Eu era ainda muito jovem quando ouvi "Aranjuez mon amour" pela primeira vez. Tínhamos lá em casa um compacto simples; o cantor era Richard Anthony, em gravação de 1967.
Como a letra, escrita por Guy Bontempelli*, era em francês e eu não tinha condição de entendê-la, debruçava-me em frente à vitrola e, olhando o disco girar, as imagens se sucediam a cada vez que ouvia a música. Ao longo dos anos, a imagem que a música me inspirou foi a de uma viagem aérea... uma viagem a lugares distantes, sobrevoando países, observando de cima seus edifícios, ouvindo seus sons e sentindo o pulsar de vida existente no povo de cada lugar por onde essa viagem acontecesse... uma viagem longa e compassada...
Só depois de ter ouvido o Richard Anthony é que fui descobrir, anos mais tarde, que "Aranjuez mon amour" havia nascido do segundo movimento do "Concierto de Aranjuez", composto pelo espanhol Joaquin Rodrigo em 1939.
Minha esposa e as demais pessoas que estevam naquele grupo não entenderam nada...
- "Isso mesmo!", disse o companheiro da amiga, "foi por tudo que a cidade inspirou no Joaquin Rodrigo que ele compôs o 'Concierto de Aranjuez'".
Mesmo com tal descoberta, a viagem que sempre imagino, ao ouvir o "concierto", em nada foi alterada. Pelo contrário. Agora, ao ouvir o segundo movimento do "concierto", vejo também cavaleiros medievais, castelos, reis e rainhas sendo formados ao som do seu primeiro movimento.
E, aliando a minha viagem, no segundo movimento, com os cavaleiros medievais do primeiro (movimento), o terceiro (movimento) acrescenta a imagem desses mesmos cavaleiros, em campos floridos, empunhando as bandeiras de seus reinos, em incansáveis passeios no entorno de seus castelos.
ARANJUEZ, MON AMOUR
Mon amour, sur
l'eau des fontaines, mon amour Ou le vent les
amènent, mon amour Le soir tombé,
on voit flotter Des pétales de
roses
Mon amour et
des murs se gercent mon amour Au soleil au
vent à l'averse et aux années qui vont passant Depuis le
matin de mai qu'ils sont venus Et qu'en chantant, soudain ils ont écrit sur les murs du bout de leur fusil De bien
étranges choses
Mon amour, le
rosier suit les traces, mon amour Sur le mur et
enlace, mon amour Leurs noms
gravés et chaque été D'un beau
rouge sont les roses
Mon amour,
sèche les fontaines, mon amour Au soleil au
vent de la plaine et aux années qui vont passant Depuis le
matin de mai qu'il sont venus La fleur au
cœur, les pieds nus, le pas lent Et les yeux
éclairés d'un étrange sourire
Et sur ce mur
lorsque le soir descend On croirait
voir des taches de sang Ce ne sont que
des roses ! Aranjuez, mon
amour |
ARANJUEZ, MEU
AMOR
Meu amor,
sobre a água das fontes, meu amor Onde o vento
as levam, meu amor Ao cair da
noite, vemos flutuar Pétalas de
rosas
Meu amor e
paredes se desmancham meu amor Ao sol, ao
vento, à chuva, e aos anos que vão passando Desde a manhã
de maio que eles vieram E quando
cantando, de repente escreveram nas paredes com a ponta do seu fuzil Coisas bem
estranhas
Meu amor, a
roseira segue os seus sinais, meu amor Na parede e
abraça, meu amor Seus nomes
gravados e a cada verão De um lindo
vermelho são as rosas
Meu amor,
seque as fontes, meu amor Ao sol, ao
vento da planície, e aos anos que vão passando Desde a manhã
de maio que eles vieram A flor no
coração, pés descalços, o passo lento E os olhos
iluminados por um estranho sorriso
E nesta
parede, quando a noite cai Acreditaríamos
ver manchas de sangue São apenas
rosas Aranjuez, meu
amor |
Tudo que é belo, nascido das profundezas da beleza humana só produz e multiplica o que é belo. A criação do belo e maravilhoso no outro desabrocha ao ser tocado pelo belo... ao contrário disso é somente penumbra. Não há brilho, tampouco aroma como perfume inebriante do belo e iluminado. Desde criança ouvia Aranjuez mon amour, sonhava em tocá-la um dia, sonhei em cantá-la... passados mais de 40 anos, hoje a toco em violão e piano, consegui, e as lágrimas rolam pela minha face como que meu interior iluminado ainda na minha mocidade permanece até os dias de hoje... quando a interpreto para uma plateia seleta, os anjos de Deus.
