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(Dexter Gordon - "As time goes by", de Herman Hupfeld, 1931)
Ao João Carlos
Foi pai, companheiro, e amigo. Depois de uma busca infrutífera aqui no Brasil, no início dos anos 80, conseguiu arrumar trabalho na Mauritânia - noroeste da África. Foi embora. Ficaram a companheira e os parentes. Prometeu voltar logo.
Não se conta como foram seus dias no país distante. Mas dois anos se passaram até que ele voltasse. Voltou. Esperavam-no os pais, a companheira, e um filho pequeno.
Não ouvi contar, tampouco, dos seus primeiros dias após o retorno. Logo em seguida foi para o sul do Chile, também a trabalho. Levou a companheira e o filho. Era visto sozinho todas as noites no sofá da sala, luzes apagadas, barba por fazer, a mesma roupa do dia todo... ouvindo jazz... adormecido de uísque.
Logo que chegou ao Chile mandou-me, por correio, com um abraço e uma pequena carta, uma fita K7. Na carta, a recomendação para que eu não deixasse de assistir o filme "Por Volta da Meia Noite"*. Na fita K7, as gravações de seus artistas preferidos. Gostava de música, em especial do sax tenor do Ben Webster, John Coltrane, Stan Getz, Dexter Gordon, Joe Henderson, Lester Young e muitos outros. Conhecia todos. Falava de cada um com muita paixão. Lembro-me de nossas conversas, do seu sorriso bom, da sua alegria de viver, dos papos sobre música; depois, das notícias do filho nos raros telefonemas que me fez. Mas, do retorno da Mauritânia em diante, não foi mais o mesmo - disseram-me os familiares.
Um dia, chegou-me a notícia: em uma estrada chilena, nos Andes Patagônicos, em alta velocidade, esborrachou-se contra um caminhão. Era ainda novo, deixou tudo. Deixou lembranças de um homem bom... e uma fita K7 com suas gravações favoritas, que ficou aqui, em uma das gavetas do meu escritório... e que ouço agora, depois de muitos anos.
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*"Round Midnight" (Por volta da meia noite) - dir. Bertrand Tavernier, 1986
Não se conta como foram seus dias no país distante. Mas dois anos se passaram até que ele voltasse. Voltou. Esperavam-no os pais, a companheira, e um filho pequeno.
Não ouvi contar, tampouco, dos seus primeiros dias após o retorno. Logo em seguida foi para o sul do Chile, também a trabalho. Levou a companheira e o filho. Era visto sozinho todas as noites no sofá da sala, luzes apagadas, barba por fazer, a mesma roupa do dia todo... ouvindo jazz... adormecido de uísque.
("Saxophonist" - Leonid Afremov
fonte: http://fineartamerica.com/featured/saxophonist-leonid-afremov.html)
fonte: http://fineartamerica.com/featured/saxophonist-leonid-afremov.html)
Logo que chegou ao Chile mandou-me, por correio, com um abraço e uma pequena carta, uma fita K7. Na carta, a recomendação para que eu não deixasse de assistir o filme "Por Volta da Meia Noite"*. Na fita K7, as gravações de seus artistas preferidos. Gostava de música, em especial do sax tenor do Ben Webster, John Coltrane, Stan Getz, Dexter Gordon, Joe Henderson, Lester Young e muitos outros. Conhecia todos. Falava de cada um com muita paixão. Lembro-me de nossas conversas, do seu sorriso bom, da sua alegria de viver, dos papos sobre música; depois, das notícias do filho nos raros telefonemas que me fez. Mas, do retorno da Mauritânia em diante, não foi mais o mesmo - disseram-me os familiares.
Um dia, chegou-me a notícia: em uma estrada chilena, nos Andes Patagônicos, em alta velocidade, esborrachou-se contra um caminhão. Era ainda novo, deixou tudo. Deixou lembranças de um homem bom... e uma fita K7 com suas gravações favoritas, que ficou aqui, em uma das gavetas do meu escritório... e que ouço agora, depois de muitos anos.
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*"Round Midnight" (Por volta da meia noite) - dir. Bertrand Tavernier, 1986
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