito respeitoso de compreender seus alunos e suas carências,
vão transmitindo em silêncio, e de forma natural, 
os valores universais que só o exemplo ensina.  



Cerimônia entrega de diplomas no CENE Mal. Rondon - anos 70
postada por Áureo no facebook


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Lulu - "To Sir, with love"
https://www.youtube.com/watch?v=EV1qmmMwc9M


To Sir With Love (Black/London)

Those school girl days
Of telling tales
And biting nails are gone
But in my mind
I know they will still live on and on
But how do you thank someone
Who has taken you from crayons to perfume
It isn't easy, but I'll try

If you wanted the sky I'd write across the sky in letters
That would soar a thousand feet high
To Sir, with love

The time has come
For closing books
And long last looks must end
And as I leave
I know that I am leaving my best friend
A friend who taught me right from wrong
And weak from strong
That's hard to learn
What, what can I give you in return?

If you wanted the moon I'd try to make a star
But I would rather you let me give my heart
To Sir, with love
Ao Mestre, Com Carinho

Aqueles dias de estudante
De contar historias
E de roer unhas, se foram
Mas em minha mente
Sei que sobreviverão para sempre, sempre
Mas como vc pode agradecer alguém
Que te tirou dos lápis de cera para o perfume
Não é fácil, mas eu vou tentar

Se você quisesse o céu, eu escreveria sobre o céu com letras
Que planariam a mil pés de altura
Ao Mestre, com carinho

Chegou a hora
De fechar os livros
E os olhares demorados devem acabar
E enquanto eu os deixo
Eu saberei que estou deixando meu melhor amigo
Um amigo que me ensinou o certo do errado
E o fraco do forte
É bastante para aprender
O que, o que eu posso lhe dar em troca?

Se você quisesse a lua eu tentaria fazer uma estrela
Mas eu gostaria que você deixasse lhe dar meu coração
Ao Mestre, com carinho


_____________________
* "To Sir, with love" (Ao mestre, com carinho) - Reino Unido/1967 - Dir. James Clavell.

 (Profª Therezinha Deise e seus alunos - Grupo Escolar de Guará)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CAMPO GRANDE E SEUS DESBRAVADORES


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(Zé do Campo e Camponês - "Campo Grande cidade morena", de Claudemir Rivarola - fonte: https://www.youtube.com/watch?v=AuXD1D3hLyQ)

Lá em Brasília, na Praça dos Três Poderes, há um belíssimo monumento em homenagem aos construtores da cidade: o Monumento aos Candangos.

Pois há também em Campo Grande, capital do Estado do Mato Grosso do Sul, um monumento de igual significado e importância que homenageia os primeiros habitantes daquela cidade. 

Projetado pelas artistas Marisa Oshiro Tibana e Neide Ono, e inaugurado em 1995, o monumento foi erguido ao lado do Horto-Florestal, bem na confluência dos córregos "Prosa" e "Segredo". Com peças fundidas em metal e  sobre uma parede vertical de granito preto, o "Monumento aos Desbravadores" é representado por um carro-de-boi - que foi o meio de locomoção utilizado pelos primeiros colonizadores da cidade, e que, portanto, vieram a ser seus primeiros habitantes.

("Monumento aos Desbravadores" - foto: arq. pessoal)

Dentre os muitos símbolos da cidade - a Morada dos Baís, o relógio da Afonso Pena, o Parque das Nações Indígenas, a Feira central -, o "Monumento aos Desbravadores" se destaca não só pelo que simboliza, mas também pelo valor artístico que traduz a genialidade humana. 