ResponderExcluirQue bom ler isso... Obrigado.
ExcluirMaravilhosa.Não me recordava dela até ouvir num concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia,aqui em Salvador,e imediatamente a memória afetiva reconheceu,foi há alguns anos e me descobri aprisionada na minha alma por esta belíssima e envolvente canção.
ExcluirDe fato... essa é uma das grandes riquezas musicais da humanidade. Obrigado pela visita ao blog. Seja sempre bem vinda.
ExcluirOuvi essa música pela primeira vez ao som do violino de David Garrett. Tocou a minha alma!
Excluirimagino que essa sensação continue sendo a mesma, ainda hoje... Seja bem vinda ao blog. Obrigado pelo comentário.
ExcluirPara mi essa é a mais linda melodia do mundo!!!
ExcluirAmo amo amo
ExcluirGracias por posar una mirada tan entrañable sobre Aranjuez.
ResponderExcluirCon tu permiso he puesto un enlace de mi blog al tuyo.
Un saludo,
Cecilio
Muchas gracias, Cecilio, por sus palabras. Aranjuez ha sido para mi, sun nunca terla conocido, un verdadero paraiso - y todo por causa del Concierto de Aranjuez, de Joaquin Rodrigo. Un gran abrazo desde aqui de Brasil.
Excluiradorei a explicação!
ExcluirEu ouvia essa musica deitado na cama..posição fetal. Curtia uma tristeza profunda...e tinha apenas nove anos....ate hj a tenho na cabeça
ResponderExcluirParafraseando uma frase de um fado, "não se ouve "Aranjuez, mon amour" impunemente"! Obrigado pelo comentário postado. Seja sempre bem vindo ao blog.
ExcluirNunca é tarde para se descobrir o que é belo, em 2017 ao assistir um filme de terror muito ruim com telly savallas na decada de 60 ou 70 tocava essa musica fui pesquisar e descobri uma das mais belas canções que já ouvi e mais fascinado ainda ao ouvir a versão cantada pela minha favorita de todo o sempre a grande cantora DALIDA uma união mágica inesquecivel..
ResponderExcluirPois é, Mauro, mesmo nas manifestações artísticas que não nos agradam tanto, como no caso do filme, há sempre algo de bom. Claro que a iniciativa da busca depende muito de cada um. E você, tomando iniciativa de pesquisa, encontrou o belo acobertado em um filme de terror. Quanto à Dalida, marcou época... memorável a gravação de "Paroles, paroles..." que ela fez com o Alain Delon. Vale conferir. Obrigado pela visita ao blog e pelo comentário. Seja sempre bem vindo.
ExcluirEle mesmo cego aprendeu a tocar piano a partir de 4 anos de idade?
ResponderExcluirEsta revelação e reportagem sua é preciosa...parabéns Elias.
É isso aí, Salviano. Obrigado. Grande abraço.
ExcluirSalviano, realmente, maravilhoso.
Excluir"Aranjuez, Mon Amour" tem grandes interpretações instrumentais, como a de Paco de Lucia e a do nosso Dilermando Reis. As duas, inesquecíveis.
ResponderExcluirDe fato, as duas mencionadas são perfeitas. Obrigado pelo comentário. Seja sempre bem vindo/a.
ExcluirÓtimo artigo. Eloquente, fluído e amigável. Adorei!!!!
ResponderExcluirObrigado, Ana. Seja sempre bem vinda ao blog.
ExcluirSempre ouvi o Concerto de Aranjuez Adágio para mim uma música transcendental. Adoro e me faz muito bem. A música não tem barreiras. Nos eleva qdo tem qualidade.
ResponderExcluirOk. Bela história. Mas afinal o que significa aranjuez? Uma cidade espanhola nao é resposta...apenas explica a origem da inspiracao do compositor. É uma palavra de origem grega, latina, germanica, árabe, etc...que significa...acho que será aí que saberemos o seu significado. Alguém esclarece?
ResponderExcluirGrata pelos esclarecimentos. Sempre desejei saber o significado de "Aranjuez." Assisti o concerto completo, aqui em Salvador, no Teatro Castro Alves, há mais de 20 anos. Dizem que, os melhores presentes vêm em pequenas caixas, o meu,veio,de um desconhecido, sequer sei seu,nome. Um ingresso para um concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia, retribuindo-me uma gentileza.
