Cândido Portinari - obras e releituras
https://www.youtube.com/watch?v=kKZ-wvYHW0Y
Gauguin, Velazquez, Monet, Degas e muitos outros
estão juntos na prateleira de cima de uma das estantes do meu escritório.
Colocados capa a capa formam a coleção “Grandes Mestres”, editada em 2011 pela “Abril
S.A.” Cada um deles, a seu modo e ao seu tempo, por seus olhos, pintou e
universalizou seu mundo. São vinte e cinco “Mestres” que passam seus dias aqui
comigo. Gosto de pensar que eles, numa infinita paciência e por intermédio de
suas obras, estão sempre dispostos a dialogar comigo.
Ainda agora, “Degas” na mão, e refletindo sobre
sua mensagem para a construção do Homem, levantei a cabeça e fixei o olhar em
um pequeno quadro do Vinícius de Moraes, pintado pelo Portinari, e que está pendurado em
uma das paredes do meu escritório. Olhando o quadro fiquei com a impressão de
que o Portinari estava manifestando, por intermédio de mim, um desejo seu de
também participar da minha conversa com o Degas. Desviei minha atenção então do
Degas para o Portinari, e lembrei-me do Juscelino Kubitscheck, em tamanho
natural, pintado pelo Portinari, exposto na entrada de sua biblioteca no Memorial
JK em Brasília.
Entrada da Biblioteca JK -Memorial JK, Brasília/DF -ao lado do Juscelino Kubitscheck pintado por Portinari - acervo pessoal)
Lembrei-me também dos murais “Guerra e Paz”, pintados pelo
Portinari, e que estão na sede da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque;
ouvi meu coração cantar “Un son para Portinari”*, e ainda reli
mentalmente os poemas “A Mão”, do Drummond,
“(...) A mão
cresce e pinta
O que não é
para ser pintado, mas sofrido (...)”
e “Poema para Candinho Portinari”, do Vinícius,
“Lá vai
Candinho!
Pra onde ele
vai?
Vai pra
Brodósqui
Buscar seu
pai! (...)”
- ambos escritos em homenagem ao Portinari na
ocasião de sua morte, em 1962.
(Homenagem, na Pça Cândido Portinari, do povo de Brodósqui ao seu conterrâneo - acervo pessoal)
(Praça Cândido Portinari, vista do portão de entrada da Casa de Portinari - Brodósqui, SP - aceervo pessoal)
Museu Casa de Portinari - Brodósqui, SP - acervo pessoal)
Dostoiévski dizia que “falar da própria aldeia
universaliza”. De fato. E Candinho – o Portinari -, depois de um tempo na
Europa, voltou para o Brasil. A obra dele universalizou-se e tomou vulto a partir
do momento em que ele, tomado de encantamento por sua terra, passou a pintar sua
realidade e seu país: “Menino com estilingue”, “Mestiço”, “O Lavrador de Café”,
“Retirantes”, “Algodão”, “Baile na Roça”...
("O Lavrador de Café" - Portinari, 1939)
Com esses pensamentos na cabeça eu me levantei e olhei
cara a cara para os “Grandes Mestres” enfileirados na estante. Dei-me conta de
que não havia nenhum brasileiro dentre eles. Calados, eles me observavam. Não
diziam nada...
- “Envergonhados? Apequenados por não terem
aberto espaço para o Portinari?”, “acham justo?” – perguntei a eles silenciosamente.
De imediato ouvi internamente suas vozes me respondendo
que eles não haviam sido os responsáveis pela escolha de quem deveria ou não estar
ali, que também achavam que Portinari merecia na coleção um lugar de destaque.
Compreendi.
Mas,
desconfortável ainda com a incompleta seleção de Mestres feita pelos editores,
ergui a cabeça e recoloquei o Degas na estante. Por fim, inconformado com meus
interlocutores invisíveis e materializados em papel, determinei:
- “O Portinari tem sim lugar de honra junto de
vocês. Ele está e vai ficar aí para sempre, aberto ao diálogo!”.
Em
seguida coloquei entre o Goya e o Leonardo da Vinci uma biografia do Portinari
da coleção “A Vida dos Grandes Brasileiros”, editada em 1974, e que tenho desde
a época do colégio. Aí sim, fiquei mais tranquilo...
Tendo
feito isso, em minha mente pude ver todos os Mestres se ajeitando na
estante, rendendo suas homenagens ao Portinari, e dando-lhe as boas vindas com aplausos
que só eu pude ouvir.
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*"Un son para Portinari" - de Nicolás Guillen e Horacio Salinas, gravado por Mercedes Sosa
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*"Un son para Portinari" - de Nicolás Guillen e Horacio Salinas, gravado por Mercedes Sosa
vC TEM UMA ALMA MUITO SENSÍVEL E CONSEGUE CAPTAR SONS E IMAGENS AO SEU REDOR E CONSEGUE NOS TRANSMITIR ISSO MUITO BEM. pARABENS PELO TEXTO E PELA BELA MÚSICA...
ResponderExcluirObrigado, Rose Marie. Seja sempre bem vinda ao "Ipê Amarelo".
ExcluirElias, parabéns pelo tema. Vc fez justiça ao colocar Portinari dentre os melhores artistas mundiais. Nada mais justo.
ResponderExcluirEu particularmente gosto muito de Portinari, tanto assim, que possuo em minha sala uma bela réplica de suas obras: "Pampulha - São Francisco de Assis" de 1944. Elias, e continue nos permitindo navegar nesse mar de sensibilidade que você tanto irradia. Abração.
Ah, o Portinari merece estar entre os grandes artistas de todos os tempos. Legal saber que também tem em sua sala uma réplica da "Pampulha..." por Portinari. Obrigado pelo comentário. Abraço.
ExcluirCronista d'alma fotografando verdades.
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