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("Le Plat Pays" - interpretada por Jacques Brèl)
Tenho um imenso mapa múndi pendurado em uma das paredes do meu escritório. Passeando com o olhar pelos seus países, suas fronteiras, continentes e oceanos, detenho-me na faixa de mar que banha o Reino Unido, entre Inglaterra e Escócia de um lado, e Noruega, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Bélgica do outro. É ali o Mar do Norte.
(Localização do Mar do Norte - FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Nseamap.gif)
Conheci-o pelos livros de geografia. Sempre o imaginei frio, gelado, escuro, acobertado por nuvens acinzentadas, de onde assopravam ventos insuportáveis... E sempre imaginava ali em uma de suas praias melancólicas na Bélgica o Jacques Brèl, vestido de roupas quentes e escuras, olhando para a distância, em direção ao litoral da Inglaterra.
Essa imagem me era constante toda vez que o ouvia cantar "Le Plat Pays" (escrita em 1961)... E houve um tempo nas décadas de 70 e 80 que eu o ouvia com muita frequência...
Revi essa imagem, depois de muitos anos, quando conheci a Inglaterra. De dentro de uma van em uma noite de frio, em direção a uma cidade chamada Seahouses, nosso guia moveu a cabeça para o lado direito da rodovia e nos apresentou sem que pudéssemos vê-lo:
- "On your rightside, the North Sea". (à direita, o Mar do Norte).
Através da janela da Van olhei para a escuridão à minha direita, e pensei no Mar do Norte que o Jacques Brèl menciona em um trecho de "Le Plat Pays".
Com o Mar do Norte como último terreno
baldio,
e com as ondas de dunas para conter as ondas,
e os vagos
rochedos que as marés galgam
e que têm para sempre o coração na maré
baixa...
Com um nunca acabar de brumas a chegar,
trazidas pelo vento
do oeste, escutem-no resistir,
este país plano que é o meu...
Nessa música ele - o Brèl - descreve a terra do seu país - a Bélgica -, e como ela reage a cada um dos quatro ventos.
Passei aquela minha primeira noite em uma casa de campo, à beira mar, tentando me interagir com as manifestações do Mar do Norte, ouvindo (sem vê-lo) suas vozes e suas ondas...
(Budle Hall - a primeira noite com o Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)
Quando alguns dias depois olhei de frente o Mar do Norte, e deslizei minhas mãos pelas suas águas, senti meu corpo todo estremecer não só de frio mas também de emoção...
(Holy Island of Lindisfarne - ao fundo, o Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)
Pelas águas daquele mar, no lado oposto ao da Bélgica do Brèl - e bem mais ao Norte -, senti o sopro do vento trazê-lo - o próprio Brèl - por intermédio de uma música, para estar ali ao meu lado falando-me de seu país...
- "Le plat pays qui est le mien..." (o país plano que é o meu) - pensava.
Curvei-me diante do Mar. E ao acariciar suas águas, uma pedra leve e acinzentada, dentre tantas, desgastada pelo tempo, veio às minhas mãos... Não senti vontade de devolvê-la ao mar. Segurei-a em minhas mãos até que ela secasse; e guardei-a no bolso de meu blusão para trazê-la comigo, em minha mala.
Hoje essa pedra está em uma das estantes do meu escritório. Ali eu a guardo como um presente que me foi enviado pelo Jacques Brèl, e que me foi trazida pelas águas frias do Mar do Norte...
Hoje essa pedra está em uma das estantes do meu escritório. Ali eu a guardo como um presente que me foi enviado pelo Jacques Brèl, e que me foi trazida pelas águas frias do Mar do Norte...
(A pedra que me foi dada pelo Mar do Norte - fonte: arq. pessoal)
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