(Av. Afonso Pena, com Morada dos Baís ao fundo - foto: arq. pessoal)

Estive na praça do "Monumento aos Desbravadores" em uma tarde ensolarada, vindo do Mercado Municipal, depois de cruzar a pé o parque do Horto. Fiquei ali por um bom tempo olhando aquele trabalho e pensando nas coisas que buscava o colonizador mineiro José Antônio Pereira - aquele que primeiro chegou ali e se alojou, começando tudo do nada. Que braveza! Hoje com mais de 800 mil habitantes, e 114 anos de fundação, Campo Grande tem muitas praças, ruas e avenidas largas e bonitas - como as avenidas Afonso Pena e Mato Grosso. 

(Relógio Central, na Av. Afonso Pena - foto: arq. pessoal)

Para quem chega e vê Campo Grande do alto, (des)acomodado em uma poltrona de avião, a impressão que tem é de que a cidade surge de repente depois de muito chão desabitado a ser desbravado. Olhando a cidade, do alto, percebi que ela tem seus contornos, seu espaço bastante definido. Do alto e do nada, seus prédios, suas casas, suas ruas e suas muitas árvores vão surgindo no horizonte e tomando forma... 

Se o primeiro colonizador a chegar naquele local visse Campo Grande hoje - penso eu -, ficaria ao mesmo tempo assustado e orgulhoso por ter se alojado ali um dia, sem ter a noção de que aquele lugar seria transformado em uma bela cidade brasileira, habitada por gente de todas as raças e de todas as regiões do nosso imenso - e maravilhoso - país, inclusive mantendo uma forte relação com a cultura indígena. 

(Obra artística - "Índia Terena", na Feira Indígena da Pça Oshiro Takemori - foto: arq. pessoal)

Minha última noite ali não poderia ter sido mais emblemática do que é a simpatia de Campo Grande: fui recebido, junto com minha esposa Denise, na casa do meu primo Arnaldo e da sua esposa Eurinda - ele paulista, ela sul-mato-grossense. Ali, onde crescem no seu quintal uma jabuticabeira, uma mangueira, um pé de cravo e um de macadâmia, jantamos, bebemos, tocamos violão e falamos de fatos, pessoas e histórias que eu ainda não conhecia... e que trouxe para casa prá nunca mais esquecer.

  (Eurinda, Arnaldo e Denise, na varanda - Campo Grande, set/13 - foto: arq. pessoal)      

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O MAR DO NORTE


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("Le Plat Pays" - interpretada por Jacques Brèl)


     Tenho um imenso mapa múndi pendurado em uma das paredes do meu escritório. Passeando com o olhar pelos seus países, suas fronteiras, continentes e oceanos, detenho-me na faixa de mar que banha o Reino Unido, entre Inglaterra e Escócia de um lado, e Noruega, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Bélgica do outro. É ali o Mar do Norte.  


(Localização do Mar do Norte - FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Nseamap.gif)

     Conheci-o pelos livros de geografia. Sempre o imaginei frio, gelado, escuro, acobertado por nuvens acinzentadas, de onde assopravam ventos insuportáveis... E sempre imaginava ali em uma de suas praias melancólicas na Bélgica o Jacques Brèl, vestido de roupas quentes e escuras, olhando para a distância, em direção ao litoral da Inglaterra.

     Essa imagem me era constante toda vez que o ouvia cantar "Le Plat Pays" (escrita em 1961)... E houve um tempo nas décadas de 70 e 80 que eu o ouvia com muita frequência...

     Revi essa imagem, depois de muitos anos, quando conheci a Inglaterra. De dentro de uma van em uma noite de frio, em direção a uma cidade chamada Seahouses, nosso guia moveu a cabeça para o lado direito da rodovia e nos apresentou sem que pudéssemos vê-lo: 

     - "On your rightside, the North Sea".  (à direita, o Mar do Norte).

     Através da janela da Van olhei para a escuridão à minha direita, e pensei no Mar do Norte que o Jacques Brèl menciona em um trecho de "Le Plat Pays". 

Com o Mar do Norte como último terreno baldio, 
e com as ondas de dunas para conter as ondas, 
e os vagos rochedos que as marés galgam 
e que têm para sempre o coração na maré baixa... 
Com um nunca acabar de brumas a chegar, 
trazidas pelo vento do oeste, escutem-no resistir, 
este país plano que é o meu...

