Nesses dias que antecedem o Natal e o Ano Novo não só eu, mas todos nós, recebemos muitas mensagens. Fico muito contente e sensibilizado com cada uma delas, e sinto-me endividado com cada pessoa que me lembra de mim e me envia algumas palavras. Tento retribuir o carinho, dizer do quanto elas me fazem bem; mas nem sempre consigo ir além da intenção. E, por tal motivo, carrego uma baita dívida de afetos com uma porção de gente - que tento compensar nos meus gestos ao longo do ano.
Mas mesmo que procure uma forma, não sei como retribuir palavras que me são enviadas por uma pessoa jurídica - uma firma comercial - de forma impessoal e impressa - inclusive na assinatura (quando assinadas). Não consigo detectar nelas nenhum afeto sincero, posto que não há ali pessoalidade alguma.
Fico me imaginando na fila de uma agência bancária, por exemplo, aguardando pacientemente minha vez de falar com o gerente (ou a gerente) da minha conta (que eu sinceramente não sei quem é) para poder manifestar meu agradecimento e retribuir o abraço enviado e os votos de feliz Natal. Imagino que aguardaria na fila por muitos minutos até poder ser atendido. E, chegada a minha vez, eu o ouviria me desejar bom dia. Retribuindo o "bom dia", eu logo começaria por me apresentar:
- "Meu nome é Elias; e sou cliente desta agência".
Na sequência, sem esperar o término de minhas explicações iniciais, e para poder certificar-se da veracidade delas, certamente ele me perguntaria se tratava-se de conta-corrente ou poupança - e qual seria o número.
E depois de verificar pelo computador a idoneidade de minhas primeiras informações, do outro lado da mesa ele me dirigiria um olhar interrogativo buscando saber o motivo de eu o estar procurando. Eu diria com franqueza que havia recebido um Cartão de Natal de sua empresa, e que, por não saber quem havia se lembrado de mim ali, como gesto de agradecimento, queria retribuir o abraço que me havia sido enviado por intermédio dele.
Imagino que o gerente não conseguiria deixar de ser protocolar ao me agradecer. E continuaria aguardando, desconfiado, que eu entrasse logo no assunto de minha visita. Percebendo suas mensagens gestuais, eu diria que não estava ali para falar de dinheiro; que a visita devia-se simplesmente ao desejo de retribuir o abraço de Feliz Natal. E, já me levantando da cadeira, solicitaria a ele que também fizesse o mesmo para que pudéssemos nos abraçar em sinal da harmonia e da paz pregadas pelo aniversariante de 24 de dezembro.
Imagino que o gerente não conseguiria deixar de ser protocolar ao me agradecer. E continuaria aguardando, desconfiado, que eu entrasse logo no assunto de minha visita. Percebendo suas mensagens gestuais, eu diria que não estava ali para falar de dinheiro; que a visita devia-se simplesmente ao desejo de retribuir o abraço de Feliz Natal. E, já me levantando da cadeira, solicitaria a ele que também fizesse o mesmo para que pudéssemos nos abraçar em sinal da harmonia e da paz pregadas pelo aniversariante de 24 de dezembro.
O que será que aconteceria? Será que eu seria atendido?, será que eu seria encaminhado para um outro departamento onde haveria alguém com a função única de receber de clientes abraços em retribuição?, ou será que eu seria tratado como um imbecil diante da enorme fila de pessoas afobadas para falar com o gerente?
- "Não sei; ou quase sei..."
Quando uma mensagem de Natal ou Ano novo nos é enviada por uma pessoa jurídica, não é o homem sensibilizado e dotado de sentimentos que age: é um ente fictício que o faz por intermédio de uma lista de clientes. E nós, os clientes de número xis ou ípsolon - os destinatários - somos simplesmente mais um. Por tal motivo, as palavras impressas em cartões enviados por pessoas jurídicas, ao contrário de estarem envoltos em honestidade, chegam carregados de motivações comerciais e padecem de afeto sincero. Mensagens assim acabam por ser apenas um ato de publicidade, de interesse, para que a marca e o nome da empresa vençam as concorrentes mantendo o consumidor para o ano seguinte.
Tomado por esses raciocínios caóticos, a verdade é que creio que toda mensagem em Cartão de Natal e Ano Novo deveria ser pessoal, com destinatário específico - e de preferência manuscrita. Pelo menos a assinatura! Mesmo que fosse enviada com atraso.
Quando penso essas tolices fico achando que Deus - que está em toda parte - fica sentado no sofá da sala de casa olhando para mim e, com um sorriso de sabedoria, chacoalhando a cabeça da esquerda para a direita, tenta fazer com que eu deixe de escrever besteiras; que ele já nem liga mais para o uso e abuso mercadológico e comercial que tem sido feito em seu nome e em nome de seu filho.
Quando penso essas tolices fico achando que Deus - que está em toda parte - fica sentado no sofá da sala de casa olhando para mim e, com um sorriso de sabedoria, chacoalhando a cabeça da esquerda para a direita, tenta fazer com que eu deixe de escrever besteiras; que ele já nem liga mais para o uso e abuso mercadológico e comercial que tem sido feito em seu nome e em nome de seu filho.
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