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(Eddie Vedder - "Guaranteed", do filme "Na natureza Selvagem")
Na borda inferior do mapa múndi traço um eixo horizontal - o das "abscissas", o eixo "x". Na lateral esquerda, traço o das "ordenadas" - o eixo "y", vertical. Tenho então um referencial plano de coordenadas cartesianas no qual, na minha escala, localizo as cidades. Estão todas lá, conforme previsto.
Cidades são pontos previstos e localizáveis nos mapas.
No tempo das minhas primeiras descobertas, dois eixos apenas não eram suficientes. Havia a necessidade de um terceiro eixo - o eixo "z", do plano espacial. Nessa dimensão do mapa, não havia cidades, mas espaços vazios.
Estendendo esse espaço vazio na escala que proponho, na direção do observador, consigo localizá-lo hoje no espaço - no eixo "z".
Tudo mapeado, esquadrinhado e previsto.
As pessoas, não sendo cidades localizáveis em mapas existentes no plano "xy", não podem funcionar sem a dimensão do espaço. Sei que estamos programados; que estamos funcionando em conformidade com o plano "xy" traçado, sem nos darmos conta de que o plano "z" anda meio esquecido: "caiu em desuso."
Olho para o plano "xy" do mapa. Me localizo e me vejo irreconhecível. Apesar de estar perfeitamente localizável no referencial cartesiano plano traçado, não consigo estender a linha imaginária no plano espacial para me achar.
Lembro que conheci muita gente para quem um plano apenas nunca foi e nunca será suficiente.
Ao localizar e unir pontos em um gráfico "xy" de Termodinâmica, meu amigo C deixou de lado os números programados e completou a curva traçada com as imagens da mente. Gostou mais da ideia do que do número. Seu gráfico virou um seio enorme, com um mamilo bem traçado: uma obra de arte! Entregou-a ao mestre e, zerado, se foi: virou cartunista e hoje é dono de uma livraria.
Volta e meia me lembro do C e das pessoas que se desviaram do plano "xy". Todos admiráveis.
Reconheço que é necessário sermos localizáveis e programados nos gráficos planos. Assim temos valor econômico. Mas tenho pensado muito a respeito do lugar que ocupam os seres que identificamos como viajantes não dimensionados no terceiro plano - o plano dos espaços vazios. Conseguem sobreviver com a genialidade que possuem? Há lugar para eles? São aceitos?
Penso em alguns seres fora dos gráficos planos por quem sinto admiração e ternura. Traduzem liberdade e desapego. Haverá espaço no mundo de hoje para estes seres abençoados que abrem nossos olhos e propõem? Ou o reconhecimento está na relação direta com o conteúdo econômico, e só isso conta?
Christopher* tomou as rédeas de seus impulsos e foi para o Alasca sem nenhum centavo no bolso: chegou, resistiu, não voltou.
Um plano só - o da tecnologia aliada à economia - não foi suficiente para o VM. Programado, não estava inteiro, não encontrava a felicidade... Optou pela anarquia criativa do pensamento: virou poeta.
R, meu amigo de muitos anos, precisou que o eixo do terceiro plano não tivesse escalas: ele ia além. Nunca teve rédeas. Perdeu bens sem se sentir menor com isso. Jovem, adoeceu: tornou-se referência criativa quando virou saudade.
O "Buffallo Bill", "amigo musical", plantou, criou, argumentou... Ficou só, vive sozinho em um rancho à beira do rio. Com frequência ligo para saber como ele está - e sempre terminamos o papo comentando os antigos discos do Neil Young e do Bob Dylan.
Nessas reflexões ingênuas e amorfas me procuro e me localizo no plano "xy". Com angústia observo o terceiro plano repleto de possibilidades no espaço infinito, sem nenhuma escala demarcada. Ali reside o calor da vida criativa... e é para lá que todos nós precisamos aprender a caminhar.
Cidades são pontos previstos e localizáveis nos mapas.
No tempo das minhas primeiras descobertas, dois eixos apenas não eram suficientes. Havia a necessidade de um terceiro eixo - o eixo "z", do plano espacial. Nessa dimensão do mapa, não havia cidades, mas espaços vazios.
Estendendo esse espaço vazio na escala que proponho, na direção do observador, consigo localizá-lo hoje no espaço - no eixo "z".
Tudo mapeado, esquadrinhado e previsto.
As pessoas, não sendo cidades localizáveis em mapas existentes no plano "xy", não podem funcionar sem a dimensão do espaço. Sei que estamos programados; que estamos funcionando em conformidade com o plano "xy" traçado, sem nos darmos conta de que o plano "z" anda meio esquecido: "caiu em desuso."
Olho para o plano "xy" do mapa. Me localizo e me vejo irreconhecível. Apesar de estar perfeitamente localizável no referencial cartesiano plano traçado, não consigo estender a linha imaginária no plano espacial para me achar.
Lembro que conheci muita gente para quem um plano apenas nunca foi e nunca será suficiente.
Ao localizar e unir pontos em um gráfico "xy" de Termodinâmica, meu amigo C deixou de lado os números programados e completou a curva traçada com as imagens da mente. Gostou mais da ideia do que do número. Seu gráfico virou um seio enorme, com um mamilo bem traçado: uma obra de arte! Entregou-a ao mestre e, zerado, se foi: virou cartunista e hoje é dono de uma livraria.
Volta e meia me lembro do C e das pessoas que se desviaram do plano "xy". Todos admiráveis.
Reconheço que é necessário sermos localizáveis e programados nos gráficos planos. Assim temos valor econômico. Mas tenho pensado muito a respeito do lugar que ocupam os seres que identificamos como viajantes não dimensionados no terceiro plano - o plano dos espaços vazios. Conseguem sobreviver com a genialidade que possuem? Há lugar para eles? São aceitos?
Penso em alguns seres fora dos gráficos planos por quem sinto admiração e ternura. Traduzem liberdade e desapego. Haverá espaço no mundo de hoje para estes seres abençoados que abrem nossos olhos e propõem? Ou o reconhecimento está na relação direta com o conteúdo econômico, e só isso conta?
Christopher* tomou as rédeas de seus impulsos e foi para o Alasca sem nenhum centavo no bolso: chegou, resistiu, não voltou.
(fonte: http://www.extremos.com.br/noticias/130912_como_chris_mccandless_morreu/)
Um plano só - o da tecnologia aliada à economia - não foi suficiente para o VM. Programado, não estava inteiro, não encontrava a felicidade... Optou pela anarquia criativa do pensamento: virou poeta.
R, meu amigo de muitos anos, precisou que o eixo do terceiro plano não tivesse escalas: ele ia além. Nunca teve rédeas. Perdeu bens sem se sentir menor com isso. Jovem, adoeceu: tornou-se referência criativa quando virou saudade.
O "Buffallo Bill", "amigo musical", plantou, criou, argumentou... Ficou só, vive sozinho em um rancho à beira do rio. Com frequência ligo para saber como ele está - e sempre terminamos o papo comentando os antigos discos do Neil Young e do Bob Dylan.
Nessas reflexões ingênuas e amorfas me procuro e me localizo no plano "xy". Com angústia observo o terceiro plano repleto de possibilidades no espaço infinito, sem nenhuma escala demarcada. Ali reside o calor da vida criativa... e é para lá que todos nós precisamos aprender a caminhar.
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*Christopher Mc Candless - sua história está no belíssimo filme "Na natureza selvagem" (direção Sean Penn, 2008 - título original: "Into the wild")
Caro Elias, como dizia o Pessoa, "...viver não é preciso". Podemos TENTAR traçar com o esquadro (plano XY) o rumo de nossas vidas, mas tanto na termodinâmica como na vida existe o "imponderável", que nos arrasta para o outro plano (Z talvez)e toda a precisão (Pessoa de novo) vai para o espaço...
ResponderExcluirÉ isso aí. Gostei da sua visita ao blog e do comentário postado. Obrigado. Grande abraço.
ExcluirUm texto cheio de vida e vontade de seguir em frente. A vontade que todos gostariam de revelar e concretizar.
ResponderExcluirViver a simplicidade e fazendo o que realmente gostamos e nos sentimos bem é o segredo. Parabéns!
Obrigado... em especial por postar uma leitura tão bonita do texto. Obrigado!
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