Minha intenção é publicar aqui as coisas que leio, vejo, penso ou observo, e que me fazem sentir que acrescentam. Afinal, as coisas só se tornam inteiramente bonitas quando podem ser compartilhadas e se mostram repletas de significados comuns.
domingo, 25 de fevereiro de 2024
VIVA O POVO BRASILEIRO
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
O JEEP QUE NUNCA TIVE
- "Essa é uma das muitas histórias que acontecem comigo..."
Pois seria tudo assim, como assim era quando, ainda menino, vi o primeiro Jeep* Willys CJ-2A, sem capotas. Seu proprietário era o Sr. Kaisã**, um imigrante japonês que passava seus dias em uma oficina mecânica da cidade. Eu gostava de ir àquela oficina para poder ouvi-lo conversar e contar histórias. Ele me falava de seu Jeep e de todos os reparos que havia feito nele... que com muitos amigos amontoados em seus bancos, ia às suas pescarias no Sapucaí. Eu admirava o Sr. Kaisã por cuidar tão bem do seu Jeep, e, influenciado por ele, eu sonhava ser mecânico e ter, quando pudesse, um Jeep tão velho, mas tão bem (des)cuidado quanto o dele.
Havia na cidade, também, os Jeeps do Sr. Chico Barbeiro, do Sr. Vasco e do Sr. Nenzinho - este, curiosamente, proprietário de uma oficina de bicicletas, que fazia experimentos mecânicos para serem mostrados orgulhosamente em passeios pelas ruas da cidade (de uma bicicleta de quatro pedais eu nunca me esqueço). Depois, também, o Jeep do Sr. Pedro. Mas o Jeep pelo qual eu tinha um encanto especial era, sem dúvida, o Jeep do Sr. kaisã.
Pois aconteceu hoje, enquanto eu subia a Rua São José. Vi um Jeep Willys amarelo, sem capotas, estacionado na esquina da Avenida Itatiaia. Ao vê-lo, revi, em minhas lembranças, o Sr. Kaisã e o "jeepinho" que sempre quis ter. Dei a volta no quarteirão e parei para poder fotografá-lo.
A imagem de um carro assim, prático, sem capotas, significava para mim juventude, informalidade e liberdade. Eu acreditava que meus amigos e minhas amigas estariam sempre dispostos a passear no Jeep que um dia eu iria ter; que, nos bancos do meu Jeep, sorriríamos muito enquanto estivéssemos acenando na direção daqueles que nos vissem passar... Se, eventualmente, ocorresse alguma quebra no veículo, eu prontamente desceria da condução do volante e, na condição de um herói estudante de engenharia mecânica, em poucos minutos efetuaria o reparo. Assim, troca de pneus, regulagem de carburador, limpeza de filtro, vazamento de óleo, fosse o que fosse, eu seria o mecânico que dava um jeito em tudo.
Mas, ao final daquela minha parada para fotografar o Jeep, ao agradecer ao proprietário por ter tido paciência de me ouvir, eu contei a ele que nada do que eu sonhara tornou-se realidade, que tudo ficou adormecido em sonho.
Graduei-me engenheiro mecânico e trabalhei em fábrica por algum tempo. Mas não gosto nem um pouco de fazer reparos em máquinas e equipamentos - muito menos em automóveis. Nunca tive um Jeep. Duas ou três vezes, forçado, troquei pneu furado. Hoje, quando estou dirigindo, mantenho fechadas todas as janelas do carro... e fico ouvindo música, tentando desvendar "a alma encantadora das ruas"***... e vou observando árvores, imóveis com personalidade, e muitos transeuntes que, nessa "vida vertiginosa"****, seguem desatentos ao seu entorno...
________________________________
* Jeep - Essa palavra é a forma que soa, em português, a denominação abreviada pelas iniciais GP ("General Purpose"), que foi dada ao veículo militar da montadora norte-americana Willys Overland. Os Jeeps foram muito utilizados pelos militares norte-americanos na Segunda Guerra Mundial.
**Paulo Onodera, conhecido como Sr. Kaisã.
***título de livro publicado por João do Rio, em 1908
****título de livro publicado por João do Rio em 1911, originalmente.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
EU E O NIEMEYER, AO SABOR DAS CURVAS
Hoje fui à praia. Entrei na água e fiquei brincando sob o sol, ao sabor das ondas.
clique na seta para ouvir
Mas foi na areia, sentado à sombra de um guarda-sol, que fiquei observando os traços feitos pelo Criador: "quanta beleza!; e que perfeição!" Dei-me conta, inclusive, de que Ele não se esqueceu de cuidar da arquitetura: abençoou o Niemeyer, que traçou muitas linhas inspiradas nas curvas e no relevo da mulher. "Ele [o Niemeyer] admirava a beleza e o corpo feminino. A mulher o inspirava" - conta seu ex-aluno e, depois colaborador, Salviano Guimarães*. O próprio Niemeyer, em "Poema da Curva", assim se explica:
POEMA DA CURVA
Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura, inflexível,
criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e
sensual. A curva que encontro nas
montanhas do meu país, no curso sinuoso
dos seus rios, nas nuvens do céu, no
corpo
da mulher amada.
De curvas é feito todo o Universo.
O Universo curvo de Einstein.
Só sei que ao final do dia, já sob o luar, saí vagando pela orla à procura de um recanto pacífico onde eu pudesse fecundar o pensamento com taças de vinho, e ficar sonhando com o paraíso e com as deidades que um dia zanzaram pelo Olimpo.
Praia de Camburi, município de São Sebastião/SP,
29/dezembro/2023
__________________________________________
*Globo.com - 06/12/12 - https://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/12/mulher-brasileira-o-inspirava-diz-arquiteto-que-trabalhou-com-niemeyer.html