"Não tire da minha boca esse beijo,
nunca confunda carinho e desejo,
beba comigo a gota de sangue final".
(Ângela Ro Ro)
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(Pink Floyd - "Don't leave me now" - trecho do filme "The Wall")
https://www.youtube.com/watch?v=NDNnvxoPPJg
O que houve, coração? Cansaste? Estiveste tão distante. Para onde foste? Porque me abandonaste? Fiquei aqui, nessa sala fria, deitada, meu calor minguando... Por algumas frações de segundo estiveste afastado de mim. Ao meu lado, à medida que meu cansaço aumentava, algumas vozes desesperadas iam perdendo a intensidade. Onde estiveste quando te procurei? Onde estiveste, coração, naquela hora?
Na sua ausência, uma pressão compassada, forte e desesperada, tomou conta do meu peito, trazendo-me a sensação de que alguém te procurava. Sem sentir o seu ritmo, coração, não tendo o que dizer, permaneci calada. Eu nada sabia informar a seu respeito.
Porém, aos poucos percebi que voltaste. Teria sido por compaixão? Por indecisão? Atendeste ao chamado daquelas mãos que me pressionavam. Passei a ouvir novamente, ao meu redor, aquelas vozes que sugeriam, naquele momento, alívio com o seu retorno.
Eu, porém, depois de um breve espasmo, permaneci calada, imóvel. Senti-me fraca e desamparada com a sua ausência. Enfraquecida, nada mais conseguia elaborar, a não ser perguntar calada, a mim mesma, para onde tinhas ido, porque havias desistido de mim.
Por muitos anos suportaste comigo toda sorte de sentimentos. Seu ritmo, incansável e companheiro, sempre fora determinante em todos os meus passos. Eu, porém, nunca havia me dado conta de que estavas ali, fiel e companheiro, e que também necessitavas de minha atenção...
Egoísta, creio não ter te tratado com a intensidade de carinho que tu necessitavas. Creio que muitas vezes abusei de ti, exigi em excesso, e te causei desgosto. Fiz com que sofresses por pequenos rancores, por tolas ilusões e questões insignificantes. Porém, nunca poderia imaginar que assim, de repente, sem qualquer advertência prévia, pudesses desistir de mim, me deixar tão fria e só.
Nunca mais me abandones, coração. Haverá um dia em que seu cansaço vai me fazer compreender que precisas partir. Porém, ainda é muito cedo, ainda há muito o que fazer. Preciso da sua companhia, da sua alegria, do seu ritmo quente, compassado e constante. Não me deixes, não me abandones... Fique comigo até que nos sintamos cansados juntos, até cairmos exaustos de vida, até que nossos anseios sejam todos eles consumados.
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*Considerações hipotéticas em relação aos pensamentos de uma jovem amiga que, enquanto submetida a um procedimento cirúrgico de baixo risco, sofreu uma parada cardíaca (e hoje, recuperada, do outro lado da tela, com um copo de uísque em uma das mãos e um cigarro na outra, saudou-me com um sorriso no rosto).
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