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("Django")
("Django")
No ano de 1967 foi exibido no único cinema de Guará um filme que marcou época. Um baita faroeste: "Django" [1]. O filme trazia a história de um homem que queria
vingar a morte de sua amada. Na expectativa de encontrar os assassinos para cumprir
o seu propósito, ele vagava pelos vilarejos arrastando um caixão, dentro do qual
– isso só se descobre no final - carregava uma metralhadora. Para os meninos da
minha idade de então o bom era ver o tiroteio na tela. De bom também havia a
música-tema do filme [2], que combinava perfeitamente com a ideia de vingança.
Eu e meus amigos gostávamos de nos reunir nos intervalos das aulas do ginásio ou a qualquer tempo nos bancos da praça, para comentar as cenas do filme e falar da música-tema. Nas festas de aniversário daquele ano e nas rodinhas de amigos o assunto era um só: “Django”.
Eu e meus amigos gostávamos de nos reunir nos intervalos das aulas do ginásio ou a qualquer tempo nos bancos da praça, para comentar as cenas do filme e falar da música-tema. Nas festas de aniversário daquele ano e nas rodinhas de amigos o assunto era um só: “Django”.
(Fonte: http://lounge.obviousmag.org/distracao_planejada/2012/09/breve-historia-filmes-westen.html)
Em uma
dessas festas alguém apareceu com um compacto [3] da música-tema gravada em italiano na voz de
Roberto Fia. A partir daí só dava “Django” na vitrola. Quando os convidados começaram a abrir espaço na sala para poderem dançar,
a expectativa era uma só: “quem vai dançar com quem?” O simples fato de dançar
com alguém naquela época já significava a existência de algum compromisso amoroso, que
serviria de tema para outras rodas de conversa.
Formados os pares no meio da sala, eu, tímido, me encolhi em um canto. Em um determinado momento fechou-se uma roda ao meu redor , na tentativa de me arrastarem para a dança. Ao mesmo tempo vi que um grupo de meninas formava uma outra roda em torno de uma de minhas amigas, na tentativa de que conseguissem fazer com que eu e ela dançássemos juntos. E foi uma confusão danada ao som dos tiros gravados em "Django" no vinil.
Deu que resisti. Deu que ela resistiu. Não dançamos juntos.
Me arrependi. Ainda hoje me arrependo daquele vexame.
Muito provavelmente ninguém mais se recorda disso. O tempo passou. Claro, é coisa só minha. Além da saudade que sinto, fico envergonhado ao me lembrar daquela noite. Quando penso na confusão toda no meio da sala, minha vontade continua sendo de pedir desculpas a todos os que estiveram naquela festa. Em especial, ainda sinto vontade de pedir desculpas à minha amiga.
No final da festa, depois do bolo, de pé ao lado da vitrola, um tio da aniversariante veio conversar comigo. Falando baixinho ele me disse para que eu não ficasse chateado; que um dia eu iria me lembrar com saudade daquela noite.
Percebendo naquele momento o meu desconsolo pelo vexame que eu havia dado, ele pacientemente virou o disco, colocou a mão no meu ombro e me falou olhando para o infinito:
- “Um dia você e ela vão sentir vontade de dançar juntinhos sem que ninguém os incomode..."
E, com a sala vazia, pôs para tocar “Cara Felicita” - Lado “B” do disco do “Django”.
Formados os pares no meio da sala, eu, tímido, me encolhi em um canto. Em um determinado momento fechou-se uma roda ao meu redor , na tentativa de me arrastarem para a dança. Ao mesmo tempo vi que um grupo de meninas formava uma outra roda em torno de uma de minhas amigas, na tentativa de que conseguissem fazer com que eu e ela dançássemos juntos. E foi uma confusão danada ao som dos tiros gravados em "Django" no vinil.
Deu que resisti. Deu que ela resistiu. Não dançamos juntos.
Me arrependi. Ainda hoje me arrependo daquele vexame.
Muito provavelmente ninguém mais se recorda disso. O tempo passou. Claro, é coisa só minha. Além da saudade que sinto, fico envergonhado ao me lembrar daquela noite. Quando penso na confusão toda no meio da sala, minha vontade continua sendo de pedir desculpas a todos os que estiveram naquela festa. Em especial, ainda sinto vontade de pedir desculpas à minha amiga.
No final da festa, depois do bolo, de pé ao lado da vitrola, um tio da aniversariante veio conversar comigo. Falando baixinho ele me disse para que eu não ficasse chateado; que um dia eu iria me lembrar com saudade daquela noite.
Percebendo naquele momento o meu desconsolo pelo vexame que eu havia dado, ele pacientemente virou o disco, colocou a mão no meu ombro e me falou olhando para o infinito:
- “Um dia você e ela vão sentir vontade de dançar juntinhos sem que ninguém os incomode..."
E, com a sala vazia, pôs para tocar “Cara Felicita” - Lado “B” do disco do “Django”.
("Cara Felicitá", Petula Clark - Bertini / C. Chaplin - 1967)
___________________________
[1]
“Django” – ITA/ESP, 1966. Dir.: Sergio Corbucci
[2]
“Django”, de Luis Bacalov – Roberto Fia (ver. Italiano)
[3] Compacto – disco em vinil, em geral com duas
músicas: uma de cada lado[4] “Cara felicita” - tema do filme “A Condessa de Hong Kong” (dir. Charlie Chaplin, 1967)
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