ResponderExcluirDepois de sonata ao luar, considero a música mais bela do mundo. A lembrança, é um dos meus maiores tesouros, ladrões não roubam e nem traças ferrugem destroem. Levarei para a eternidade em minhas fotografias mentais. 🎻🎶👉👏🙏
Guacira Leda.
Obrigado, Guacira pelos seus comentários. De fato, esse segundo movimento do "Concierto de Aranjuez" é, na minha opinião, uma das maiores belezas produzidas pela genialidade humana. A "Sonata ao luar", da mesma forma, ilustram o quanto a capacidade humana pode produzir de beleza. Seja sempre bem vinda ao blog. Grande abraço.
ExcluirNão entendo de MÚSICA, mas entendo o que eu gosto em música. Isto é MÚSICA, transpõem os ouvidos, penetra na alma!
ResponderExcluirMuito bonito mesmo - e tem, de fato, todo esse poder. Seja sempre bem vindo/a ao blog.
ExcluirGosto de música com M maiúsculo.Sempre curti a música francesa e quando ouvi Richard Anthony não me esqueci mais.E nisso já se vão mais de 50 anos.Obrigado pelos detalhes musicais.
ResponderExcluirFiquei contente com sua visita ao blog, e com os seus comentários: seja sempre bem-vindo. Publiquei neste endereço de blog até o mês passado, agora mudei o endereço. Portanto minhas novas publicações passaram a ser feitas em eliasipeamarelo.blogspot.com . Visite-o.
ExcluirConcierto de Aranjuez - adagio com Miles Davis : imperdível
ResponderExcluirdisco Sketches Of Spain
Ah... que bom... falar dessa gravação... dessa música... de fato, marcante... Lindíssima!
ExcluirA letra e a popularização do segundo movimento, me fez conhecer Aranjuez..., impossível não sonhar. É como se fosse em um dos comentários "ninguém houve impunemente está musuca". Fica gravada no coração.
ResponderExcluirQuantos castelos, quantos bosques a gente visita ouvindo o "Concierto de Aranjuez"! É a mente do homem, as belezas que ela pode produzir. Nesse Concerto, entramos por inteiro no mundo de Deus...
ExcluirUm filme francês dos anos 60. A câmera passa por uma região costeira; ao fundo Aranjuez, mon amor; a cena termina mostrando um promontório e a música vai se acabando. Desde esse dia apaixonei me pela música; não sei o nome do filme
ResponderExcluirÂngela, fiquei curioso em saber o nome desse filme. Sei que o segundo movimento do Concierto de Aranjuez está em muitos filmes. Se conseguir descobrir o nome do filme, por favor, avise-me. Obrigado pelo comentário. Seja sempre bem vinda.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEssa música tocou no meu casamento,em fevereiro de 78, quando eu entrei na Igreja. Já adorava essa música e agora mais ainda com essa explicação. Agradeço à amiga Iná, que me enviou seu blog, por saber da minha história com Aranjuez.
ResponderExcluirEssa música me veio de repente na cabeça. Comecei a assobiar e daí resolvi cantarolar e assobiar no Google. Apareceram várias interpretações desde orquestradas e cantores, inclusive a portuguesa Amália. Acho que conheço essa música de algum filme. Não achei ainda qual seria esse filme. O amigo não saberia? De repente nem foi em filme que a conheci.
ResponderExcluirVivo cantarolando essa lindíssima melodia, que sempre atribuí à beleza rara e emblemática dessa acolhedora cidade; quase todas as vezes que voltei à Espanha fui visita-lá, e não sou de lá.
ResponderExcluirAo conhecer agora a história dessa lindíssima melodia, me dou conta de quanto perdemos por enxergar…
Quantas coisas maravilhosas esse Señor Joaquim desfrutou na sua longa vida, que nós, enxergando, só as desfrutamos ouvido sua música.
Magnífico. Também tenho uma visão mágica com essa canção. até pensei que havia uma estrofe na qual "uma fonte prateada conversava com as rosas". Infelizmente na sua tradução não consta isso. meu e-mail andreandrade72@gmail.com
ResponderExcluirObrigado Elias, pela oportunidade de aprender mais, afinal apesar de sempre ter ouvido pela beleza, nunca procurei informações sobre as origens da canção. Hoje assistindo TV Senado, voltei por maravilhosas lembranças.
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