     Nessa música ele - o Brèl - descreve a terra do seu país - a Bélgica -, e como ela reage a cada um dos quatro ventos. 

     Passei aquela minha primeira noite em uma casa de campo, à beira mar, tentando me interagir com as manifestações do Mar do Norte, ouvindo (sem vê-lo) suas vozes e suas ondas... 

(Budle Hall - a primeira noite com o Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)

     Quando alguns dias depois olhei de frente o Mar do Norte, e deslizei minhas mãos pelas suas águas, senti meu corpo todo estremecer não só de frio mas também de emoção...  


(Holy Island of Lindisfarne - ao fundo, o Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)


(As pedras do Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)

     Pelas águas daquele mar, no lado oposto ao da Bélgica do Brèl - e bem mais ao Norte -, senti o sopro do vento trazê-lo - o próprio Brèl - por intermédio de uma música, para estar ali ao meu lado falando-me de seu país...

     - "Le plat pays qui est le mien..." (o país plano que é o meu) - pensava.

     Curvei-me diante do Mar. E ao acariciar suas águas, uma pedra leve e acinzentada, dentre tantas, desgastada pelo tempo, veio às minhas mãos... Não senti vontade de devolvê-la ao mar. Segurei-a em minhas mãos até que ela secasse; e guardei-a no bolso de meu blusão para trazê-la comigo, em minha mala. 

     Hoje essa pedra está em uma das estantes do meu escritório. Ali eu a guardo como um presente que me foi enviado pelo Jacques Brèl, e que me foi trazida pelas águas frias do Mar do Norte...

(A pedra que me foi dada pelo Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

OSCAR CASTRO-NEVES

"Nós - 'As Baianinhas' - e o 'Conjunto Castro-Neves' nos juntamos prá fazer esse showzinho prá vocês. Se Vocês gostaram, 'até a próxima vez!'; pois, se vocês gostaram, nós também gostamos do vocês!"

     Era assim que terminava o antológico disco "Vinícius & Caymmi no Zum Zum", de 1965. Nesse finalzinho, "As Baianinhas" são o grupo que viria a ser o maravilhoso "Quarteto em Cy"; e o "Conjunto Castro-Neves", um grupo musical encabeçado por Oscar Castro Neves - um dos pais da Bossa Nova. 

 

     Oscar Castro-Neves apresentava-se como compositor, arranjador, produtor e instrumentista - e não como cantor. Foi ele quem ensaiou toda a turma de artistas para a apresentação da Bossa Nova no Carnegie Hall, nos Estados Unidos, em 1962. Depois desse show, retornando ao Brasil algumas vezes, fixou-se nos Estados Unidos - onde já era conhecido. Excursionou com vários grupos norte-americanos de jazz, e também gravou com Ella Fitzgerald, Barbra Streisand, e até Michael Jackson.  Além disso, também fez trilhas sonoras para o cinema. 

     Morreu na sexta-feira passada, 27 de setembro, aos 73 anos, em Los Angeles (Estados Unidos) - onde morava. 

     Para mim, especificamente, ao contrário do que seria um desaparecimento, sua morte passa a ser uma ressurreição. Pois, se o que eu conhecia dele resumia-se à sua participação no disco "Vinicius & Caymmi no Zum Zum", acabo de ganhar do Abrahão cinco CDs de suas gravações (que ele conseguiu não sei onde - "é sempre um mistério!"). E a partir de hoje, por uns bons dias, informo a quem me lê que é o Castro-Neves quem vai tocar e cantar em muitas das minhas horas para embalar os meus dias. 

(Oscar Castro-Neves em Show no Rio em 2008 - Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,morre-oscar-castro-neves-um-dos-pais-da-bossa-nova-,1079909,0.htm)