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(Paulo e Haroldo Tapajós -"Loura ou Morena" - de Vinícius de Moraes e Haroldo Tapajós)
"Eu amo em todas somente a mulher"
(Vinícius de Moraes)
No final da década de 20, ainda muito jovem, um rapaz cheio de vida e imaginação andava angustiado, pensando no tipo de mulher pela qual ficaria tomado de amores. Seria ela loira, "de corpo bem feito, magro e perfeito"; ou seria ela de pele morena, cabelos negros - um irresistível convite para amar? Nessa dúvida esse jovem rapaz, Vinícius de Moraes, produziu sua primeira letra musical para um foxtrote de Haroldo Tapajós: "Loura ou Morena".
"Olho as mulheres, que desespero, que desespero de amor", dizia ele na letra.
Pois foi há poucos dias. Entrei no banheiro de um restaurante e me vi tomado pelo mesmo desespero diante de uma incerteza: loira ou morena?
"Olho as mulheres, que desespero, que desespero de amor", dizia ele na letra.
Pois foi há poucos dias. Entrei no banheiro de um restaurante e me vi tomado pelo mesmo desespero diante de uma incerteza: loira ou morena?
Logo que abri a porta me senti como se estivesse chegando no paraíso. Tive opções de escolha. Antes de aliviar meus excessos de líquido fiquei parado, maravilhado, olhando para três mulheres que, em belos cartazes, me convidavam para me aproximar. Elas estavam um pouco acima das três peças sanitárias onde, reservadamente, eu deveria me postar. Fiquei na dúvida se ocuparia a peça central ou qualquer uma das laterais. Afinal, por qualquer uma que optasse, inevitavelmente a sensação seria de estar fazendo pouco caso das demais. Magoar alguma delas, naquela situação, era o que eu menos queria.
(Banheiro de um restaurante - foto: arq. pessoal)
Na primeira peça uma morena de cabelos armados, óculos escuros na ponta do nariz, ares de desejo e espanto, apoiada em um balcão, olharia atentamente para a minha intimidade que ficaria exposta; a segunda, uma loira vestida de um tomara-que-caia cor de laranja, com uma régua em mãos, iria dimensionar aquilo que, vulnerável diante das circunstâncias, também se apresentaria; e a terceira, pele clara, cabelos soltos, trajes escuros, com uma filmadora em mãos e um sorriso discreto nos lábios, filmaria o que quer que se pusesse à sua frente.
Achei genial. Por alguns segundos fiquei parado, na dúvida, sofrendo, olhando para aquelas mulheres e pensando de qual delas deveria me aproximar.
- "É a loirinha? a moreninha? Meu Deus, que horror!"
Não me lembro por qual delas optei. Mas sei que fiquei ali, em paz, fazendo o que deveria fazer, e rindo, rindo muito, sozinho.
Quando voltei para a mesa do restaurante minha mulher me aguardava. Observadora como ela é, de imediato quis saber o porquê daquele meu ar de felicidade contido em um sorrisinho juvenil. Sem pensar muito respondi a ela que havia encontrado três mulheres lindas, e que cada uma delas usava de uma estratégia diferente para que eu me aproximasse delas.
Como ela não acreditou nem um pouquinho na história que eu lhe contei, fui obrigado a voltar ao banheiro e fotografar as mulheres que vi. Precisei mostrar a foto a ela, deixar tudo muito bem esclarecido, e eliminar qualquer possibilidade de desconfiança sem causa.
Não me lembro bem o que jantei naquele restaurante, se a comida era boa ou ruim. Só sei que gostei, e que estou querendo voltar lá nem que seja só para entrar no banheiro por alguns minutos e poder sentir novamente aquela mesma terna e angustiante dúvida que senti - e que Vinícius havia sentido quando era jovem e compôs "Loura ou Morena".
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*A melhor gravação de "Loura ou Morena", a meu ver, foi feita pelo "Quarteto em Cy", e pode ser ouvida no disco "Quarteto em Cy canta Vinícius de Moraes". Esse disco está, inteiro, no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=XdRUxInzxoM
Não me lembro bem o que jantei naquele restaurante, se a comida era boa ou ruim. Só sei que gostei, e que estou querendo voltar lá nem que seja só para entrar no banheiro por alguns minutos e poder sentir novamente aquela mesma terna e angustiante dúvida que senti - e que Vinícius havia sentido quando era jovem e compôs "Loura ou Morena".
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Loura ou Morena*
(Vinícius de Moraes/Haroldo Tapajós)
Se por acaso o amor me agarrar
Quero uma loira pra namorar
Corpo bem feito, magro e perfeito
E o azul do céu no olhar
Quero também que saiba dançar
Que seja clara como o luar
Se isso se der
Posso dizer que amo uma mulher
Mas se uma loura eu não encontrar
Uma morena é o tom
Uma pequena, linda morena
Meu Deus, que bom
Uma morena era o ideal
Mas a loirinha não era mau
Cabelo louro vale um tesouro
É um tipo fenomenal
Cabelos negros têm seu lugar
Pele morena convida a amar
Que vou fazer?
Ah, eu não sei como é que vai ser
Olho as mulheres, que desespero
Que desespero de amor
É a loirinha, é a moreninha
Meu Deus, que horror!
Se da morena vou me lembrar
Logo na loura fico a pensar
Louras, morenas
Eu quero apenas a todas glorificar
Sou bem constante no amor leal
Louras, morenas, sois o ideal
Haja o que houver
Eu amo em todas somente a mulher
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*A melhor gravação de "Loura ou Morena", a meu ver, foi feita pelo "Quarteto em Cy", e pode ser ouvida no disco "Quarteto em Cy canta Vinícius de Moraes". Esse disco está, inteiro, no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=XdRUxInzxoM
MEU AMIGO COMO BUSCA COISAS DISTANTES E QUE DE QUALQUER MANEIRA NOS TOCA. TAMBÉM ME COLOQUEI DIANTE DESTAS LINDAS MULHERES. PASSARIA VERGONHA PORQUE NÃO TERIA NADA PARA MOSTRÁ-LAS. KKKKKKK.
ResponderExcluirABRAÇÃO.
Não se preocupe não, meu amigo. Em qualquer homem, mulheres assim fazem despontar um monstro das cinzas...rsss.... Grande abraço.
ExcluirMuito bom texto. Cheio de picardia.
ResponderExcluirObrigado, Saint-Clair. Grande abraço.
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