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(Vital Farias - Canção em dois tempos - 1978)
Manhã de segunda-feira. A foto de uma casa me fez visitar outras casas... Algumas que conheci, outras que apenas vi... outras ainda que somente pude imaginar.
A foto me fez lembrar "Terra dos homens"*, do Antoine de Saint-Exupéry.
Fui à minha estante, localizei o livro, folheei... Em uma determinada passagem ele conta que, aviador, entra em uma casa onde passaria a noite. E, entrando, procura desvendar os mistérios nela contidos:
Ele fala dos limites da casa...
Fui à minha estante, localizei o livro, folheei... Em uma determinada passagem ele conta que, aviador, entra em uma casa onde passaria a noite. E, entrando, procura desvendar os mistérios nela contidos:
Foto em https://www.panoramio.com/photo/99816624
Ele fala dos limites da casa...
"O muro de um jardim de nossa casa pode encerrar mais segredos que as muralhas da China (...)"
... da impressão geral...
"Ali estava tudo descuidado, adoravelmente em ruínas qual uma velha árvore coberta de musgo que a velhice alquebrou."
... dos detalhes internos...
... da impressão geral...
"Ali estava tudo descuidado, adoravelmente em ruínas qual uma velha árvore coberta de musgo que a velhice alquebrou."
... dos detalhes internos...
"A sala de visitas tinha uma fisionomia extraordinariamente intensa, como a de uma velha cheia de rugas. Rachas das paredes, rasgões do forro, tudo isso eu admirava, e, acima de tudo, o assoalho que afundava aqui e oscilava mais adiante, como ponte mal segura, mas sempre envernizado, polido, lustroso. Estranha casa que não sugeria nenhuma negligência, nenhuma displicência, e sim um extraordinário respeito. Cada ano juntava, sem dúvida, alguma coisa ao seu encanto, à complexidade de sua fisionomia, ao fervor de sua atmosfera amiga e também aos perigos da viagem que era preciso fazer para ir da sala de visitas à sala de jantar."
Faz perguntas, a si mesmo, a respeito da finitude das coisas, das transformações a que são submetidas, do aspecto prático da vida...
Faz perguntas, a si mesmo, a respeito da finitude das coisas, das transformações a que são submetidas, do aspecto prático da vida...
"(...) o que aconteceria se uma turma de pedreiros, carpinteiros, marceneiros e estucadores viesse trazer para aquele passado seus instrumentos sacrílegos? Eles fariam em oito dias uma outra casa, uma casa desconhecida onde os antigos donos se sentiriam como visitas. Uma casa sem mistérios, sem recantos, sem alçapões sob nossos pés, sem masmorras ocultas - uma espécie de salão de prefeitura..."
Ele se mantém atento às histórias que ninguém contou; pensa nas possíveis velharias guardadas...
Ele se mantém atento às histórias que ninguém contou; pensa nas possíveis velharias guardadas...
"(...) já se adivinhava ali que bastava abrir um armário qualquer para que aparecessem maços de cartas amareladas, maços de recibos do bisavô, e chaves em maior número que todas as fechaduras da casa, chaves das quais nem uma, com certeza, serviria em fechadura nenhuma..."
... e traduz uma certa cumplicidade com o que só se pode sentir...
... e traduz uma certa cumplicidade com o que só se pode sentir...
"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo."
Quem, de onde quer que esteja, não consegue carregar em si uma casa onde estão guardadas todas as suas visões afetivas? Uma casa qualquer, marcas de mãos nas paredes, sinais de vida...? E quem, com essa acervo tão rico de sinais, não sofre ao pensar no seu inexorável desaparecimento do mundo real?
Pela foto e pelo texto do Exupéry, gosto de imaginar que há sempre algo além... que vale a pena buscar, nas coisas, o que nelas se esconde... que é possível, para quem crê, dialogar com fantasmas...
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*SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. Terra dos homens. Tradução de Rubem Braga. 28ª ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
Quem, de onde quer que esteja, não consegue carregar em si uma casa onde estão guardadas todas as suas visões afetivas? Uma casa qualquer, marcas de mãos nas paredes, sinais de vida...? E quem, com essa acervo tão rico de sinais, não sofre ao pensar no seu inexorável desaparecimento do mundo real?
Pela foto e pelo texto do Exupéry, gosto de imaginar que há sempre algo além... que vale a pena buscar, nas coisas, o que nelas se esconde... que é possível, para quem crê, dialogar com fantasmas...
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*SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. Terra dos homens. Tradução de Rubem Braga. 28ª ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira,