(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ,
E ACOMPANHAR A LETRA DEPOIS DA LEITURA)
(Aldir Blanc: "Resposta ao tempo", dele e Ronaldo Bastos)
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=fgHfzDgOwtY
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=fgHfzDgOwtY
"Ele aprisiona, eu liberto;
(...) ele adormece as paixões, eu desperto"
(em "Resposta ao Tempo")
O homem amadurecido é chamado a dialogar; é preciso tocar em questões difíceis e inevitáveis. Difíceis porque requerem introspecção, envolvem idas e vindas, perdas e ganhos, risos e dores; inevitáveis porque são próprias do amadurecimento.
O homem amadurecido ouve o interlocutor chamá-lo com austeridade.
O interlocutor e o homem amadurecido se sentam, calados.
Aldir Blanc - fonte: https://www.revistaforum.com.br/tag/aldir-blanc/
O interlocutor acha graça do silêncio e do jeito sem-jeito do homem amadurecido. O interlocutor nada diz, porém ri e zomba dos sofrimentos, angústias e choros experimentados pelo homem amadurecido.
Para o interlocutor o esquecimento é fácil, as coisas passam, são apagadas. Mas o homem amadurecido não esquece. A capacidade de não esquecer é, ao mesmo tempo, uma vantagem e uma dor para o homem amadurecido. Diferente das possibilidades do interlocutor, o homem amadurecido pode reviver. Reviver e sentir. E, sentindo, está sujeito a rir ou chorar.
O interlocutor cuida de mostrar as folhas de outono contidas no coração do homem amadurecido, e que ditam sua finitude...
O homem amadurecido relembra amores perdidos. O interlocutor sorri; ele ri dos abandonos sofridos pelo homem amadurecido. O interlocutor sabe passar, esquecer... O homem amadurecido guarda, revê, não consegue, definitivamente, fazer passar, esquecer...
O interlocutor, incapaz de rever, tem a capacidade de fazer cicatrizar, aprisionar e fazer adormecer a chama da vida; o homem amadurecido, diferente do interlocutor, pode libertar, revisitar, reacender velhas paixões...
No interlocutor, então, que passa sem sentir, é despertada a vontade de poder amar para também poder reviver... Mas o interlocutor não consegue passar pelas diversas fases pelas quais passou o homem amadurecido. O interlocutor, por ser infinito - e justamente por isso - é uma eterna criança e, como tal, desprovida do privilégio de poder amadurecer... e sentir.
*leitura que faço da música "Resposta ao Tempo", de Aldir Blanc e Ronaldo Bastos
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RESPOSTA
AO TEMPO
(Aldir Blanc/Ronaldo Bastos)
Batidas na porta da frente, é o
tempo
Eu bebo um pouquinho prá ter
argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele
ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar, e eu não sei
Num dia azul de verão sinto o
vento
Há folhas no meu coração, é o
tempo.
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar, e eu também
não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu
liberto
Que ele adormece as paixões, eu
desperto
E o tempo se rói com inveja de
mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor prá tentar
reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer
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